“O Assédio”, de Arturo Pérez-Reverte (2010)

assedioFoi com alguma dificuldade que li este romance histórico de Pérez-Reverte. São mais de 650 páginas de escrita densa e, por vezes, difícil de desbravar, sobretudo quando o autor decide inundar-nos de termos náuticos.

Exemplo (pág. 204):

“A enorme vela carangueja embate contra o mastro, dando balanços na marejada, com fortes puxões que fazem estremecer o pau e o casco preto da balandra. í€ popa, junto dos dois timoneiros que dirigem a cana de ferro forrado de couro, Pepe Lobo mantém a embarcação de capa, com o vento de proa a fazer ondular a bujarrona solta e com a longa retranca a oscilar sobre a sua cabeça. Até ele chega o cheiro dos bota-fogos que fumegam no costado de estibordo, junto dos quatro canhões de 6 libras que, por essa banda e sob supervisão do contramestre Brasero, apontam para a tartana imobilizada muito perto, a tiro de pistola, com as duas velas triangulares a ondular e com as escotas soltas.”

E trechos como este não faltam, ao longo do livro.

O Assédio passa-se em 1811, na cidade espanhola de Cádis, cercada pelas tropas de Napoleão. Cercada não será o termo certo, porque a cidade mantém a saída para o mar, o que lhe permite resistir por mais de três meses.

Nessa cidade sitiada, um assassino está a matar jovens mulheres, chicoteando-as até í  morte e os corpos vão aparecendo onde, momentos depois, há-de cair uma bomba francesa.

Um comissário de polícia muito pouco escrupuloso, persegue o assassino, acabando por conseguir apanhá-lo com a ajuda de um oficial inimigo.

Paralelamente, vamos conhecendo a história de Lolita Palma, dona de um empresa de exportação e do corsário Pepe Lobo, que quase vai para a cama com ela – e outras pequenas histórias laterais.

Pérez-Reverte documentou-se a valer e descreve, ao pormenor, hábitos, costumes, indumentária, móveis, publicações, e muito mais da Cádis do século 19 e, por vezes, a narrativa tem o tom de uma grande reportagem (o autor foi jornalista, nomeadamente repórter de guerra).

O Assédio é um bom romance histórico, embora pudesse ganhar mais ritmo se não fosse tão longo.

Outras obras do mesmo autor: O Pintor de Batalhas, O Hussardo, O Cemitério dos Barcos Sem Nome e A Rainha do Sul.

“O Pintor de Batalhas”, de Artur Pérez-Reverte

pintordebatalhas.jpgO segundo autor castelhano que trouxe para a nossa viagem foi o espanhol Pérez-Reverte, mas este livro não me divertiu tanto como o de Vargas Llosa.

“O Pintor de Batalhas” acaba por não ser bem uma história, mas sim uma reflexão sobre a vida, a morte, a velhice e a influência que podemos exercer na vida e na morte dos outros.

Andrés Faulques é um fotógrafo que, durante décadas se dedicou a fotografar os diversos conflitos armados, pelo mundo fora, da Somália ao Líbano, dos Balcãs aos mais diversos países africanos. Depois da morte violenta da sua companheira, também fotógrafa, ao pisar uma mina, no Kosovo, Faulques retira-se para um antigo farol, na costa mediterrânica e dedica-se a pintar um mural que represente todas as guerras da Humanidade.

Certo dia, é visitado por um ex-soldado croata, que ele fotografou em tempos; essa fotografia foi capa de revista e correu mundo. Os sérvios, ao reconhecerem o soldado, graças í  fotografia, foram a sua casa, violaram e mataram-lhe a mulher, que era sérvia, bem como o filho. Agora, o soldado queria vingar-se e anuncia que vai matar Faulques.

Este é o ponto de partida do livro; a partir daqui, Pérez-Reverte disserta sobre a vida e a morte e questiona-se sobre um certo tipo de jornalismo, que se diz independente – será possível não tomar partido, num conflito?

Um livro interessante mas um pouco lúgubre.

“O Hussardo”, de Arturo Pérez-Reverte

hussardo.jpgPí¨rez-Reverte é um escritor espanhol com algum interesse. Os seus livros “O Cemitério dos Barcos Sem Nome” (2000) e “A Rainha do Sul” (2002), são romances de aventuras bem conseguidos, cheios de peripécias, ao estilo de Alexandre Dumas. “A Tábua de Flandres” (1990), no entanto, não me pareceu tão interessante.

Muito menos este “O Hussardo”. Publicado em 1983, foi o primeiro romance de Pérez-Reverte. A edição que li é de 2004 e é uma revisão, feita pelo próprio autor e, como ele diz, numa nota introdutória, “aliviado de alguns advérbios e adjectivos desnecessários”.

Mesmo assim, pareceu-me um romance aborrecido. São páginas e páginas de descrições dos uniformes garbosos dos hussardos de Napoleão, das glórias que eles aguardam ao combater os andrajosos espanhóis e, depois, uma longa e fastidiosa descrição de uma batalha, que acaba em sangue, lama e morte.

O autor quer-nos mostrar como os jovens hussardos eram iludidos com a honra e a glória de pertencerem a um regimento tão garboso, servindo a França e o Imperador; depois, a realidade das batalhas era bem diferente, degradante e tenebrosa.

Não valia a pena escrever um livro por isto.