Dalton Trevisan nasceu em 1925, em Curitiba e, no ano passado, foi o vencedor do Prémio Camões.
Mais um daqueles escritores obscuros que ganham prémios e ninguém lê, pensei eu.
E tinha razão.
Só que, ao ler um livro de Trevisan, temos mesmo que ler todos os outros.
Entrei em contacto com a obra de Trevisan através de O Vampiro de Curitiba (1965), um pequeno livrinho de histórias curtas (103 páginas).
Gosto muito de histórias curtas, desde que o Mário-Henrique Leiria me iniciou com os Contos do Gin Tonic.
Trevisan tem uma escrita única, sincopada, sintética, com um ritmo muito próprio.
Nelsinho é o vampiro de Curitiba, sempre pronto a ferrar o dente em qualquer moça, sem olhar í idade ou í aparência.
Os diálogos são especiais.
Exemplo:
«- Você é loira natural?
– O doutor não vê?
– A fama de loira é de fria. Só que não acredito.
– A loira não é feito a morena.
– A morena é mais carinhosa. Você não é católica, é?
– Sou calvinista.
Calvinista, ai, de rostinho abrasado na mesma hora.
– A religião moderna não faz, da virgindade, um cavalo de batalha. A moça, sendo direita, pode ter experiência. Autorizada pelo pastor a conhecer os prazeres da vida.
– …
– Sabia que os turistas acham uma graça em nosso conceito de virgindade?
– Nunca soube.
– Você é temperamento calmo ou nervoso?
– Sou calmo.
– Tem os atributos da nervosa; ainda não sabe que é. Suas medidas são perfeitas. Não é você que joga ví´lei?
– É, sim.
– Gostaria de a ter visto de calção. Joga bem?»
E assim por diante.
Sendo assim, passei para Cemitério de Elefantes, publicado em 1984.
É um livrinho ainda mais pequeno (94 páginas), incluindo um prefácio de Fernando Assis Pacheco.
Os heróis deste livro são os bêbados – homens que bebem para afogar desgostos ou porque sim.
Lê-se numa tarde.
E vicia.
Passei, então, ao único romance que Trevisan publicou: A Polaquinha (1985).
Também não é extenso.
São 150 páginas que contam a história de uma moça que, de namorado em namorado, acaba na prostituição (“polaca”, vulgarmente, significa prostituta).
A vida banal da prostituta, que recebe clientes, com quem finge prazer, é bem ilustrado com os últimos cinco ou seis capítulos do livro – todos praticamente iguais!
E como vicia, já tenho mais três livros de Trevisan para ler…