O perigoso esquerdista

—Olhem bem para ele, de cravo na mão, este perigoso marxista-direitista, este admirador de Lenine e de Bento 16, este maoista do Largo do Caldas.

Se Portas for para o governo, teremos Cuba do nosso lado e importaremos alta tecnologia da Coreia do Norte.

Com a nova colocação do CDS na cena política, í  esquerda do PSD, como Portas afirmou, teremos que repensar tudo e talvez uma coligação alargada CDS-PCP-Bloco comece a fazer sentido.

Portas já andava a ameaçar, com todo o seu apoio í  lavoura e í s pequenas e médias e empresas.

Agora, é definitivo: agora, o cravo. Amanhã, a foice e o martelo!

AD outra vez? Não, obrigado!

A propósito do 30º aniversário da morte de Sá Carneiro, voltou a falar-se da AD.

De quê? De quem?

Da Aliança Democrática, uma coisa que parece que foi inventada por Sá Carneiro e que, segundo muitos especialistas da nossa praça, poderia salvar o país do atoleiro.

Em primeiro lugar, esta história de mitificar o Sá Carneiro já cheira mal. Convém recordar que Sá Carneiro foi deputado na Assembleia Nacional, nos tempos do Marcelo Caetano. Era daqueles que queria minar o sistema por dentro. Depois do 25 de Abril, foi um dos fundadores do PPD e, na altura em que morreu no tal acidente/atentado, apoiava um general obscuro para Presidente da República. Era o general Soares Carneiro e Sá (também) Carneiro sonhava com um governo, uma maioria e um presidente.

Agora, 30 anos depois da sua morte, ao mesmo tempo que põem o homem nos píncaros, chegando a dizer que, se ele não tivesse morrido, Portugal não estaria como está hoje, tentam ressuscitar esta história de “um governo-uma maioria-um presidente”.

Partindo do princípio que o Cavaco ganha as eleições presidenciais, basta que o PSD e o CDS, juntos, obtenham a maioria absoluta, para formarem um governo de coligação.

E assim renasce a Aliança Democrática!

E a malta que faz este raciocínio, incluindo ilustres jornalistas, fazem por se esquecer que, entre 2002 e 2004, tivemos um governo Durão Barroso-Paulo Portas e que, entre 2004 e 2005, tivemos um governo Santana Lopes-Paulo Portas.

Foi apenas há 5 anos, rapaziada!

A direita teve, então, um governo e uma maioria – só não tinha um presidente, mas também não foi por causa de Jorge Sampaio que Durão Barroso não levou o seu governo até ao fim da legislatura, pois não?

Portanto, deixem a AD sossegada, lá no sítio onde Sá Carneiro repousa.

—

O que eu aprendi com a negociação do Orçamento

Que Sócrates e Passos Coelho querem fazer de conta que pouco têm a ver com a discussão em torno do Orçamento.

Que aquilo é lá uma coisa entre aqueles dois ursos brancos.

Que, afinal, a aprovação do Orçamento só é importante para o PS e o PSD – para o Bloco, os comunistas, o Paulo Portas e o Alberto João, o melhor era chumbar o documento e… e…

Que todo este teatro só serviu para nós dizermos: «ufa! até que enfim que há acordo! que contente que eu estou pelo facto de o iva ter subido para os 23% e me irem sacar 10% do meu ordenado! Estava a ver que não conseguiam chegar a acordo! Assim, quando me forem ao bolso, sei que é por acordo entre os dois maiores partidos de Portugal!»

Que Paulo Portas já explicou que ele teria solução para todos os problemas orçamentais mas, como ficou de fora da negociação, junta-se ao problema, em vez de ajudar a uma solução.

Que Jerónimo de Sousa já teria resolvido isto há muito tempo, tomando as mesmas medidas que Vasco Gonçalves (quem?) tomou em 1976.

Que Louçã, apesar de tudo, anda muito arredado porque, no fundo, ele poderia propor sair da União Europeia, mas continua a gostar das camisas Gant.

Que, ao fim e ao cabo, como eu já disse, tudo se resumiu, afinal, ao IVA do leitinho com chocolate.

O PS, partido de esquerda, acha que leite com chocolate é para a burguesia endinheirada.

PSD, partido de direita liberal, acha que leite com chocolate é um direito adquirido da classe média.

Vitória da direita: o leitinho com chocolate ficou a 6%!

Mariquices da reentré

O conceito de “reentré política” é algo que me escapa.

Parece que o país pára durante o mês de Agosto, os políticos vão todos para férias, a malta fica a ver os incêndios e, depois, há que marcar o regresso com grandes manifestações.

Eu, quando regresso ao trabalho, depois das férias, só quero é passar despercebido.

Mas os políticos, não!

O PCP é o único que inventou uma coisa para camuflar a reentré, dando-lhe uma aura de seriedade – é a Festa do Avante.

Na Festa (não há outra como esta…), o secretário-geral do Partido tem direito a dois-discursos-dois, com larga publicidade nos órgãos de comunicação social, e tudo é disfarçado por um programa cultural variado, que inclui ópera e operários, rap e vira do minho, jazz, fado, minis e tremoços, churros e charros í  discrição.

O PSD inventou duas coisas para a reentré: o Pontal e a Universidade de Verão e qualquer uma delas soa a falso, a patético e a coisa para ser transmitida pela televisão.

A festa do Pontal é uma espécie de Avante sem a ideologia, sem as atracções culturais e sem mais nada, a não ser as minis e as bifanas.

A Universidade do Verão é uma patetice ao nível das reuniões de tupperware, ou de lingerie para donas de casa, ou, neste caso, para laranjinhas-que-querem-um-dia-ser-políticos-profissionais-como-o-santana-lopes.

Quanto ao PS de Sócrates, tem arranjado reentrés com produção tipo hollywood. Este ano, começou por Mangualde e continuou em Matosinhos: em primeiro plano, o líder, o adorado líder, cheio de optimismo e confiança; por trás, um coro de jovens com ar saudável e t-shirts verdes (mau gosto!).

Mais modesto, o CDS-PP viveÂ í  custa do Paulinho que, com aquela voz tronitruante tenta esconder o vazio da militância no seu partido: ele é que apresenta propostas, ele é que faz, ele é que acontece, ele é que tem razão, ele nunca fez parte do governo, ele não tem culpa nenhuma desta merda (gritar isto em voz alta e ligeiramente nasalada)!

E acho que ainda há mais reentrés políticas, mas já ninguém dá por elas…

Tudo isto é inventado para os media, como o Valentine’s Day ou o Hallowheen.

E já não há paciência!…

Coligações há muitas, seu palerma!

Paulo Portas propí´s ontem, no debate do Estado da Nação, que se formasse um governo de coligação alargada, PS, PSD e CDS-PP, para os próximos 3 anos, mas sem o Sócrates a comandar o PS.

Provocação, claro.

Se Portas fosse humilde, teria proposto uma coligação PS, PSD, CDS-PP, mas sem o Portas.

Para o seu lugar, poderia nomear aquela minha colega dos cuidados paliativos, a Isabel Galriça Neto.

Que entusiasmo, o dela, a aplaudir todas as palavras do Portas!

Que embevecimento!

A senhora até saltava da cadeira, ao bater palmas, frenética com o discurso do seu líder.

Alguém a devia informar que o facto de ter sido medalhada no 10 de Junho não a obriga a ser tão apologética.

Este tipo de acólitos devia ser premiado. Por isso, Portas devia ter sugerido uma coligação alargada, mas com Assis a chefiar o PS, Relvas í  frente do PSD e Galriça Neto pelo CDS-PP.

Os três actuais líderes retiravam-se pela direita baixa e deixavam os discípulos governarem.

Quanto a nós, é claro que emigrávamos…

Palhaço, Maria José? Actualize-se!

A D. Maria José Nogueira Pinto, que já foi deputada do CDS e, agora, é do PSD, faz parte de uma comissão parlamentar da saúde. Não gostando de um comentário feito pelo deputado socialista Ricardo Rodrigues, a D. Maria José disse:

«Tenho estado a interrogar-me quem é este palhaço que apareceu aqui na Comissão. Deve ter sido eleito para nos animar».

í“ Maria José, palhaço?!

Então a menina não costumava levar os seus filhos ao Coliseu, todos os natais – ou será que a sopeira é que ia com eles?

Palhaço é insulto, Maria José?

E se, agora, os artistas circenses passarem a insultar-se, chamando-se deputados uns aos outros. Do género: “quem é aquele deputado que nem malabarismos sabe fazer?!”

Um palhaço na Assembleia da República?

Então, agora que querem acabar com os animais no circo, a senhora quer tirar, também os palhaços, levando-os para a Assembleia?

Um palhaço na Assembleia da República?

Só um?!

Não me faça rir, querida! Quando a menina foi eleita pelo PSD, cuidava que ia fazer o quê para Assembleia, se não animar a malta?

O Partido sou eu

—Sou assim desde criança.

Quando era pequenito, lembro-me de brincar sozinho com o meu comboio eléctrico e não deixar que mais ninguém lhe tocasse. A mãe ralhava comigo e dizia: «Paulo, por favor, não seja egoísta! Deixe o Miguel brincar!”

Mas eu encolhia os ombros e não deixava que o Miguel sequer se aproximasse. E fazia o mesmo com a pista de carros de corrida, e com as miniaturas Dinky Toys e, claro, com os Action Man. E tantos Action Man que eu tinha!…

Mais tarde, tive um jornal só para mim. Chamava-se “Independente”, que é como quem diz “Sozinho”. Quem precisa dos outros?

Mas precisava de voos mais altos. Quis um Partido político. Podia ter fundado um, mas demoraria muitos anos até que o Partido fosse conhecido e me levasse ao Poder. Por isso, aproveitei-me do CDS. Acrescentei-lhe a sigla PP e dei a entender que queria dizer Partido Popular quando, obviamente, quer dizer Paulo Portas.

O ano passado, o vice-presidente do Partido pediu a demissão. Aceitei mas não disse nada a ninguém.

Quem precisa de vices-presidentes?

Quem precisa de secretários-gerais?

Quem precisa mesmo de militantes?

Eu sou o Partido!

O Partido sou eu!

Ah! Ah! Ah!