“Poses – Linguagem Corporal na Arte”, de Desmond Morris (2019)

Quando tomei conhecimento da edição deste livro, pensei que seria uma reedição de alguma obra antiga. Será que o Desmond Morris ainda é vivo?

É que um dos primeiros livros que comprei foi, exactamente O Macaco Nu, de Desmond Morris, livro publicado em 1967 e que eu comprei em 1970.

—

Claro que Desmond Morris está vivo ““ e bem vivo, pelos vistos, tendo publicado este Poses no ano passado. Nascido em Purton, Reino Unido, em 1928, Morris fará 93 anos este mês.

Poses é uma excelente edição da Bizâncio, com tradução de Maria Carvalho, capa dura, óptimo papel e reproduções irrepreensíveis.

Morris dividiu o livro em nove partes: saudações, bênçãos, estatuto, insultos, ameaças, sofrimento, autoprotecção, erótico e em descanso.

Em cada uma destas partes, mostra-nos como a arte reproduziu estas atitudes do ser humano ao longo dos tempos.

Apenas como exemplo: no capítulo insultos, podemos apreciar obras (pinturas e/ou esculturas) a fazer caretas, a deitar a língua de fora, a levar o polegar ao nariz, a fazer gestos com os dedos, gestos com as mãos, a fazer o manguito ou a mostrar as nádegas.

Ao longo das suas cerca de 300 páginas, podemos admirar obras de inúmeros autores, nomeadamente, Notticelli, Bosch, Gustave Courbet, Paul Cézanne, Dali, Paul Klee, Gustav Klimt, Manet, Matisse, etc. ““ acompanhadas pela interpretação, sempre curiosa, de Desmond Morris.

Aconselho vivamente.

Urgência intestinal

Os jornais noticiaram: a obra de arte, America, da autoria de Maurizio Cattelan foi roubada no sábado passado do Palácio de Blenheim, na Grã-Bretanha.

A peça integrava a exposição Victory Is Not An Option.

—

É preciso esclarecer que America é, no fundo, uma sanita.

Mas não é uma sanita qualquer, uma vez que é feita de oiro maciço, estando avaliada em um milhão de libras.

Não sei qual foi a intenção do artista ao criar esta sanita de oiro com o nome de America. Será que nos quis dizer, por interposta loiça sanitária, que a América, apesar de todo o seu poder e riqueza, merece que caguemos nela?

E o que terá motivado o ladrão?

Segundo as notícias, um homem de 66 anos foi detido.

Terá sido uma emergência?

O homem de 66 anos visitava a exposição quando sentiu uma revolução nos seus intestinos. Olhou em redor e não vislumbrou nenhuma casa de banho, mas, mesmo í  sua frente, uma sanita lindíssima, brilhante, lustrosa.

Aflitíssimo, o homem pegou na sanita e retirou-se para um local esconso, onde se aliviou. Depois, teve vergonha de devolver o objecto no estado em que ficou… Ainda pensou em protestar junto da organização da exposição: por que razão tinham ali uma sanita e não tinham um autoclismo?

Aqui fica uma sugestão ao artista italiano para uma futura obra…

Vagina má, vagina boa

A artista plástica japonesa Megumi Igarashi conseguiu, através do crowdfunding, realizar um projecto ousado. Fotografou a sua
japonesa-e1405680944687
vagina e enviou o resultado, por mail, para os seus financiadores, de modo a que possam fazer uma impressão em 3 D do seu pipi.

Do mesmo modo, utilizou o molde para fazer um caiaque com a forma da sua vagina, a que chamou Pussy Boat.

Na foto, vemos a artista a posar para a câmara fotográfica, em cima, o molde da sua vagina, í  esquerda e, em baixo, ela dentro da vagina, ou melhor, dentro do caiaque em forma de vagina.

Foi presa no passado fim de semana.

As autoridades japonesas acusaram-na de infringir as leis da obscenidade e pode vir a ser condenada a dois anos de prisão.

Olhando bem para a foto, temos que concordar que o caiaque da japonesa parece-se com tudo, menos com uma vagina e a foto do molde da dita parece ter o clítoris em baixo – a menos que seja assim nas japonesas…

fontesMas se a vagina de Igarashi pode ser considerada má, porque levou a sua dona í  prisão, já a vagina da Erica Fontes, só pode ser boa.

Erica é uma portuguesinha assim para o escanzelado que, certo dia, respondeu a um anúncio para entrar num filme porno, “por brincadeira”, segundo ela conta.

Desde então, foi um ver se te avias, filme atrás de filme – e digo atrás com propriedade…

A fama de Erica chegou aos States e este ano ganhou um prémio pela melhor artista porno estrangeira.

Observando as as posições que a Erica adopta nos seus inúmeros filmes, temos que concordar que ela é, também, í  sua maneira, uma artista plástica, como Igarashi.

E, no entanto, em vez de ser presa, Erica ganha prémios!

Se calhar, é porque tem o clítoris no sítio certo…

Não te posso ver nem pintado

—É este o título genérico de “um novo percurso pela Colecção Berardo”, um percurso que privilegia a “figuração na pintura destes últimos cinquenta anos”.

Podia dizer qualquer coisa deste género: como não sou especialista em arte moderna e contemporânea (nem em arte nenhuma, diga-se de passagem), não posso comentar a exposição porque posso a estar a fazer juízos errados.

Podia dizer e já disse, mas quero crer que a Exposição da Colecção Berardo não é só para especialistas.

E como não especialista, tenho que ser sincero e dizer que a coisa não me entusiasma.

Destaco o quadro do Andy Warohl (“Judy Garland”), duas obras de um tipo chamado Damien Deroubaix e uma instalação de Jakub Nepras, chamada “Babylon Plant” e que consiste na sobreposição de três vídeos.

De resto, confesso que passei pelos corredores e pelas diversas obras sem grande interesse. Já nem me choca a obra que inclui bosta de vaca envernizada.

Ainda dei uma olhadela í  exposição “Espaços Sensíveis”, da Colecção de Arte Contemporânea da Fundação “La Caixa”, mas foi só para me irritar um pouco mais.

Numa sala, passa um filme a preto e branco, aos soluços, interrompido por clarões de segundo a segundo e, antes de entrarmos na sala, um cartaz avisa que os epilépticos não devem entrar, ficando, assim, privados de contemplar aquela magnífica obra de arte. Sortudos!

Noutra sala, uma série de cubos pretos, de diversos tamanhos, banhados por uma luz amarela. Noutra ainda, um linóleo geométrico no chão e uma figura de bronze, sentada num muro.

Dispenso.