“Cem Anos de Solidão”, a série

Lemos a obra de Gabriel Garcia Marquez em 1978, num daqueles pequenos Livros de Bolso das Publicações Europa-América e aquele escritor colombiano passou a ser um dos nossos preferidos. Temos todos os seus livros publicados em Portugal. O chamado realismo mágico ou fantástico da escrita de GGM era algo de novo para nós e, ao longo dos anos, “Cem Anos de Solidão” ficou sendo um dos nossos livros preferidos, embora nunca mais o tenhamos lido.

Vimos agora os oito episódios da primeira temporada da adaptação televisiva do romance e não ficámos nada desiludidos.

A Netflix, em vez de entregar a adaptação à indústria norte-americana, preferiu a Colômbia e fez muito bem.

Na minha opinião, foi tudo bem feito: a adaptação, os diálogos, a narração, a fotografia, o ritmo, a duração de cada episódio, o modo como a história vai sendo contada – tudo perfeito!

Citar os nomes da equipa técnica e dos actores não teria muita importância, porque são pessoas desconhecidas para nós. Mas aqui ficam alguns nomes. A adaptação pertence a José Rivera e Natalia Santa, entre outros; a direcção, a Alex Garcia López e Laura Mora; o narrador é Jesús Reyes; a personagem de José Arcadio Buendía quando jovem, é interpretada por Marco Antonio Gonzalez Ospina, e, quando mais velho, por Diego Vasquez; Ursula Iguarán é interpretada por Susana Morales Cañas e, depois, por Marleyda Soto; Claudio Cataño interpretada o coronel Aureliano Buendía.

Parece que Garcia Marques nunca permitiu que o livro fosse adaptado ao cinema, muito menos, à televisão. No entanto, depois da sua morte em 2014, os herdeiros acabaram por concordar com a adaptação a série de televisão, desde que os actores fossem todos colombianos e/ou espanhóis.

Toda a série foi filmada na Colômbia e merece ser vista de uma ponta à outra.

Aguardamos ansiosamente os restantes oito episódios.

Os 50 anos dos Cem Anos de Solidão

No passado dia 5 deste mês, fez 50 anos que foi publicado o livro mais famoso de Gabriel Garcia Marquez, Cem Anos de Solidão.

Quatro dias antes, tinham passado 50 anos sobre o lançamento do Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles.

Estes dois aniversários estão ligados na medida em que Garcia Marquez, durante os quatro meses que esteve fechado em casa a escrever o romance, tinha sempre música a tocar, nomeadamente, dos Beatles.

Ambas as obras me marcaram muito e ao ler o texto que a Revista do Expresso publicou no passado sábado (O livro que ele não derrotou), ao recordar as peripécias que envolveram a escrita dos Cem Anos, quase que fiquei com vontade de reler o livro.

Garcia Marquez desempregou-se para escrever os Cem Anos e durante quatro meses fechou-se numa pequena sala na sua casa e escreveu. Mercedes, a sua mulher, tratava do resto, nomeadamente dos dois filhos, mas o dinheiro começou a escassear e foram obrigados a penhorar e depois vender o Opel, que era o orgulho do escritor. Em seguida, penhoraram as poucas jóias, a televisão e até o frigorífico, além de terem ficado a dever ao talhante, que lhes continuou a vender carne e até í  tabacaria, onde Marquez comprava os três maços de cigarros que devorava todos os dias.

Há muitos pormenores como estes que se tornaram lendários, assim como o livro, e alguns deles talvez tenham sido inventados e tornados realidade depois de terem sido contados tantas vezes.

No entanto, acho que não vou reler os Cem Anos de Solidão porque tenho receio de ficar desiludido.

—Li-o em Maio de 1978, com 25 anos, numa edição da Europa-América e todo aquele “realismo mágico”, como lhe chamam, me fascinou. Durante anos, se me perguntassem qual o melhor livro que tinha lido até então, diria, sem hesitação, Cem Anos de Solidão.

Passaram 40 anos e, entretanto, li milhares de livros e já não sou capaz de dizer qual é, para mim, o melhor livro que já li. Aliás, quanto mais livros leio, quanto mais música oiço, menos capaz sou de fazer listas de best of

É por isso que acho que li os Cem Anos de Solidão na altura certa e quero ficar com aquela boa recordação do livro, que uma nova leitura talvez estragasse.

Já agora, quanto ao outro cinquentenário, o do Sgt Pepper’s, continuo a preferir, de longe, o White Album e até o Abbey Road, embora perceba que o Sgt. Pepper’s tenha sido um marco.

Sabiam que, entre muitas outras inovações, foi a primeira vez que as letras das canções apareceram impressas na capa do disco?…