Suspeito que, depois de escrever, ou enquanto escrevia, “…Berta Isla“, Javier Marías achou que tinha em mãos uma muito boa ideia e que podia e devia explorá-la.
Berta Isla era casada com Tomás Nevinson, um homem com dupla nacionalidade, inglês e espanhol, e versado em muitas línguas e capaz de fazer diversos sotaques e tons de voz.
Cedo foi recrutado para os serviços secretos britânicos e nesse primeiro livro, embora saibamos alguns episódios da sua vida de espião, sabemos, sobretudo, como a sua mulher suporta as suas longas ausências e até a notícia da sua morte que, afinal, era claramente exagerada.
Neste volume de 650 páginas, Marías conta-nos o regresso de Nevinson do mundo dos mortos, a sua reintegração na embaixada de Londres em Madrid e, finalmente, descreve-nos, em pormenor, a sua nova missão.
Javier Marías é abundante em descrições dos pensamentos e das angústias das personagens; por exemplo, demora cerca de cem páginas para descrever o encontro de Nevinson com o seu chefe, altura em que vai conhecer a sua nova missão.
Esta última missão de Tomás Nevinson consiste em tentar descobrir qual de três mulheres, que vivem numa determinada cidade, teve um passado terrorista, ligado ao IRA e í ETA ““ e o livro é muito crítico em relação a estas duas organizações terroristas, descrevendo os seus atentados nos anos 90 do século 20.
Travestido em professor de inglês, Nevinson, com outro nome, claro, vai aproximar-se das três mulheres, tentando perceber qual delas teve um passado de terrorista.
E, finalmente, quando se descobrir qual delas é a tal, será que Nevinson é capaz de a matar?
Curiosa esta frase, colocada na boca do protagonista e muito actual: “E esse conceito moderno de crimes de guerra é ridículo, é estúpido, porque a guerra se compõe sobretudo de crimes, em todas as frentes, e do primeiro ao último dia”.
Recomendo.