Terminámos o ano lendo mais um livro em conjunto. O título deste livro escrito por dois jornalistas é um das frases que mais me irritam. Sempre que oiço alguém dizer “isto só neste país”, tenho vontade de vociferar meia dúzia de impropérios. Cenas ridículas, corrupção, falhanço dos serviços públicos só acontecem neste país? Por que raio a malta que está sempre com esta frase na boca não emigra definitivamente para qualquer outro país onde nada destas coisas acontecem? Por que razão continuam por cá, no país em que só neste país estas coisas sucedem?
No entanto, para o livro em questão, o título assenta que nem uma luva.
Ao longo de mais de trezentas páginas, estes jornalistas contam-nos as cenas mais ou menos tristes, mais ou menos ridículas, que foram acontecendo nestes 50 anos de Democracia. E escrevo Democracia com letra grande porque antes do 25 de abril ninguém conseguiria publicar um livro destes, como é óbvio. E, a nível europeu, essa impossibilidade é que era só mesmo neste país (talvez também na Grécia…).
Das inúmeras historietas que o livro narra, muitas já as conhecia, como o poema que Natália Correia escreveu ao deputado centrista Morgado, as tiradas de Pinheiro de Azevedo ou de Alberto João Jardim e muitas outras.
Mas algumas foram verdadeiras surpresas, como os coices que o tenente-coronel Azeredo deu em direcção a Jardim ou o caso do bombeiro que foi multado em 15 contos por ter ultrapassado, em marcha de emergência, transportando uma bebé doente, a fila de carros de Estado, pondo em perigo a vida de Cavaco Silva, coitadinho…
O livro está escrito com muito humor, mas a melhor frase – na minha opinião – está na página 291. Refere-se a André Ventura e a sua religiosidade:
“«Nunca vou conseguir dissociar o meu discurso público da parte religiosa», explicou Ventura. Nota-se. Em campanha eleitoral, entre em igrejas como Marcelo entra em farmácias”.
Gostámos, aconselhamos e oferecemos aos nossos familiares.