Eu sou do tempo em que a Albânia, liderada pelo grande Enver Hodja, era o farol do socialismo na Europa e em que a Coreia do Norte, governada pelo Grande Líder, Kim Il-sung era o paradigma da democracia popular.
Sou do tempo em que pessoas hoje respeitáveis, como Durão Barroso, Ana Gomes, Pacheco Pereira ou Maria José Morgado, militavam no Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP) e acreditavam na vitória do maoismo.
Entretanto, muita coisa mudou: o farol da Albânia fundiu-se, Durão Barroso é o chefe da União Europeia, eu sou médico de família, mas a Coreia do Norte continua lá, firme, no seu delírio de grandeza.
O Grande Líder, Kim Il-sung morreu e deu lugar ao seu filho, o Querido Líder, Kim Jong-il. As paradas militares continuam a ter a mesma grandiosidade e ar ameaçador, como se ainda estivéssemos no tempo da Guerra Fria. Dizem que se continua a morrer de fome.
Mas os norte-coreanos devem estar orgulhosos: o seu governo diz que, no passado domingo, lançou para o espaço o seu primeiro satélite de comunicações, o Taepodong-2.
E o que é que o Taepodong vai comunicar?
Segundo os responsáveis norte-coreanos, o satélite está a emitir canções revolucionárias de louvor ao Grande Líder e ao Querido Líder.
Por favor: uma chuva de anti-psicóticos sobre Pyongyang. Já!
Eu também sou desse tempo, e, posicionando-me do lado esquerdo do espectro politico, naquele altura, muito esquerdo, nunca compreendi como é que pessoas inteligentes e lúcidas, conseguiam ver esses grandes educadores, e ter a lata de chamar áqueles infelizes países os farois do socialismo.
Bom, mas esses grandes revolucionários que nomeou atingiram o topo. Hoje não são já tão revolucionários, mudam-se os tempos e as vontades.
Já no tempo do Camões havia vira-casacas.