“Um LUgar para Mungo”, de Douglas Stuart (2023)

Com “…Shuggie Bain”, Douglas Stuart venceu o Booker Prize de 2020. Este novo livro tem o mesmo pano de fundo: os bairros sociais de Glasgow, a violência entre protestantes e católicos, o desemprego, o alcoolismo, a pobreza.

“…Young Mungo” conta a história de um jovem de 15 anos, cujo pai morreu há vários anos e que vive num bairro social com a mãe alcoólica, uma irmã que o apoia e um irmão mais velho, violento, que quer fazer dele um homem. Mas Mungo é diferente do irmão e não compreende a necessidade de tanta violência; apesar de a mãe se ausentar de casa por longos períodos, regressando sempre alcoolizada, Mungo sente um grande carinho por ele.

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Mungo conhece James, um miúdo católico, que se entretém a criar pombos. Apaixonam-se, mas é impossível demonstrar amor por alguém do mesmo sexo num bairro como aquele e a relação entre os dois vai ser difícil.

Entretanto, a mãe de Mungo, desconfiando da homossexualidade do filho, envia-o para um fim de semana de pescaria com dois homens, pedindo-lhes que façam dele um homem como deve ser, mas a coisa não vai correr nada bem.

Lê-se com agrado, mas gostei mais do anterior livro de Stuart.

“Shuggie Bain”, de Douglas Stuart (2022)

Douglas Stuart nasceu em Glasgow em 1976, sendo o mais novo de três irmãos. O seu pai abandonou a família e os três irmãos foram criados pela mãe, dependente do álcool. Quando Douglas tinha 16 anos, a mãe morreu, devido a doença relacionada com o alcoolismo. Depois disso, viveu com os irmãos mais velhos, depois numa espécie de pensão. Conseguindo tirar um curso de design de moda, mudou-se para Nova Iorque aos 24 anos.

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“…Shuggie Bain” é o seu primeiro livro e arrecadou logo o Booker Prize. Agnes Bain e Shuggie Bain são os principais personagens. Ela é a mãe, alcoólica, e ele é o filho, dependente da mãe, mas, ao mesmo tempo, o seu único apoio.

Conhecendo a biografia de Douglas Stuart, percebemos que o livro tem que ser autobiográfico.

A acção decorre nos anos 80, na cidade de Glasgow, nos bairros sociais com os problemas do desemprego na época da Tatcher, as drogas e o álcool.

“…Ouvira dizer que a Tatcher já não queira trabalhadores a sério. O futuro, para a chefe do Governo, era a tecnologia e a energia nuclear e a saúde nas mãos dos privados. Os dias da indústria tinham acabado e os ossos dos estaleiros Clyde e dos caminhos-de-ferro Springburn jaziam na cidade como dinossauros em decomposição. Os bairros estavam cheios de rapazes trabalhadores a quem haviam prometido o ofício dos pais e que agora não tinham qualquer futuro. Os homens perdiam a sua masculinidade.”

Com as devidas distâncias, algumas passagens fizeram-me lembrar os bairros sociais onde trabalhei como médico durante mais de 30 anos.

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“…As mulheres olharam umas para as outras, Bridie falou primeiro.

– Temos de arranjar-te um subsídio. Vais ao escritório na segunda de manhã. Vais dizer-lhes que precisas de uma pensão de invalidez, se não vão pí´r-te a ir ao fundo de desemprego todas as quintas.

– E dão-me uma pensão de invalidez?

– Ah, não te rales, “˜miga. Basta eles verem onde moras e está feito. Olha para este bairro. ““ Bridie apontou para a rua vazia ““ Estás a ver novos empregos a aparecer por estes lados? O nosso é o clube da invalidez, e todas as segundas-feiras é dia de o clube ir levantar o subsídio.”

Aconselho vivamente.