O homem que não nasceu duas vezes

O problema de ter boa memória é que, por vezes, lembro-me de coisas que já devia ter esquecido.

Lembro-me, por exemplo, de Cavaco Silva ter ficado muito indignado quando um candidato í  Presidência (Defensor de Moura, quem se lembra dele?) o acusou de favorecer as Câmaras do PSD.

Em resposta, Cavaco disse a célebre frase:

Para serem mais honestos do que eu, têm que nascer duas vezes“.

Ora, hoje, a primeira página do Público titula:

Cavaco pagou durante 15 anos metade do IMI que deveria ter pago“.

E acrescenta:

“A casa de Albufeira do ex-PR foi reavaliada pelas Finanças em 2015. Valor patrimonial quase duplicou face ao da caderneta predial em 2009. Os dados fornecidos per Cavaco não eram verdadeiros”.

Por este andar, Cavaco vai ter que nascer quatro vezes para ser mais honesto que ele próprio!

cavaco-casa

Cavaco ainda mexe!

Almoço de homenagem a Cavaco Silva.

Um grupo de amigos decide agradecer-lhe publicamente pelos 20 anos que esteve a tomar conta de nós, como primeiro-ministro e como presidente.

A recepção dos amigos aconteceu na cavalariça do Pestana Palace.

Na cavalariça?… compreende-se…

Entre os amigos presentes, contavam-se muitos banqueiros: Fernando Faria de Oliveira, ex-presidente da CGD e actual presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, que esteve í  frente do Novo Banco, Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do Millennium BCP, Norberto Rosa, actualmente consultor do conselho de administração do Banco de Portugal, mas ex administrador e ex-vice-presidente da comissão executiva da Caixa e ex-vice-presidente do BPN.

Compreende-se…

No final do almoço de bacalhau com batatas, Cavaco discursou.

E disse, por exemplo:

“Há muita coisa que não se sabe [da forma como exerceu a Presidência] porque tomei a decisão de manter muita coisa reservada por convicção de que essa era a melhor forma de manter o superior interesse nacional.”

Portanto, para Cavaco, o superior interesse da nação implica esconder coisas, não divulgar coisas…

O homem acha que, sem ele, Portugal tinha sido outro país – e tem toda a razão.

Convencido da sua importância na História de Portugal, acrescentou:

“…Em que outro tempo teria sido mais útil para o meu país a minha experiência como primeiro-ministro, o meu conhecimento de economia e finanças, o meu conhecimento das instituições europeias? Não consigo ver outro e portanto foi o tempo certo para ter sido Presidente da República”.

Por acaso, eu vejo outro tempo em que Cavaco podia ter sido o homem certo no lugar certo: o tempo da Outra Senhora, por exemplo.

Quem se lembra, hoje, do presidente Craveiro Lopes?

Quem se vai lembrar, daqui a 50 anos, do presidente Cavaco Silva?

Sempre convencido, Cavaco avisou que ainda tem uma palavra a dizer.

Será: “í“ Maria, já tomei as gotas hoje?”

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Da importância das vacas na política nacional

As vacas sempre ocuparam um lugar central na política nacional.

No tempo das vacas gordas, ninguém se lembra delas; vamos comendo e bebendo í  fartazana, até que se esgota a mama e as vacas emagrecem.

Depois, no tempo das vacas magras, temos saudades dos bifes e mantemo-nos a ervas.

Não somos indianos, mas a vaca, para nós, é sagrada.

No futebol, quando a bola não entra, é vaca.

A nossa colega, que se deixou engordar, passa a vaca.

Quando viajamos a meias, fazemos uma vaquinha.

A vaca está em todo o lado.

Até o nosso político mais duradouro, tem uma grande admiração pela vaca.

A começar pelo apelido, já que Cavaco tem uma sonoridade semelhante í  vaca.

E foi ele que disse, nos Açores, que tinha admirado o sorriso das vacas.

Se calhar, o homem tinha comido queijo “a vaca que ri” ao pequeno almoço e deixou-se influenciar.

Ora, se as vacas sorriem, por que não podem voar?

António Costa acredita que as vacas podem voar.

A oposição faz o trocadilho e diz que, se o António Gosta tanto vacas, passa a António Bosta.

Assunção Cristas diz que foi ministra da Agricultura e que viu muitas vacas e atesta que as vacas não voam.

Se calhar, Sãozinha, elas só voam quando estás de Costas…

Não querendo avacalhar mais o discurso, direi que uma vaca pode voar se lhe der na gana – basta querer.

E contra o querer, nada há a fazer!

Nem que a vaca tussa!

vacas

O Aníbal das medalhas

Cavaco será lembrado assim, no futuro: o Aníbal das medalhas.

A menos de um mês de se ir embora, sem pena nem paixão, ao Cavaco deu-lhe a fúria das medalhas e foi í  despensa buscar o refugo que lá tinha e desatou a condecorar í  fartazana.

Para além deste oito ex-ministros que estão na foto, Aníbal decidiu condecorar Sousa Lara!

Quem?

Para vós, gente ignorante, Sousa Lara é segundo conde de Guedes, quarto marquês de Lara, fidalgo de Cota de Armas em Portugal e Espanha e cidadão honorário do Texas (e se não acreditam, confirmem aqui…)

Lara é ainda Cavaleiro de Graça e Devoção da Ordem Soberana e Militar de Malta, comendador da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Comendador da Ordem de Isabel, a Católica, de Espanha, Grande Oficial da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro de Itália e Cavaleiro de Justiça da Ordem Constantiniana de S. Jorge da Casa das Duas Sicílias (tudo isto com maiúsculas).

E agora, graças ao Aníbal das medalhas, é também Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Claro que toda a gente o recorda como o grande subsecretário de Estado da Cultura que, em 1992, impediu que José Saramago concorresse ao Prémio Literário Europeu, com o blasfemo livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo - e em boa hora o fez: está bem que Saramago ganhou o Nobel, mas está morto e Lara está bem vivo e até foi condecorado pelo Cavaco, coisa que o Saramago nunca conseguiu!

Mas há mais razões para Lara ter sido condecorado: o homem é bacharel em Administração Ultramarina, doutor em Ciência Política, licenciado em Ciências Sociais e Política Ultramarina e em Ciências Antropológicas e Etnológicas e é ainda formado em Genealogia, Heráldica e Direito Nobiliárquico!

Com tal currículo, Cavaco não podia deixar de o condecorar.

A cereja no topo do bolo: Lara é pai do padre Duarte Sousa Lara, que recentemente declarou que a igreja católica precisa de mais exorcistas (ler aqui).

Duarte Sousa Lara disse que, hoje em dia, há mais pessoas com distúrbios espirituais, devido ao incremento da bruxaria.

Fica assim explicada a recente distribuição de condecorações por parte de Aníbal Cavaco Silva…

cavaco condecora

As condecorações de Cavaco

Cavaco tem a honra de ser o único presidente post-25 de Abril que sai de cena com avaliação negativa por parte dos eleitores.

Eanes, Soares e Sampaio saíram em alta e podem, ainda hoje, gozar do respeito por parte da maioria dos seus concidadãos.

Cavaco não.

Vai-se retirar para Boliqueime e limitar-se a gerir o negócio da gasolineira que herdou do pai.

E continua a fazer borrada atrás de borrada.

Agora, decidiu condecorar ex-ministros.

A lista é longa: Vitor Gaspar, Bagão Félix, ílvaro Santos Pereira, Luís Campos e Cunha, Paulo Macedo, Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato e Rui Pereira.

Por um lado, alguns destes ministros ainda podem muito bem vir a ficar em prisão preventiva por algum negócio que possam ter tido com o Veiga, com o Salgado ou com o Sócrates.

E por outro, pergunto: qual o critério para condecorar um ministro que esteve escassos quatro meses no activo e que se demitiu rapidamente?

Falo do Campos e Cunha, primeiro ministro das Finanças do Sócrates.

É que a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique é atribuída pelo “espírito patriótico e de serviço” no desempenho das suas funções.

Quatro meses como ministro demonstra espírito patriótico e de serviço?

í“ Cavaco, então condecora-me a mim, que sou médico do SNS há 39 anos, porra!

Coisas do Orçamento

Confirma-se que António Costa recorreu í  chantagem para conseguir que a Comissão Europeia aceitasse o Orçamento Geral do Estado.

De facto, Costa ameaçou propor o nome de Cavaco Silva para o cargo de Comissário europeu caso o Orçamento não fosse aprovado e Bruxelas não teve outro remédio senão pactuar.

Nem era mais por causa de Cavaco, mas sim por causa da Dona Maria, que gosta de meter o nariz em tudo.

No entanto, o acordo continua a não ser total.

Parece que há uma divergência de 200 milhões de euros.

Trocos.

Costa garantiu que vai conseguir tapar esse buraco de 200 milhões.

Sabe-se que há 280 portugueses que devem mais de um milhão de euros ao fisco.

Costa vai conseguir obrigar esses cidadãos a pagarem o que devem.

Como?

Recorrendo, mais uma vez, a Cavaco Silva.

Como ex-presidente, Cavaco tem direito a carro e motorista; em vez de ficar sentado no seu gabinete a criar bolor, vai fazer de cobrador de fraque.

Além de ficar entretido, fará qualquer coisa de útil e dará uma ajuda ao país.

Talvez assim consiga que o Presidente Rebelo de Sousa o condecore no 10 de Junho.

Uma campanha alérgica

Começou a campanha eleitoral para a presidência da República e, pela primeira vez, não sei sinceramente em quem votar.

Não gosto do psicólogo que dá aulas de encorajamento ou lá o que é; tem uns óculos de massa muito feios e os incisivos muito afastados.

O senhor que abandonou os debates e se recusou a participar, merece a minha simpatia por isso; foi menos um chato que tivemos que aturar, mas acho que tem um abdómen demasiado proeminente para presidente. Ficava mal nas fotos oficiais.

Aquele rapazinho que trouxe as assinaturas num cabaz é apalhaçado e nunca gostei de palhaços.

O Neto tem idade para ser aví´.

O Morais diz que é limpinho mas não gosto do penteado e algo me diz que ali há gato escondido.

O ex-padre é a contradição em pessoa: católico e comunista? Se a religião continua a ser o ópio do povo, o comunismo será a naloxona?

A Marisa tem boa voz para o fado, não para discursar no 10 de Junho.

A de Belém é muito pequena; mal chegaria ao microfone das Nações Unidas, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, a convidasse para discursar.

O Nóvoa tem um nome bom demais para trocadilhos e ninguém sabe onde estava no 25 de Abril, 28 de Setembro, 11 de Março e 25 de Novembro, da parte da tarde.

Finalmente, o candidato que é como a pescada, que antes de o ser já o era, é um fiasco. Afinal, depois de décadas de comentário político, não tem opinião sobre nada.

Pensando bem, deve ser por isso que vai ganhar as eleições.

Cavaco, qual eucalipto, que tudo seca í  sua volta, até a Presidência da República secou!

A carta do Costa

Vamos lá rever a matéria.

O Presidente Cavaco podia ter antecipado as eleições para Junho para evitar a confusão, mas achou que não valia a pena porque estudou todos os cenários possíveis e já sabia o que tinha que fazer.

As eleições foram em Outubro, a coligação PSD/CDS ganhou mas os partidos de esquerda tiveram mais deputados.

Isto deixou o Cavaco í  brocha, porque ele tinha estudado todos os cenários, menos este.

Com efeito, o Presidente tinha previsto a vitória do PSD, ou a vitória do PSD ou, no máximo, a vitória do PSD. E sempre com maioria absoluta ou, pelo menos, com maioria absoluta.

Restava a hipótese de nomear António Costa, mas Cavaco não iria fazer isso sem, primeiro, ter a certeza que Costa não queria sair da Nato.

Como se sabe, Cavaco adora a Nato e a Nato não sobrevive sem a ajuda de Portugal, por isso, que se lixem os salários, que se lixem as reformas – temos é que preservar a Nato.

Então, Cavaco exigiu que Costa respondesse a seis questões fundamentais, antes de o indignar, perdão, indigitar para primeiro-ministro.

Costa respondeu em poucas horas, com uma carta, cujo conteúdo não foi revelado, mas que diz o seguinte:

Caro Aníbal:

Espero que esta carta te encontre bem, assim como a todos os teus. A Maria tem passado bem? E os netinhos? Já fizeram a árvore de Natal? E já têm uma lista de prendas? Era bom que fizessem uma lista porque cada vez é mais difícil arranjar prendas para vos dar – vocês têm tudo!

Nós, aqui pelo Rato, temos passado bem. O Sócrates lá continua a fazer almoços de desagravo, muito zangado com a justiça. Quem está muito contente é o João Soares, porque já lhe prometi o ministério da Cultura, caso faças a fineza de me indigitar. Já agora, se decidires indigitar-me, faz o favor de o fazer antes de sexta-feira porque já tinha planeado um fim de semana em família e não me dava jeito nenhum tomar posse nessa altura.

Além disso, o Jerónimo já prometeu que te oferece uma assinatura do Avante até morreres!