“O Amor de uma Boa Mulher”, de Alice Munro (1998)

Depois de ter lido O Progresso do Amor, avancei para mais um livro de contos desta escritora canadiana, Prémio Nobel de 2013.

—São mais oito contos muito descritivos, com personagens sempre muito bem caracterizadas, desde as roupas que usam aos traços fisionómicos. Mesmo os personagens secundários são minuciosamente descritos e ficamos sempre a saber as suas profissões e como usam o cabelo.

Cada uma destas histórias poderia ser desenvolvida e transformar-se num romance, mas a autora, pelos vistos, prefere este tipo de textos, já que publicou doze colectâneas de contos.

Uma leitura agradável, embora pouco estimulante.

“Veracruz”, de Olivier Rolin (2016)

Olivier Rolin (França, 1947) é conhecido sobretudo pelo seu romance Tigre de Papel, finalista do Prémio Goncourt de 2003, sendo aind autor de outros romances, como O Meteorologista, Um —Caçador de Leões, etc.

Este Veracruz é uma pequena novela, diria quase um conto, que, como diz Le Magazine Littéraire, citada na capa, mistura “amor, morte, ilusões e contrabando” – e uma linguagem pesada, acrescentaria eu…

A história desenrola-se na cidade mexicana de Veracruz, onde um catedrático francês, já entrado na idade, vai dar um ciclo de conferências sobre Proust.

No intervalo das conferências, estando a relaxar no bar El Ideal, conhece Dariana, uma jovem mexicana com quem iria ter um caso de paixão avassaladora, descrito de uma forma muito romântica e, passo a redundância, muito apaixonada.

Depois de alguns dias e noites fogosas (o próprio professor se espanta com o seu renascido vigor sexual), Dariana desaparece sem deixar rasto. O professor procura-a sem sucesso e entrega-se ao álcool, até que um dia, recebe no quarto do seu hotel, um envelope com quatro textos – todos eles sobre uma jovem, Susana, objecto do desejo de vários homens.

—O primeiro texto é do padre Inácio, banido da igreja por se deitar com prostitutas e que está loucamente apaixonado por Susana; o segundo texto é do contrabandista Miller, actual companheiro de Susana e que fala dela como uma escrava sexual, a quem agride e humilha; o terceiro é do pai de Susana, que confessa ter morto a mãe para ficar sozinho com a filha e poder abusar dela, como o caçador abusa da presa, até que Miller chegou e a festança acabou; e o último texto é da própria Susana, texto esse que liga as pontas deixadas pelos outros três.

Como já disse, a linguagem usada por Rolin é forte, agressiva, como comprova este pequeno excerto do texto de Susana:

“Estou a ver-te, o duplo impacto empurra-te, esmaga-te, dobra-te no fundo da poltrona, levas as mãos í  barriga, queres berrar mas um rio de sangue já te afoga a garganta, cospes bolhas, Miller. Fala mais alto, não te percebo, Miller: queres um broche, é isso? Vais agarrar-me pelo cabelo, deitar-me de joelhos, baixar as tuas calças, empurrar a minha cara contra o teu sexo, obrigar-me a chupar-te, como de costume?Oh! No teu estado, achas mesmo? Pareces estar a sangrar um bocadinho. Estás com o período, Miller?”

A edição portuguesa é da Sextante, com tradução de Joana Cabral e o livro lê-se de uma penada e vale a pena.

 

“Dicionário Sentimental do Adultério”, de Filipa Melo (2017)

Filipa Melo é jornalista desde 1990 e tem já um extenso currículo, colaborando em inúmeras publicações e também nas televisões.

—No ano passado, a Quetzal editou-lhe este curioso dicionário que me proporcionou algumas horas de puro entretenimento.

De A a Z, a autora vai contando pequenas anedotas, factos históricos, citações célebres, definições, estatísticas, opiniões – tudo relacionado com o adultério e ofícios correlativos, digamos assim…

Claro que não podia faltar a brejeirice mais requintada, como é o caso do poema de Martim Soares, escrito por volta de 1240, e que diz assim (página 40):

Pero Rodrigues, da vossa mulher/ não acrediteis no mal que vos digam
Tenho eu a certeza que muitos vos quer/ Quem tal não disser quer fazer intriga
Sabia que outro dia quando eu a fodia/ enquanto gozava, pelo que dizia
muito me mostrava que era vossa amiga

Na página 66, conta-se a história de D. João V e de um jantar que ofereceu a um padre que estava farto de ouvir, em confissão, o rei vangloriar-se das suas aventuras extra-conjugais.

Ao longo do jantar foram sendo servidas diversas iguarias mas, para o padre, apenas canja de galinha.

Quando, finalmente, o padre indagou por que motivo só lhe serviam canja de galinha e nada de trutas, perdizes ou javalis, D. João V terá retorquido: “Está a ver, senhor padre… nestas coisas de comeres, não há como variar. Nem sempre galinha, nem sempre rainha”.

Na página 73, a entrada “Efeito Coolidge” conta-nos a história da visita do Presidente dos EUA, Calvin Coolidge, e da sua mulher, a uma fazenda experimental:

“Caminhando um pouco adiante do marido, esta (a mulher) chegou primeiro ao galinheiro, onde o funcionário responsável a informou de que o galo copulava cerca de dez vezes por dia. Então, ela pediu-lhe: «Diga isso ao meu marido, se faz favor».

Ao receber o recado, Coolidge perguntou: «Mas o galo copula sempre com a mesma galinha?». O funcionário garantiu-lhe que não. Não, senhor, o galo copulava com uma galinha diferente de cada vez. Então, foi a vez de Coolidge pedir: «Diga isso í  minha mulher, se faz favor».

Mas não se pense que o dicionário se limita a estas pequenas, mas deliciosas, anedotas; há muito mais material para nos entretermos.

Aconselho.

“A Porta”, de Magda Szabó

Magda Szabó nasceu em 1917, em território húngaro do Império Austro-Húngaro, e morreu em 2007, três anos depois da Hungria ter aderido í  União Europeia.A sua longa vida permitiu-lhe ter —passado por duas guerras mundiais e por diversas mudanças de regime político. Durante o poder comunista, teve problemas, como muitos outros escritores, tendo estado dez anos impedida de publicar, uma vez que não se conformava com o chamado realismo socialista.

Viveu o suficiente para ainda ver a Hungria transformar-se numa democracia – ironicamente, com ultra-direitista, nacionalista e xenófoba.

Este livro, A Porta, editado em 1987, relata a relação tumultuosa entre a escritora e a sua empregada, Emerence, uma velha senhora de difícil trato, orgulhosa e avessa a grandes amizades.

A narradora, que penso ser a própria Szabó, desenvolve uma relação ambivalente com a sua empregada, que é também uma espécie de porteira do prédio onde ambas vivem. Uma das críticas citadas na contracapa do livro, da London Review of Books, diz “Um dos triunfos alcançados por Szabó foi ter escrito uma obra profundamente política, enraizada na vida doméstica”,

—Sinceramente, não entendi a história dessa maneira. A narradora é uma intelectual, católica, que passa o dia a escrever e Emerence é uma mulher-a-dias, que despreza a religião e a educação, que trata mal toda a gente e que acaba por ter um acidente vascular cerebral e morrer, sendo que a escritora se sente culpada pela sua morte .

Tive dificuldade em perceber alguma segunda leitura do texto – até porque me pareceu confuso em algumas passagens,

Por exemplo, na página 220:

“Penso, vezes sem conta, que, no fundo, tudo se desenrolou de uma forma muito simples. Emerence já não fazia pesar os seus problemas insolúveis sobre os raros parentes e o círculo mais ou menos definido das suas relações, tudo ela resolvera pessoalmente, num gesto autoritário, í  maneira de um grande chefe guerreiro. Quando não se tem mais nada a fazer por si mesmo, porque já não se pode, convém, então, pí´r um ponto final na coisa, pois, quando a humanidade caminhar há muito í  escala das estrelas, os que estiverem vivos estarão longe de imaginar que, por uma chávena de cacau, nos entregámos a tristes combates, sós ou contra outros, mas, mesmo nessa altura, nunca se poderá corrigir o destino de quem não tem lugar na vida de ninguém”.

Não percebi!… Parece que falta aqui qualquer coisa.

E passagens destas são frequentes, o que tornou a leitura deste livro um pouco penosa.

“O Progresso do Amor”, de Alice Munro

—Alice Munro, Prémio Nobel em 2013, nasceu em Wingham, Canadá, em 1931, e talvez por ser canadiana, a sua escrita me parece muito mais europeia que canadiana.

Conhecida pelos seus contos, Alice Munro descreve-nos personagens credíveis, que imaginamos com facilidade. As suas histórias são banais mas ricas em pormenores.

Ficamos a conhecer os traços fisionómicos dos intervenientes, a maneira como se vestem, as suas profissões, as casas onde habitam e os episódios das suas vidas são contados com —minúcia. As histórias não têm um final, mas isso não é o mais importante – ao fim e ao cabo, qual é o final da vida?

Nunca tinha nada desta autora e confesso que não me entusiasma por aí além, embora pense que Alice Munro merece ser lida e, por isso mesmo, já tenho outro livro dela na calha. Pode ser que, ao segundo, fique mais convencido.

O Progresso do Amor é uma colectânea de dez contos, publicada em 1985, e editada em Portugal pela Relógio de ígua em 2011, com tradução de José Miguel Silva.

 

“A Gorda”, de Isabela Figueiredo (2016)

Confesso que há muito tempo que não lia um livro de um autor português e confesso que fiquei muito surpreendido com este romance de Isabela Figueiredo, uma jornalista e professora de português, nascida em Moçambique e que veio para Portugal em 1975.

—A gorda do romance, é também professora, filha de colonos portugueses, retornados a Portugal após o 25 de Abril e grande parte da acção decorre em Almada, Costa da Caparica, Cova da Piedade – e talvez, também por isso, identifiquei-me muito com esta história.

Maria Luísa é a protagonista e é uma lutadora: luta contra uma mãe castradora e um pai problemático, luta contra o seu corpo, cada vez mais pesado e disforme, luta contra uma paixão, que a consome e que não consegue ultrapassar.

A certa altura, Maria Luísa decide fazer psicanálise:

“A triagem remeteu-me para a psicanalista do Campo de Santana, na qual passaria os cinco anos seguintes a matar o papá. Recebeu-me num final de tarde em que combinámos as condições da terapia. Sugeriu, í  chegada, que me sentasse num cadeirão í  sua frente, mas respondi que o meu corpo não cabia no espaço formado pelo assento, e que, se tal viesse acontecer, nesse dia estaria curada.”

A relação entre Maria Luísa e a mãe é de conflito permanente:

“Digo, «estou muito constipada. Mal consigo abrir os olhos hoje, mãe, dói-me a cabeça e o corpo…». Logo me responde, «ora deixa-me cá. Estive para nem me levantar. É que nem consiguia vestir. Se tivesses as dores que tenho nos braços e na coluna, até chegar í  cabeça… parecem facas a espetar-se. Já tomei dois Voltaren, mas faz-me um mal ao estí´mago! Tens de me trazer mais Omeprazol. O fígado também não anda grande coisa; sinto umas picadas. Depois é o intestino, tu já sabes, sempre o mesmo problema. Tens que ir í  farmácia que me indicou a dona Luciana e perguntar se têm um medicamento novo cujo nome me há de mandar. É que não há nada, nada que me esvazie os intestinos, até tenho a barriga dura, carrega aqui! E com tudo isto não dormi nada!»”

Aconselho vivamente.

“Jesus na Escola”, de J. M. Coetzee (2016)

Três anos depois de A Infância de Jesus (2013), J. M. Coetze publicou este Jesus na Escola, uma sequela que me decepcionou.

—Se, no primeiro livro, a estranheza das situações criavam uma certa aura de mistério que permitiam diversas interpretações, neste segundo livro, o absurdo de alguns acontecimentos são apenas isso mesmo – absurdos.

Ao colocar Jesus nos títulos dos livros, quando nenhum dos personagens se chama Jesus, Coetzee deve ter tido alguma intenção: transformar tudo isto numa parábola? Não me parece… e daí…

Nesta sequela, Simon, Inês e David – o pai que não é pai, a mãe que não é mãe, e o filho que não é filho – fogem de Novilla e vão para Estrella (outra escolha que não parece ser ao acaso: todas as restantes personagens têm nomes castelhanos, excepto o assassino).

Como David não está recenseado, não pode ir para uma escola pública. Por esse motivo, Simon e Inês inscrevem-no na Academia de Dança, dirigida por um idoso Sií±or Arroyo e pela sua jovem esposa, Maria Magdalena. Nessa Academia, David vai aprender a dançar os números, seja lá o que isso for…

Coisas estranhas se passam nessa Academia de Dança, onde um empregado chamado Dmitri está apaixonado pela patroa; por vezes, professores e alunos fazem excursões até í  praia, onde se passeiam todos nus…

í€s tantas, Dmitri viola e estrangula a Maria Magdalena e é sentenciado a ser internado no Hospital Psiquiátrico (a outra opção era as minas de sal).

Em resumo, parece que J. M. Coetzee se deixou levar pelo encantamento deste “novo mundo” que inventou e, na minha opinião, estragou tudo…

Outros livros de J. M. Coetze: No Coração desta Terra (1976); O Homem Lento (2005); Diário de Uma Ano Mau (2007); A Vida e o Tempo de Michael K. (1983)

“Pastoralia” de George Saunders (2000)

—George Saunders (Texas, 1958), acaba de ganhar o Booker Prize com o romance “Lincoln no Bardo”, mas é mais conhecido como autor de short stories, publicadas em diversas revistas norte-americanas e em colectâneas.

Pastoralia é um conjunto de seis histórias, publicadas em 2000 e editadas no ano passado pela Antígona.

Saunders escreve sobre a América, os seus tiques e os seus truques, escreve sobre pessoas solitárias, os típicos loosers a quem tudo corre mal mas estão sempre a imaginar como a vida poderia ser se não fosse como é.

—A história de abertura, que dá o título í  colectânea remete-nos para os reality shows absurdos que pululam na televisão. A acção passa numa espécie de parque temático onde um homem e uma mulher simulam viver no Paleolítico. De vez em quando, surgem visitantes, que vão ver como o Mundo era antigamente. Mas também aparece, por exemplo, o filho da mulher, toxicodependente, e que lhe vai pedir dinheiro para consumir e cujo discurso é notável:

“Tudo bem se calhar não devia ter vendido a televisão, mas tu não és uma consumidora involuntária de substâncias, e sabes que mais, eu sou, por isso é que lá estava. Percebes o que estou a dizer? Eu sei que gostavas de ter um filho perfeito, mas não tens, tens um filho que é consumidor involuntário de substâncias e que por vezes comete erros de avaliação, tipo pedir uma televisão emprestada e depois vendê-la para comprar substâncias.”

Mas a história de que mais gostei foi A Infelicidade do Barbeiro, que nos conta o dia-a-dia de um barbeiro de meia idade, solteiro, que ainda vive com a mãe e que sonha com uma namorada, seja ela quem for. Por alguma razão que não é dita, está a frequentar um curso destinado a quem perdeu a carta de condução por erros graves. É lá que conhece uma rapariga “bonita mas gorda” e começa a fantasiar sobre ela:

“Ela sorriu. O coração dele começou a bater mais depressa. Isto nunca acontecia. Elas nunca sorriam. Bem, esta ainda era nova. Se calhar não sabia que não se devia sorrir para homens mais velhos quando não queria ter nada com eles. Ou então se calhar queria mesmo. Era possível. Talvez estivesse farta de rapazolas cheios de tesão que só queriam uma cambalhota rápida. Talvez quisessem agora experimentar alguém com idade suficiente para a apreciar, alguém que não se viesse demasiado depressa e que trabalhasse por conta própria, e que fosse arrumadinho. Por vontade do barbeiro, ela ainda seria virgem por motivos religiosos e nunca tinha dado sequer uma cambalhota. Não que preferisse que ela fosse frígida. Por vontade dele seria uma daquelas virgens por motivos religiosos que, logo depois de casar, se revela uma grande maluca, e quando não se está a revelar uma grande maluca exibe uma serena dignidade nas suas roupas conservadoras de forma que ninguém pode sequer suspeitar quão total e completamente ela se revela uma grande maluca quando tem vontade…”

Gostei mesmo!

 

“Swing Time”, de Zadie Smith (2016)

—Zadie Smith nasceu em Londres em 1975, filha de mãe jamaicana e pai inglês, tal como a narradora deste romance. Em criança, gostava de sapateado e, quando adolescente, considerou a hipótese de uma carreira como actriz de musicais, tal como Tracey, a amiga da narradora de Swing Time.

As duas amigas cresceram num bairro social dos subúrbios de Londres e as descrições que Zadie Smith faz desses ambientes remeteu-me para o Bairro do Pica-Pau Amarelo, perto do qual trabalho há décadas.

A mãe da narradora é uma activista, que estuda e luta pelos direitos das minorias.

Diz a protagonistas, sobre a mãe:

“Nunca se submetia, por exemplo, ao culto da «impecabilidade» reinante no bairro – a paixão dos fatos de treino reluzentes, das coruscantes jóias falsas, dos dias inteiros passados no cabeleireiro, dos filhos com ténis de cinquenta libras, dos sofás pagos a prestações ao longo de vários anos – se bem que também não condenasse completamente nenhuma destas coisas. As pessoas não são pobres por terem tomado opções erradas, gostava de dizer a minha mãe, tomam opções erradas porque são pobres”.

Esta última frase aplica-se a muitos dos meus doentes, habitantes dos bairros sociais do Monte de Caparica…

As duas amigas querem ser bailarinas e adoram os musicais de Hollywood, sobretudo os de Fred Astaire, mas também admiram Michael Jackson. Frequentam aulas de dançam e treinam todas as tardes.

Quando chega a adolescência e os seus conflitos, começam a afastar-se.

A narradora diz:

“Eu, pelo contrário, tinha sido completamente apanhada desprevenida pela adolescência, continuando a trautear canções de Gershwin no fundo da sala de aula enquanto, í  minha volta, os círculos de amizade começavam a formar-se e a consolidar-se, definidos pela cor, classe, dinheiro, código postal, nacionalidade, música, droga, política, desporto, aspiração, língua, sexualidade… um dia dei a volta naquele enorme jogo de cadeiras musicais e verifiquei que não havia lugar para mim. Sem saber o que fazer, fiz-me gótica.”

Separadas pela vida, a narradora torna-se assistente pessoal de uma artista pop norte-americana, com ascendência africana que tem muitos pontos comuns com algumas reais bem conhecidas: filhos de pais diferentes criados por amas, fundação de escolas para crianças das aldeias africanas… – enquanto Tracey, a amiga de infância, consegue ser bailarina em alguns shows musicais mas acaba de volta ao bairro social, com três filhos, um de cada pai.

Tal como aconteceu com o novo romance de Arundathi Roy, também esta nova história de Zadie Smith me desiludiu um pouco. Penso que quis abarcar coisas demais na mesma história e que acabou por ter material a mais…

Chegamos ao fim da história sem algo de palpável. Vale a pena lutar para sair do círculo vicioso do bairro social e do estigma de ser diferente, não vale a pena fazer nada porque tudo acaba com a morte (a mãe da narradora morre com cancro da mama), mesmo os que saltam de estrato social não conseguem ajudar os seus congéneres porque confundem desenvolvimento com caridade?…

Muitas questões que Zadie Smith expõe mas não desenvolve e o livro acaba por ser “apenas” mais uma história…

“Terra Amarga”, de Joyce Carol Oates (2010)

—Joyce Carol Oates (1938), é uma escritora norte-americana, autora de diversas novelas, peças de teatro e colectâneas de contos, e que, por várias vezes, fez parte das listas para o Nobel da Literatura.

Este Terra Amarga é um conjunto de dezasseis contos que têm em comum o luto, a perda e a violência das emoções.

Não são histórias fáceis e valem, sobretudo, pelo ambiente que Oates consegue criar com a força das suas palavras.

—A última história, que dá o título í  colectânea (Sourland) é, simultaneamente, erótica e violenta, contando-nos a história de Sophie, uma viúva de  meia-idade que, pouco depois da morte do marido, aceita ir ter com um homem que mal conhece, desfigurado por uma explosão e que vive numa cabana perdida no meio da floresta gelada do Minnesota.

Perturbadoras histórias, no mínimo…

Edição Sextante, 2014, tradução de Susana Baeta.