A turbulência nos aviões e os loucos da net

O Coiso já está na net desde novembro de 1999.

Ao longo destes anos já publiquei mais de um milhar de textos. Alguns têm um êxito suplementar. Em alguns casos, percebo porquê. Em outros, fico perplexo.

Compreendo, por exemplo, que tenha muitos comentários aos meus textos sobre deixar de fumar. Continuo, ainda hoje, quase 5 anos depois de ter desistido do fumo, a receber comentários ao meu texto “1o dias sem fumar“, que tem 44 comentários, fora os muitos que apaguei!

Mas há outros textos que têm comentários que me deixam de queixo caído.

Um dos exemplo é o texto sobre um spray que, supostamente, cria e mantém ereções colossais. O spray chama-se Eureka e, embora eu tenha desancado na respectiva publicidade, continuo a receber pedidos de esclarecimentos sobre o produto, quanto custa, como se pode obtê-lo, etc, como se fosse eu o produtor da coisa!

Outro exemplo é o texto que escrevi sobre a turbulência nos aviões.

O texto chama-se “A turbulência nos aviões é de propósito” e foi escrito em maio de 2006, depois de ter feito uma extraordinária viagem de autocarro entre Chicago e San Francisco.

Dizia eu, a brincar, claro, que os engenheiros aeronáuticos eram os responsáveis pela turbulência em alguns voos porque querem que nós continuemos a ter medo de voar.

Ora, parece que alguns dos meus leitores não perceberam a ironia.

Vejamos o comentário de Luiz de Lima:

“Prezados senhores!
Me perdoem entrar no assunto “…Turbulência” mas se estudarem um pouco de mecânica de fluidos os senhores talvez venham a conhecer na física elementar as respostas a tanta idiotice! é demais para o meu estí´mago suportar tanta burrice isso sim é que provoca enjí´o”

Portanto, nós, burros, não entendemos nada de “mecânica de fluidos”!…

Mas outro comentador, chamado Ivaney, vai mais longe:

Caros amigos! se fomos pensar como o autor do texto, estariamos no perguntando porguntando por nao decobriram a cura para a morte, a “…turbulencia” e simplesmente causada pela instabilidade dor, ou seja fenomenos da natureza, e ninguem pode com eles. As aeronaves são preparadas para suportar tal feito, agora evitalas, é impossivel…,
emos que dar um vivas a nosso engenheiros e pedir que DEUS os abençoe sempre….

Ivaney pede para Deus abençoar sempre os engenheiros porque, pelos vistos, eles conseguem que as aeronaves suportem os efeitos da natureza. Infelizmente, os engenheiros ainda não descobriram a cura para a morte…

Já o comentador que assina Lovelove, culpa os pilotos:

porque eles nao querem acabar com turbulencia? claro que nao é culpa deles nao. natureza mesmo. Mas assim como li os pilotos podem nao passar por essas zonas de turbulencia, eles mesmo avisao nos voo. Nao entendo porque eles nao deviam essas zonas. Isso sim poderia ser mais contralados e ter voo mais leves.

Apesar de culpar a natureza, Lovelove acha que os pilotos, se quisessem, podiam evitar a turbulência… Malandros!…

O Marlo, por outro lado, também acha que é tudo uma questão de mecânica de fluidos:

Isso é lenda. Coo já já foi falado, pesquisem sobre mecânica e escoamento dos fluidos. A natureza não é regular e linear. Diferenças de pressão, temperatura e de outras grandezas são encontradas ponto a ponto na nossa atmosfera.”

Um tipo lê estes comentário e não acredita.

Será que estes tipos não perceberam uma palavra do texto que escrevi?

E que impulso os terá levado a escrever um comentário a um texto que não compreenderam e não lhes dizia respeito?…

Erros ortográficos

Irritam-me!

Já não falo no “há”, sem agá e no “í “, com o acento trocado. São tão frequentes, esses erros, que por vezes me pergunto se não serei eu a estar errado…

Alguns dos comentários que aqui recebo vão directamente para o lixo porque: 1º são absolutamente idiotas; 2º estão cravejados de erros.

Por vezes deixo-os ficar, para ver se envergonho os autores. Em vão.

Dois exemplos:

Um tal Meira Burguete, escreve:

“LI NOS JORNAIS QUE O SOCRATES, SE FOSSE ELEITO, PROPUNHA UM SUBSIDIO PARA A FAMILIAS ABAIXOU DO NIVEL DE POBRESA
ORA PORRA…
PORQUE NAO ACABAR COM A POBREZA..”

Para além da fantasia de algum 1º ministro ser capaz de acabar com a pobreza, pergunto-me como é possível um tipo não saber se pobreza se escreve com “ésse” ou com “zê” e, na dúvida, escrever a mesma palavra com duas grafias!

O 2º exemplo vem de um Zé Veloso e é assim:

“O complemento das reformas que o governo faz tanta porpaganda nao abrange quase ninguem por que e certo que a maioria dos reformados continuam com menos de 250Euros por mes Continua assim a miseria So este mes por que vivo numa zona fria e humida tive uma conta de eletricidade de 94Euros pois se nao tiver a casa desomificada tenho asma bronquite e sinusite e outras problemas de saude e economicos que surgem”.

Para além dos erros de pontuação, desculpáveis, se pensarmos que é apenas um comentário “on-line”, apanhamos, pelo menos, dois erros ortográficos: “porpaganda” e “desomificada”. Como é possível escrever bem a palavra “húmida” e escrever, depois, “desomificada”?!

Mas os erros ortográficos não serão os piores. Que dizer dos erros de pensamento? Como é possível alguém culpabilizar o Governo (seja ele qual for!) por sofrer de asma, bronquite e sinusite?

Mas, enfim, como podemos criticar quem faz comentários a um blog quando, nos jornais e revistas, os erros ortográficos são comuns.

Só um exemplo:

Revista Notícias Magazine de 19/7/09; texto de Rui Pedro Tendinha sobre o novo filme de Eddie Murphy, “Terra dos Sonhos”:

“Com efeito, nesta nova comédia para a família bronca americana, Murphy estampa-se ao cumprido”.

Ao cumprido?!

Caro Tendinha: será que o teu dever foi “comprido”?…

Coiso Público

Estava eu no meu recato quando o Público decidiu (mais uma vez), citar um texto de O Coiso, mais precisamente o texto anterior, sobre a avaliação dos professores.

E logo uma chuva de comentários me caiu em cima.

Estou a colocá-los, a todos, no site, porque alguns são bem esclarecedores sobre a elevação da discussão deste tema, nomeadamente o comentário da Dona Gisela, que gostaria que eu não tivesse nascido e me chama merdoso. Espero que a Dona Gisela não seja professora, caso contrário, lá se vai a dignidade da classe…

Insisto: não ponho em causa a justeza dos protestos dos professores. Mas numa democracia madura, que já tem quase 35 anos de existência, estes assuntos deviam ser discutidos em sede própria e não com folclore de rua.

É a minha modesta opinião.