Rio de aço

Aqueles que pensavam que Rui Rio era de ferro, foram agora desenganados por um psiquiatra.

Se Rio fosse de ferro, enferrujava.

Rio é de aço.

Pelo menos é o que diz Carlos Mota Cardoso, psiquiatra e amigo do ex-presidente da Câmara do Porto.

E como deve ter achado que dizê-lo era pouco, o psiquiatra escreveu um livro, a que deu o título elucidativo de “Raízes d’Aço”, assim mesmo, com apóstrofo e tudo!

Segundo o Expresso, “ao longo de 300 páginas, Mota Cardoso traça um perfil psicológico do ex-autarca e potencial candidato presidencial, pessoa de quem é amigo há muitos anos e de quem se propí´s traçar «um retrato intimista»”

A primeira coisa que nos espanta é logo esta: como é possível escrever 300 páginas sobre Rui Rio?

A segunda coisa espantosa é o psiquiatra querer traçar um «retrato intimista» do amigo. Porquê? Que força interior o impeliu a tamanho acto? Que tem RR de especial que mereça que alguém, mesmo um psiquiatra, perca tempo a traçar-lhe seja o que for?

Diz o psi: «recebi o convite de uma editora, falei com o dr. Rui Rio, ele confia em mim, sabe que eu o conheço, não no plano médico mas como amigo, e não se opí´s».

í“ senhor doutor: o senhor quer que a gente acredite que há uma editora que, de repente, se lembrou de lhe pedir para escrever um livro sobre o Rui Rio?

O editor estava em casa, preocupado porque a sua editora há muito tempo que não tinha um êxito editorial. Em carteira, nenhum grande título, nenhum autor famoso: nada de J. K. Rowling, nenhuma obra nova de E. L. James – que raio havia ele de lançar, de modo a abanar o mercado? Claro: um livro sobre Rui Rio!

E quem o haveria de escrever senão o psiquiatra de Rui Rio, perdão, o amigo de Rui Rio que, por acaso, é psiquiatra – a profissão não tem nada a ver com a amizade, até porque RR não precisa de psiquiatra para nada!

A notícia do Expresso acrescenta ainda este naco delicioso: “ao rever episódios da vida do ex-autarca, o livro vai definindo características de carácter e personalidade do político e isso tem a vantagem de mostrar «a parte da árvore que não se vê»”.

Passando por cima do português da notícia (“características de carácter”…), percebemos a razão do título do livro, “Raízes de Aço”: Rui afinal não é um rio, é um árvore – um árvore com raízes bem fortes, de aço, mas o que a gente vê é o tronco; se quisermos ver a outra parte, as tais raízes de aço, teremos que ler o livro, ou, melhor ainda, votar em RR para a presidência da República.

Mal posso esperar por ler este livro! Estou desejoso de conhecer “episódios da vida” de Rui Rio, caramba!

 

“Nove Histórias”, de J. D. Salinger (1948-53)

salingerJ. D. Salinger (1919-2010) é conhecido pelo romance The Catcher in the Rye (Uma Agulha no Palheiro), publicado em 1951 e que foi um êxito instantâneo e que, ainda hoje, continua a vender cerca de 250 mil cópias por ano.

Talvez amedrontado com tal sucesso, Salinger pouco mais obras publicou, deixou mesmo de publicar em 1965 e deu a última entrevista em 1980.

9 historiasEstas 9 histórias, que a Quetzal editou no ano passado, com tradução de José Lima, surpreendem, sobretudo pelos diálogos, tão bem escritos que parecem transcrições de conversas reais.

As histórias são estranhas, tão estranhas como alguns dos seus títulos: Um dia ideal para o peixe-banana, Pai torcido no Conneticut ou Pouco antes da guerra com os esquimós.

Não é, de facto, uma leitura fácil, as histórias não têm um final feliz, aliás, muitas vezes, nem final têm, mas a escrita é soberba.

“O Museu da Inocência”, de Orhan Pamuk (2008)

pamukArranjei finalmente vontade para ler este romance de Orham Pamuk (Istambul, 1952). Como já disse, desconfio sempre dos best sellers e receava que este fosse mais um desses livros que vendem milhares e que pouco interesse têm.

O Museu da Inocência foi o primeiro romance que Pamuk escreveu depois de ter ganho o Nobel, em 2006.

E esmerou-se.

Tenho alguma dificuldade em qualificar o livro mas apetece-me dizer que parece um romance “í  moda antiga”, uma história escrita por alguém muito antigo, uma história “que já não se usa” …

museu da inocenciaO livro conta a história de Kemal, um jovem novo-rico de 30 anos que, apesar de estar noivo de outra abastada jovem, se apaixona por uma prima afastada, Fusun, de 18 anos, empregada numa loja de roupa. Amor impossível.

A história, que parece saída da Mil e Uma Noites, começa nos anos 70 e prolonga-se por cerca de 30 anos e, í  medida que se desenrola, vamos tomando contacto com a evolução de Istambul, pelo menos ao nível das classes mais endinheiradas que queriam, a toda a força, ser e, sobretudo, parecer, ocidentalizadas.

Como se diz na página 275: «Na Europa, os ricos são suficientemente refinados para agir como se não fossem ricos. É assim que as pessoas civilizadas se comportam. Se queres saber a minha opinião, ser culto e civilizado não tem nada a ver com sermos todos livres e iguais; tem a ver com sermos todos suficientemente refinados para agir como se assim fosse.»

Kemal vai para a cama com Fusun, o que é muito “ocidental”, mas nunca chegam a casar.

Nos anos seguintes, a obsessão de Kemal por Fusun vai crescendo e começa a coleccionar objectos relacionados com ela: brincos, postais ilustrados das ruas que percorreram juntos, bilhetes e cartazes de cinema, beatas que ela fumou, etc, até nascer a ideia de fazer um Museu todo dedicado a ela.

E Pamuk foi mais longe, criando mesmo um Museu da Inocência, num dos bairros de Istambul (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Museum_of_Innocence_%28museum%29).

Passei apenas dois dias em Istambul, mas a leitura deste livro fez-me lembrar constantemente aquela cidade, não sei explicar porquê.

Talvez porque Pamuk conseguiu impregnar a sua história com a essência da cidade onde nasceu.

Vale a pena ler.

“O Sentido do Fim”, de Julian Barnes (2011)

barnesVencedor do Man Booker de 2011, Julian Barnes tem uma escrita sóbria e perfeita.

The Sense of an Ending, escrito na ressaca da morte da sua companheira, a agente literária Pat Kavanagh, conta-nos a história de Tony Webster que, já reformado, tem conhecimento do suicídio de um amigo da juventude e que este lhe teria deixado, em testamento, um diário.

Para o obter, Webster tem que entrar em contacto com uma antiga namorada e todo esse processo o faz recordar momentos do passado.

Nascido em 1946, Barnes, falando pela voz do personagem, diz coisas que me são muito familiares, nomeadamente no que diz respeito aos grupinhos de rapazes do Liceu e í s suas conquistas amorosas mais ou menos frustradas.

A propósito do ultrapassado conceito de “andar” com uma rapariga:

“…erasentido do fim isto que costumava acontecer: conhecíamos uma rapariga, sentíamo-nos atraídos por ela, tentávamos cativá-la, convidávamo-la para um ou dois eventos sociais – o pub, por exemplo – depois convidávamo-la para sair a sós, convidávamo-la de novo e, após um beijo de boas noites de intensidade variável passávamos, por assim dizer, “a andar” com ela. Só quando estávamos pratica e publicamente comprometidos, é que descobríamos a política sexual dela. E por vezes isso significava que o corpo dela era tão estrito e reservado como uma zona de pesca exclusiva.”

E isto era mesmo assim porque, como também diz o protagonista do livro, estávamos nos anos 60, sim senhor, mas esses anos não foram iguais em toda a parte, nem para toda a gente.

Sentindo-se já um pouco decadente, Tony Webster também projecta o seu futuro, desta maneira:

“Ser velho, estar no hospital e ter enfermeiras que nunca vi a chamarem-me Anthony, ou pior, Tony. Deixa-me espetar-te isto no braço, Tony. Toma mais papa, Tony. Evacuaste, Tony? Claro que, quando isso acontecer, a excessiva familiaridade do pessoal de enfermagem deverá estar no fim da minha lista de preocupações; mas ainda assim.”

O tempo, a passagem do tempo, é um dos cernes deste livro, e Barnes resume isso muito bem neste período:

“Mas o tempo… o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e não de as enfrentar. Tempo… deem-nos tempo suficiente e as nossas decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas, bizarras.”

Com tradução de Helena Cardoso e edição Quetzal, eis um livro que recomendo vivamente.

Outras obras de Julian Barnes Arthur & George (2005) e Amor & Etc (2000)

Erotismo ou pornografia?

Confesso que o “fenómeno” das “50 Sombras de Grey” me passou praticamente ao lado.

Só recentemente, com a estreia do filme baseado no livro, me interessei perifericamente pela coisa. Ouvi então falar de “pornografia para mamãs” e deparei-me com acérrimas defensoras do estilo.

Claro que não li os livros da E. L. James, nem faço tensão de os ler. Tenho uma prateleira cheia de livros a sério para ler.

2015-02-21 11.40.14Só que ontem, ao visitar a Fnac, em busca de um livro de contos de Joyce Carol Oates (“Terra Amarga”), deparei com uma prateleira pejada deste lixo:  “O Inferno de Gabriel”, “Pede-me o que quiseres”, “Proposta Indecente”, “Noites Escaldantes”, “Rosa Selvagem”, “O íŠxtase de Gabriel”, e, claro “As 50 Sombras de Grey”.

Não sei se isto é “pornografia para mamãs”. Há muitos anos, o meu tio Zé Ricardo diria que era literatura para grávidas e pupilos do exército.

No fundo, vai dar ao mesmo.

Gina91Por brincadeira, lembrei-me dessa publicação democrática que surgiu em setembro de 1974, resultado das “portas que Abril abriu” e que se chamava Gina.

Assim como nunca me passou pela cabeça comprar um dos calhamaços de E. L. James, também nunca comprei um único exemplar da Gina.

Isso não quer dizer que eu não conheça ambos os fenómenos.

Para o comprovar, aqui ficam algumas frases respigadas de ambas as obras:

1)”Eu não faço amor, eu fodo com força”

2) “Agora vou-te cavalgar, enfiar-me toda nessa grossa verga.”

3) “…A linha entre o prazer e a dor, é muito fina.”

4) “Paris é uma cidade onde todos os dias se passam histórias de orgias”

5) “…Por algum motivo não consigo ficar longe de você.”

6) “Olha para o costureiro e não resiste í  tentação de lhe tirar as calças para baixo e ver como está o seu membro”

7) “Ele deixa-me louca. Ouço-o sorrir.
O gelo no meu umbigo esta derretendo. Estou para lá de quente – quente e gelada e querendo-o dentro de mim. Agora.”

8) “Solta um pequeno gemido, quando sente aquele monstro começar a entrar nas suas entranhas”.

Claro que os entendidos perceberam logo que as frases 1, 3, 5 e 7 são citações da E. L. James, enquanto as 2, 4, 6 e 8 são da Gina.

Escusam de perder tempo a ler as coisas. Procurem aqui: http://pensador.uol.com.br/frases_cinquenta_tons_de_cinza/ e aqui http://revistagina.tumblr.com/.

Tudo isto me fez lembrar um texto do Mário-Henrique Leiria, publicado em O Coiso, em 16 de Maio de 1975, sob o título “Erotismo ou pornografia”.

Rezava assim:

“O Coiso tem andado bastante preocupado, dado que se sente inculto, ignorante, indigno de ser intelectual do novo tipo. O Coiso não sabe qual é a diferença entre erotismo e pornografia, vejam vocês!

(…) Sem saber essa diferença que parece ser fundamental, como é que ele podia candidatar-se a crítico literário, de arte, de teatro, de televisão, enfim, crítico importante no processo revolucionário? Sim, como?

Achei por bem que nos fí´ssemos esclarecer. É que eu tenho um amigo, professor universitário, é evidente, que sabe dessas coisas. É democrata tremendo há já um ano e alguns dias, o que nos dá garantias suficientes. Além disso, percebe muito de semântica e tem uma barba razoável. Mais garantias ainda.

Fomos, velozes.

O meu amigo, professor universitário, repito, afirmou-nos, concreto:

– Ora vejamos. Quando declaro grunf tobutu grink zunk zunk anabólico toribu chi cué damoi trabusni, isto é erotismo. Dado que a incidência zunk zunk se projecta directa e integralmente em trabusni. Muito bem. Mas se eu afirmar, peremptório, grunf tobutu grink zunk zunk anabólico toribu chi cué trabusni damoi, isto é pornografia. E porquê? Porque, meus caros, a incidência passa de trabusni para damoi. Creio que fui suficiente e dialecticamente claro. E agora deixem-me trabalhar.”

Espero que vocês também tenham ficado esclarecidos.

Nota: livros verdadeiramente aconselhados, a quem gosta de sexo na literatura ou literatura no sexo: Sexus, Nexus, Plexus, Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, todos de Henry Miller, Henry & June, Passarinhos, Incesto, Delta de Vénus, de Anais Nin, A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, A Vida Sexual de Catherine M., de Catherine Millet, etc…

“O Pintassilgo”, de Donna Tartt (2013)

Donna Tartt by Beowulf SheehanDona Tartt (Greenwood, Mississipi, 1963), é uma escritora norte-americana, autora de três calhamaços com muitos anos de intervalo e sempre com muito bom acolhimemento por parte da crítica.

Publicou The Secret History em 1992, The Little Friend em 2002 e este The Goldfinch em 2013.

O Pintassilgo são 893 páginas densas que percorrem vários anos na vida de Theo Decker.

pintassilgoTheo, então com 13 anos, está com a mãe a visitar o Metropolitan Museum de Nova Iorque, quando acontece uma atentado terrorista. A explosão de uma bomba mata a mãe, destroi uma parte do Museu e Theo, no meio dos destroços, conhece um velho que, moribundo, o incita a levar o quadro de Carel Fabritius, que mostra um pequeno pintassilgo, preso por uma corrente a uma espécie de poleiro.

Theo leva o quadro para casa, embrulha-o numa fronha de almofada e por ali fica alguns dias, até que a Segurança Social lhe arranja uma família de acolhimento. Nas suas deambulações por Manhattan, Theo trava conhecimento com um restaurador de móveis, de quem fica amigo e que, vem a descobrir mais tarde, estava relacionado com o velho que Theo viu morrer no Metropolitan.

Entretanto, o pai de Theo, separado há muito da mãe, decide vir buscá-lo e levá-lo para a sua casa, em Las Vegas. É lá que Theo conhece Boris, um adolescente de ascendência russa, que o inicia no álcool e nas drogas.

O pai de Theo, alcoólico e jogador compulsivo, acaba por morrer alguns anos depois, vítima de acidente e o rapaz regressa a Nova Iorque e procura o restaurador de móveis, ficando a viver na sua casa e ajudando-o no negócio do mobiliário.

E o quadro de Fabritius nunca é devolvido ao Museu, viajando com Theo de Nova Iorque até Las Vegas, e de volta a Nova Iorque – ou assim ele pensa.

E é aí que entram em jogo os traficantes de arte, cenas de acção em Amesterdão e um final inesperado.

Confesso que o livro me parece extenso de mais; algumas partes eram dispensáveis ou poderiam ser encurtadas, como a descrição dos dias que Theo passa no quarto do hotel em Amesterdão, depois de ter morto um bandido, mas parece-me que Donna Tartt deve ser daquelas escritoras que não consegue parar. Aliás, o livro poderia continuar porque, quando termina, Theo deve ter pouco mais de 30 anos…

Recomendo, mas é preciso algum estofo e um bom par de bícepetes, já que o calhamaço pesa quase meio quilo.

“Contos Vagabundos”, de Mário de Carvalho (2014)

contos vagabundosMário de Carvalho gosta destes textos curtos e eu gosto de lê-los.

Mais importante que o desenlace das histórias é a linguagem que o autor utiliza.

Exemplo, retirado do conto “Fenómenos da Aviação”:

“Foi o caso de D. Maria de Lurdes, açoriana e asmática, que veio declarar a quem a quis ouvir…”

Adjectivar a senhora com a naturalidade e a doença, é óptimo.

Outro exemplo, do conto “Uma Vida toda Empatada…”:

“Virada a chave da ignição, a carrinha atirou um rolo de gases negros e pí´s-se a tremer, com umas estridências de lata, pouco subtis”.

E são estas palavras que me encantam, mais que as próprias histórias, por vezes, um pouco, digamos, vagabundas…

Acontecimento do ano: a porra do Soriano

ATENí‡íƒO: Este texto não deve ser lido por jovens efebos, virgens indefesas e pupilos do exército.

Não, o acontecimento do ano não foi a prisão do Sócrates, o estoiro do BES, a condenação de Duarte Lima ou a detenção de Paulo Portas, perdão, Paulo Portas não é para aqui chamado porque, na verdade, ele nem sabe bem o que é um submarino…

E também não, o homem do ano não é Cristiano Ronaldo, nem o Papa Francisco, nem Carlos do Carmo, muito menos o vírus ébola.

O acontecimento do ano e o homem do ano são, simultaneamente, o espião cubano Gerardo Hernandez e o facto de ele ter engravidado a sua mulher, Adriana, que vive em Havana, apesar de estar preso e condenado a prisão perpétua, nos Estados Unidos!

Podem verificar a notícia aqui: http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2014-12-23/gravidez-de-cubana-foi-uma-das-condicoes-para-acordo-historico.html

poesiaO facto de Gerardo, nos EUA, ter conseguido engravidar a mulher, em Havana, trouxe-me í  memória um poema de Guerra Junqueiro (1850-1923), que faz parte da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, selecção de Natália Correia; este notável livro saiu, pela primeira vez, em 1965, mas foi logo apreendido pela PIDE – como era possível que escritores tão importantes como Guerra Junqueiro, Almeida Garrett, até Camões, tivessem escrito estas ordinarices!

Consegui, em 1973, um fac smile desse livro e passei algumas horas a copiá-lo, transcrevendo na minha velha e saudosa Olivetti…

Finalmente, em 1999, a editora Antígona-Frenesi teve a boa ideia de reeditar o livro.

Resumindo: a história do espião cubano fez-me lembrar o poemas A porra do Soriano, de Guerra Junqueiro, que é assim:

Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
       Para o cantar inteiro e o cantar bem
precisava de viver como Matusálem
        Dez séculos!

                               Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem os colhões de que dão ideia vaga
as nádegas brutais do arcebispo de Braga.

Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
          Mastro do Leviathan! Eminência revel!
          Estando murcho foi a torre de Babel!
          Caralho singular! É contemplá-lo!
                                                                        Â É vê-lo
teso! Atravessaria o quê?
                                             O Sete-estrelo?
Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra!

          É uma porra, arquiporra!
                                                        Â É um caralhão atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder, da Terra, Eva no Paraíso!

Assim deve ser o do Gerardo que, dos States, engravidou Adriana, em Havana.

Abençoado!

“500 Frases Que Mudaram a Nossa História”, de João Ferreira

big500-Frases-que-Mudaram-a-nossa-HistoriaOra aqui está um livro curioso, para estar sempre í  mão de semear, para consulta.

O jornalista João Ferreira coleccionou 500 frases mais ou menos célebres que, de um modo ou outro, marcaram a História – e escrevo História com agá maísculo, uma vez que o livro cita frases proferidas desde a chamada Antiguidade Clássica até aos nossos dias.

Mas o autor não se limitou a coleccionar as ditas frases célebres; cada uma delas está devidamente contextualizada,  o que nos permite melhor perceber o impacto da frase.

Tomem lá algumas dessas frases:

«A longo prazo estaremos todos mortos» – John Maynard Keynes

«Quarenta anos é uma idade terrível… porque é a idade em que nos tornamos aquilo que somos» – Charles Péguy

«Não posso ouvir tanto Wagner. Começa a dar-me vontade de invadir a Polónia» – Woody Allen

«Houve alturas em que ponderei o suicídio, mas com a sorte que tenho seria provavelmente uma solução temporária» – Woody Allen

«Não quero conquistar a imortalidade pela minha obra, quero conquistar a imortalidade por não morrer» – Woody Allen

«O estúpido é mais perigoso que o bandido» – Carlo M. Cippola

«Se você deve 100 libras ao seu banco, você tem um problema. Mas se deve um milhão, ele é que tem» – John Maynard Keynes.

O facto de ter escolhido três frases do Woody Allen, não quer dizer que o humor predomine nestas 500 frases – é apenas uma preferência pessoal.

“Quando a Tua Ira Passar”, de Asa Larsson (2009)

De vez em quando, apetece-me ler um policial, para matar saudades dos livrinhos da colecção Vampiro, de Dashiel Hammet, Rex Stout, Mickey Spillane, Raymond Chandler e quejandos.

E, hoje em dia, diz-se que os melhores escritores policiais estão nos países do norte da Europa, nomeadamente na Suécia.

Já tinha lido um livrinho de Henning Mankel e do seu inspector Wallander (Um Homem Inquieto) e decidi experimentar agora Asa Larsson.

asa_larssonNascida em Upsala, em 1966, Larsson já publicou 5 romances policiais, tendo começado em 2003, com apenas 37 anos.

Este Quando a Tua Ira Passar é considerado o seu melhor livro, mas não me deslumbrou.

Trata-se da história de dois jovens que são assassinados para que um antigo segredo, relacionado com colaboracionistas pró-nazis, não seja desvendado.

iraTudo se passa no norte da Suécia, com muita neve, muito frio e muito gelo, mas há alguns pormenores que me desagradaram.

Por um lado, um dos jovens assassinados surge, de vez em quando, mesmo depois de morto, como se fosse um segundo narrador da história e, por outro, os nomes dos personagens e dos locais são tão arrevesados que só, mais ou menos, a meio do livro consegui começar a identificar cada um deles, sem confundir o Sven-Erik Stalnacke com o Airi Bylund, ou o Tore com o Hjalmar…

A cena final, no entanto, está bem esgalhada e é capaz de dar um bom filme.