Parabéns, Pedro!

Desta vez conseguiste a unanimidade dos comentadores.

Definitivamente, escreves como falas e falas como governas: mal!

* «O contacto directo com os cidadãos não se confunde com exercícios patéticos, nos quais o primeiro-ministro se deixa substituir pelo Pedro através de uma redacção medíocre, com laivos de um sentimentalismo bacoco que ainda por cima revelam as insuficiências notórias do primeiro-ministro que temos»

– Constança Cunha e Sá, no i

* «O primeiro-ministro (…) serviu aos portugueses, que se deram ao trabalho de o ler, 14 linhas de uma prosa lamecha e repugante, que trivializa e degrada os problemas do país. (…) entrar pela casa de uma pessoa, já preocupada com as desgraças que dia a dia se acumulam, para lhes falar do “orgulho dos sacrifícios” e das “decisões difíceis” que ele, coitadinho, está a tomar, excede o tolerável»

– Vasco Pulido Valente, no Público

* «Pedro e Laura escreveram no Facebook uma redacção infantil e politicamente desastrada»

– Fernando Madrinha, no Expresso

* «Não, “Pedro e Laura”, na mesa de Natal de muitos portugueses o que preocupa não é a falta de rabanadas, nem brinquedos, nem pessoas, mas sim o facto de lá estar sentado o medo, a indignidade, a vergonha e o desespero, coisas que não vêm em estatística nenhuma. E isso não garante futuro nenhum que valha a pena viver, nem aos pais, nem aos filhos, nem aos netos».

– Pacheco Pereira, no Público

* «O Pedro e a Laura decidiram brindar os que os seguem na página do Facebook na internet com um texto sobre as dificuldades que os portugueses estão a sentir. O tom é piegas. O texto está mal escrito»

– Martim Silva, no Expresso

Marques Mentes

Nunca vejo os comentário de Marques Mendes.

Não lhe reconheço know-how para se armar em comentador político.

Sempre me fez lembrar o sr. Lionel, o simpático merceeiro da minha rua – sem desprimor para este último.

Esta gente tem sempre opinião sobre tudo.

Se rebenta um cano na rua, se as laranjas andam azedas, se o seleccionador escolhe o Hugo Viana em vez do Ruben Micael, se a televisão não dá nada de jeito, se o Vitor Gaspar aumenta os impostos, se Barak Obama não é tão preto como parecia í  primeira vista – eles têm sempre uma sentença para dar.

E portanto, embora nunca veja os comentário do Mendes, acabo por ter conhecimento deles através dos jornais, que fazem essa coisa fantástica que é comentar os comentários dos comentadores!

Mendes disse que  a próxima visita de Angela Merkel é “a visita da chanceler de um país amigo, de um líder da União Europeia e uma oportunidade para Angela Merkel conhecer melhor Portugal e até de ouvir as queixas dos portugueses”.

Fiquei perplexo!

Então a Merkel vem aqui, ao Monte de Caparica, ouvir as queixas da malta do Picapau Amarelo, da malta que perdeu o subsídio de desemprego ou o rendimento de inserção, dos diabéticos que deixaram de estar isentos, dos doentes dependentes que passaram a pagar 10 euros por um domicílio médico?

É Mendes, tu mentes!

A Merkel vai directa do aeroporto para a sala onde estarão reunidos os grandes economistas portugueses que foram incapazes de prever a crise que estava para vir, incluindo tu, que já foste do governo e que – tão visionário que és – não conseguiste vislumbrar a merda que vinha a caminho.

Claro que, depois de ela nos cair em cima, é fácil apontar os erros.

Disseste tu, pelos vistos, que António José Seguro é um “político de plástico”.

Olha, pá: eu não gosto do Seguro, acho, de facto, que o tipo é um pouco postiço. Mas se o gajo é um político de plástico, tu és de plasticina.

Merecias que te fizessem o que os meus netos fazemÂ í  plasticina: bolinhas.

Pequeninas…

Muito pequeninas…

A ameaça dos comentadores

Aguiar-Branco discursou perante os militares e insurgiu-se contra “os comentadores de fato cinzento e gravata azul, que têm do Estado e da soberania uma visão contabilística”.

O ministro da Defesa classificou o “discurso da inutilidade das Forças Armadas” como o “maior adversário”.

Disse: “Este adversário é tão corrosivo, tão arriscado e tão perigoso para a segurança nacional como qualquer outra ameaça externa”.

No passado, tememos as investidas de Castela ou as invasões napoleónicas.

Hoje em dia, somos ameaçados por comentadores de fato cinzento e gravata azul.

Ainda bem que temos submarinos, caças e carros de combate para dizimar esses bandidos!

Engraçadinhos

Nunca achei graça aos engraçadinhos.

Nunca achei grande piada a anedotas.

E, no entanto, os engraçadinhos e as anedotas estão na mó de cima.

Agora, neste patético mês de Agosto, até o Expresso se rendeu aos engraçadinhos.

Na semana passada, a revista do Expresso estava pintalgada com frases da autoria desse engraçadinho pindérico, chamado Nuno Markl. Não sou capaz de citar nenhuma e já deitei a revista fora.

A desta semana, tem piadinhas de um tipo chamado João Quadros que, por qualquer razão esotérica, deve estar na moda. Na primeira página da revista do Expresso, vêem-se um saco com dinheiro, uma lambreta e a fotografia do referido “humorista”. E ele comenta: «esta capa é o sonho de muitas mulheres: uma vespa, um saco de dinheiro e um indivíduo louro extremamente bem-parecido».

Trata-se da mais pura e idiota auto-ironia, já que o indivíduo louro é o referido engraçadinho.

Confesso que tive que colocar um penso para não mijar as calças de tanto rir!…

Só perco tempo com este assunto porque é quase impossível ignorar estas criaturas. Eles estão por todo o lado, desde a rádio aos jornais desportivos. E irritam-me. As suas graçolas são infantis, fazem-me lembrar as piadinhas dos jornais de liceu, são vulgares, imediatistas e sem classe.

Mas pior que esta trupe de engraçadinhos, que incluem outros nomes, que agora não me ocorrem, é a dos que se armam em engraçadinhos.

É o caso de um tal Henrique Raposo, que saltou de um blog para uma coluna no Expresso e que faz gáudio em ser de direita.

Não consigo compreender como é que um semanário como Expresso, com a sua longa tradição de colunistas ilustres, que incluiu nomes como Miller Guerra, José Rabaça, Marcelo Rebelo de Sousa, etc, etc – aceita publicar, semanalmente, uma coluna de vulgaridades, assinada por este tal Raposo.

Hoje, por exemplo, o homem escreve um pequeno texto a elogiar Passos Coelho, que começa assim: «Meu caro Passos Coelho, continuo a ter consideração por V. Exa. Aceitar governar Portugal no pós-Sócrates foi mais ou menos como aceitar treinar o Benfica no pós-Artur Jorge».

Estão a ver?… Armado em engraçadinho…

E mais í  frente, acrescenta: «o que é espantoso é que V. Exa. não consegue colocar este e outros sucessos na agenda. Eu sei que há uma má vontade epidérmica dos jornalistas ante um governo direitolas, mas isso não explica tudo».

Um governo direitolas?

Lamentável…

Gonçalves, o sociólogo

Há um tipo, chamado Alberto Gonçalves, que se intitula sociólogo, que tem direito a uma página inteira do Diário de Notícias, todas as semanas.

Gostava de saber porquê.

O homem vomita desprezo por tudo que lhe cheire, ainda que vagamente, a esquerda; critica tudo e todos, como se vivesse no alto de uma torre de marfim, imune ao que se passa í  sua volta; é um daqueles tipos que raramente se engana e nunca tem dúvidas.

Por mera curiosidade, li algumas das suas crónicas. Depois, fartei-me. Achei que os seus argumentos eram infantis; faziam-me lembrar as bocas que oiço no restaurante onde almoço todos os dias, bocas daqueles tipos que nunca fizeram nada de relevante, mas têm uma opinião importantíssima e definitiva sobre tudo.

Os meses foram passando e a crónica do Gonçalves continuava, semana após semana.

Rendendo-me í  minha ignorância, googlei o nome da criatura. Seria algum autor extraordinário que eu desconhecia? Parece que não.

E até parece que há por aí muito boa gente que pensa como eu.

E, no entanto, o homem continua a encher, todas as semanas, uma página do DN.

E devem pagar-lhe por isso!…

Hoje, por exemplo, escreve esta infantilidade sobre a selecção:

«os jogadores da selecção são um exemplo para os jovens. Sem dúvida. Qualquer sujeito que não estudou, confiou na habilidade para os pontapés, conseguiu um emprego raro e fartamente remunerado no Real Madrid ou no Chelsea, aplica os rendimentos em automóveis de luxo, é incapaz de produzir uma frase em português corrente e enfeita o físico com jóias e tatuagens e penteados belíssimos constitui o modelo que os pais conscenciosos devem impor í  descendência. De resto, a alternativa passa pelas Novas Oportunidades ou, erradicadas estas, pelo Impulso Jovem, que também promete.»

Este texto nem parece de um sociólogo.

O homem fala de jogadores de futebol, mas podia falar de estrelas pop, músicos rock, ténistas, e não só. Um futebolista tatuado e com brincos, que ganhe muito dinheiro, merece ser criticado, mas um músico pop (Gonçalves adora alguns), com penteado exótico e brincos de diamantes, tem uma profissão meritória? Pressente-se uma pontinha de inveja, não?

E depois, como o tiro ao Sócrates é um dos desportos preferidos do homem, tem que falar nas Novas Oportunidades, como se o Ronaldo quisesse acabar o liceu e, para dar uma de independência política, faz uma referência ao Impulso Jovem.

Que independente que ele é, caramba!

Mas o primarismo do especialista vem mais í  superfície quando ele pretende comentar algo mais “político”.

Vejamos o que ele escreve sobre aquele episódio infeliz em que o porta-voz da extrema-direita grega agride uma deputada comunista, em directo, na televisão:

«“Agressão de neonazista evidencia na Grécia a violência da extrema-direita”, eis a manchete do portal brasileiro globo.com sobre os tabefes que um deputado do partido Chryssi Avhi distribuiu durante um debate televisivo a uma colega comunista. É engraçado como meses de agressões nas ruas de Atenas e outras cidades ainda não conseguiram evidenciar a violência da extrema-esquerda. Para cúmulo, selvagem que seja, o valente “neonazista” em causa agiu sozinho. Os selvagens que atacam propriedade alheia e gente avulsa agem em matilha, o que, mesmo sem as máscaras que í s vezes usam, torna a identificação difícil ou impossível. Decerto são tímidos. E sem motivo: no mínimo, arriscavam-se í  glorificação na imprensa internacional, por simbolizarem a indignação que habita os corações gregos. Pois é, quando o ódio frequenta a ideologia correcta, a opinião pública e publicada chama-lhe indignação. Mas, não se enganem, também é ódio.»

O sociólogo critica-se a si próprio: ele faz parte da opinião pública e publicada e, com este texto, tenta desculpar a atitude do porta-voz da extrema-direita grega que, em directo, na televisão, deu três grandes estaladas numa deputada comunista. Para Gonçalves, o energúmeno foi um herói, porque não tapou a cara com máscaras e o que ele fez está desculpado pelo simples facto dos militantes da extrema-esquerda, mascarados e, portanto, cobardes, terem partido montras e provocado mortes, actuando em matilha.

Gonçalves é um pouco paranóide, na medida em que pensa que a imprensa internacional glorifica a acção indignada da extrema-esquerda e critica os tabefes da extrema-direita.

O que será, na opinião da criatura, a imprensa internacional?

Tentar desculpar um atitude irresponsável (ainda por cima, o herói, que actuou sem máscara, depois das estaladas, até fugiu e se escondeu da polícia…) com as manifes violentas que aconteceram em Atenas é de um primarismo que não se coaduna com um tipo que se diz sociólogo.

Por isso, pergunto: por que carga de água este gajo tem direito a uma página semanal no DN?

Frases matadoras

Há anos que não vejo a missa dominical do Marcelo Rebelo de Sousa e nunca vi os comentários de Marques Mendes.

Mas é quase impossível fugir í s palavras destes dois comentadores, já que as suas sentenças são reproduzidas na rádio e nos jornais, como se fossem palavras divinas.

Este fim de semana, no entanto, tanto Marcelo como Mendes proferiram frases assassinas, a propósito do caso do alegado super-espião, Silva Carvalho.

Disse Marcelo:

Miguel Relvas tornou-se uma “canga que pesa sobre os ombros do priemrio-ministro”.

Ora, sabendo que canga é uma peça de madeira que se coloca sobre o cachaço dos bois, Marcelo Rebelo de Sousa chamou boi a Passos Coelho.

Disse Marques Mendes:

“Gostava que nenhum membro do Governo do meu país tivesse relações com o doutor Silva Carvalho”.

Estranho desejo, Mendes…

Quer isso dizer que há algum ou alguns membros do Governo que têm a intenção de ir para a cama com o espião?

Em conclusão: temos um Governo de Mata Haris chefiado por um boi.

Volta, Gabriel Alves, estás perdoado!

Gabriel Alves é um nome consensual, no que respeita aos comentadores desportivos. Linguagem própria, neologismos, todo um edifício filosófico construído ao longo de muitas transmissões televisivas.

Mas Gabriel Alves limitou-se a ser um seguidor do Enorme Comentador Futebolístico (tudo com letra grande), que foi Alves dos Santos.

Um Alves seguiu-se a outro Alves…

Nos anos 60 do século passado, quando o Benfica começou a despontar na Europa e a Eurovisão começou a transmitir os jogos da Taça dos Campeões Europeus, era Alves dos Santos que inventava expressões como “corre como se fosse um extremo” ou “recebe no peito e cola na relva”.

Bons velhos tempos… em que o Alves dos Santos, com a sua voz cavernosa, comentava, o Eusébio marcava e eu era um puto!…

Sobre as expressões idiomáticas inventadas por Gabriel Alves já existem enciclopédias (podem ser consultadas, por exemplo, em http://galves.no.sapo.pt/frases.htm).

Mas também esse Alves está ultrapassado.

Hoje em dia, quem pontifica é um senhor chamado Luis Freitas Lobo.

Confesso que raramente consigo ler um texto de LFL até ao fim. O homem consegue encher uma página inteira do Expresso! Todas as semanas! E suspeito que escreva em mais sítios. Produz prosa a uma velocidade estonteante! Mas escreve coisas algo místicas.

Por exemplo, sobre o Benfica de Quique Flores: “nesta construção complexa de um jogar, manda o futebol como natureza inquebrantável”.

LFL explica por que razão o novo Benfica se foi abaixo, frente ao Porto, e se superiorizou, frente ao Nápoles.

E a explicação é simples: “Equilibrar (Katsouranis) e, depois, desequilibrar (Reyes). Com protecção física e inteligência táctica. Para explorar os pontos fortes, na velocidade e imaginação ofensiva. Para proteger os seus alçapões sem bola, fechando melhor as faixas (Ruben Amorim) e dando mais peso para ganhar a zona de pressão e combate no centro (Yebda).”

Sinceramente, não percebo patavina!

Preferia a ousadia poética e gramatical de Gabriel Alves.

E que saudades da simplicidade de Alves dos Santos (e do Eusébio, Coluna, Simões, José Augusto, Torres, Germano, Costa Pereira, í‚ngelo, Cávem…)!…