Estava na redacção do Telejornal, ainda no velho Lumiar. Nessa altura, era jornalista.
De repente, vejo muitos tipos vestidos com camuflados a tomarem posições, no páteo, nos telhados, nas esquinas. Estavam armados. Vejo, também, alguns jornalistas, conotados com o PCP, a tomarem posições de comando, um deles, de granada na mão.
Foi quando o major Clemente interrompeu o António Santos, que estava a ler o telejornal e se dirigiu ao país. E, depois, os emissores do Porto cortaram-lhe o pio e puseram, no ar, um filme idiota com o Danny Kaye.
Sinceramente, não achei piada nenhuma ao que se estava a passar e fui-me embora.
Um golpe de Estado?
Mais um?!
í€ saída, nenhum dos militares que montavam guarda me importunou.
Quando cheguei a casa, disse para a Mila: “Acabou-se! Estou sem emprego!”
No dia seguinte, a RTP esteve fechada. Não houve emissão.
No outro dia, telefonaram-me: não queria aceitar o lugar de responsável pela 3ª edição do Telejornal?
Afinal, ainda tinha emprego.
E até fora promovido!
Mais um golpe de Estado e teria chegado a presidente da coisa!
Continuei jornalista da RTP até ao final de 1976, quando acabei o curso de Medicina.
Comecei a exercer medicina em janeiro de 1977 e deixei de ser jornalista.
Não estou arrependido.