Eu sou do tempo em que as famílias mais abastadas tinham o seu pobre de estimação.
Eram para ele os restos do almoço, uma ou outra iguaria sobrante e dois tostões para o pão.
Chamava-se esmola.
Aos outros pobres, batia-se com a porta na cara.
Fossem trabalhar, que tinham bom corpo!
Com o advento do Estado Social, passámos a descontar para os pobres.
É mais asseado.
A pouco e pouco, os pobres deixaram de viver em barracas e, subsídio a subsídio, muitos deles até têm telemóvel e computador e grandes carros í porta.
Felizmente, veio a crise e com ela, os pobres estão a voltar a ser pobrezinhos.
Neste cenário, o Banco Alimentar contra a Fome (BAF), tem um papel cada vez mais importante.
Podemos voltar a ter muitos pobrezinhos, mas não podemos regressar ao passado!
Isso de cada família mais abastada ter o seu pobrezinho de estimação está ultrapassado.
Não só porque os pobrezinhos são muitos, mas também porque cada vez há menos famílias abastadas…
Por isso, a caridadezinha tem que ser organizada.
A presidente do BAF, Isabel Jonet, não tem mãos a medir e fez questão de vaticinar que vamos, todos, empobrecer nos próximo tempos.
Ela própria dá o exemplo, não estoirando dinheiro no cabeleireiro.
E disse mesmo que “se não há dinheiro para comer bifes todos os dias, então não comemos bifes todos os dias”.
Os vegetarianos aplaudiram.
E até eu, que não sou vegetariano, estou de acordo com a Dona Jonet – í medida que vou envelhecendo, cada vez gosto menos de bife.
Mas será que os pobrezinhos não têm direito a comer mais bife, por-amor-de-deus?
Sugiro í Dona Jonet que, no próximo peditório do BAF, arranje uns sacos térmicos para os voluntários distribuírem, í entrada dos supermercados.
Assim, nós podemos colocar as bolachas e o esparguete no saco habitual e dois ou três bifes da vazia no saco térmico.
Os pobrezinhos vão ficar tão contentes!…