“Pornopopeia” (2008), de Reinaldo Moraes

Li algures que este livro do escritor brasileiro Reinaldo Moraes, fazia lembrar os lendários Sexus, Plexus, Nexus, Trópico de Cancer e Trópico de Capricórnio, de Henry Miller.

Ora, eu li esses cinco livros do Miller, de enfiada, em 1980, quando tinha 27 aninhos. Marcaram-me de tal modo que não hesitei em ler este Pornopopeia. No fundo, estava com esperança de reviver os meus verdes anos.

—Não posso dizer que tenha sido tempo perdido (e foi muito, que o calhamaço tem quase 600 páginas!), mas o livro tem pouco a ver com aqueles outros do Miller. Talvez se aproxime de outra obra, menor, muito menor, do escritor norte-americano, chamada Opus Pistorum – livro que Miller terá escrito apenas para ganhar dinheiro, a xis dólares por página, e tendo por obrigação descrever o maior número de fodas possível.

Pornopopeia está escrito em brasileiro, por vezes tão cerrado que quase precisaria de tradução. Exemplo:

“Cê acredita que ela me deu bom-dia coçando a bunda por dentro da calcinha? Bitchí´?! Quê que é aquilo?! Ela tá pensando o quê, essa menina? Que eu sou eunuco? Eu sí´ minêro, sí´! Minêro não moderniza nessas coisa. Muié é muié, vaca é vaca. E as duas a gente toca ca vara. Essa menina tá facilitando comigo. Que nem outro dia que eu entrei no quarto da Estelinha pra falar num sei que e tava lá a Sossí´ de costas pra porta, sem camiseta nem sutiã, cum puta dragão tatuado na lomba, coisa mai doida, sí´. Ni qui ela notou minha presença, virou de perfil pra mim. E eu vi, rapá, eu vi: um peitinho da Sossí´! Um só, branquim de leite.”

O livro conta-nos as andanças de um falhado realizador de cinema que, ao fim e ao cabo, o que quer é snifar coca e comer gajas. Ao contrário dos tais livros do Miller, não há cá filosofias de vida nem porra nenhuma (o Miller andava por Paris, em busca da liberdade e da cultura…). O herói deste livro, prosaicamente chamado Zé Carlos, o que quer é bundas e bucetas e boquetes e punhetas com lulas e o cacete! Exemplo:

“No que ela entrou no carro já lhe passei o cinquentinha do michê, que ela enfiou rápido no decote. Sempre faço isso, de pagar a puta antes. Cria um clima de confiança, esquenta a relação, melhora a qualidade da foda.”

A páginas tantas, o livro fez-me lembrar alguns filmes pornográficos: temos uma descrição detalhada e prolongada de uma orgia numa espécie de igreja oriental, outra orgia num bar de alterne, várias quecas com uma sexagenária e uma tarde de sexo atlético com uma jovem “caiçara”. No meio destas cenas, que envolvem tudo o que se possa imaginar, no que respeita ao desporto sexual, há um fio de história, muito fraquinho, que envolve um dealer de cocaína, que é morto, acidentalmente, pela polícia, que culpa o fodilhão do Zé Carlos.

Em resumo: a coisa é divertida, mas é uma obra menor, acho eu.

“Blink” (2005), de Malcolm Gladwell

Malcolm Gladwell é um jornalista nascido no Canadá, em 1963, e que vive em Nova Iorque, pertencendo í  redacção da New Yorker desde 1996.

Autor de quatro livros, foi considerado pela Time, em 2005, uma das 100 pessoas mais influentes.

—Este “Blink” é um livro sobre as decisões que tomamos num piscar de olhos, “o pensamento que não é pensado”, as decisões “instintivas”, mas que, no fundo, são baseadas na enorme base de dados que é (ou devia ser…) o nosso inconsciente.

Socorrendo-se de inúmeras experiências realizadas por diversos autores, Gladwell fala-nos das diversas variáveis que podem influenciar as nossas decisões.

Talvez a mais surpreendente seja a que é relacionada com o sexo ou a cor da pele, ou ainda, de um modo mais generalista, com a aparência geral da pessoa.

Cita, por exemplo, o Implicit Association Test, inventado por um grupo de psicólogos de Harvard e que pode ser consultado e experimentado aqui – www.implicit.harvard.edu.

Gladwell conta como as orquestras sinfónicas norte-americanas só tinham cerca de 5% de mulheres instrumentistas e como, nas audições, os homens eram quase sempre preferidos í s mulheres. Quando, há cerca de 25 anos, alguém se lembrou de colocar os candidatos atrás de biombos, as mulheres passaram a ser mais vezes escolhidas e, hoje em dia, já representam 50% dos membros de qualquer orquestra – mesmo em instrumentos como a tuba que, até há alguns anos, só tinha homens a soprarem nela…

Mostra que a nossa capacidade de decisão instantânea é muito alterada com o aumento da complexidade da escolha e comprova-o com o popular teste da Pepsi e da Coca-Cola. Quando temos que escolher entre dois copos, acertamos um número razoável de vezes; mas basta colocar três copos, dois com Pepsi e um com Coca, ou vice-versa, para o número de erros ser muito maior.

Em resumo, Gladwell acaba por nos dizer que, quando temos que decidir sobre um coisa simples, devemos sempre considerar os prós e os contras, estudar bem a situação e só depois, decidir. No entanto, quando temos que tomar uma decisão verdadeiramente importante, mais vale confiar nos nossos instintos, no nosso inconsciente.

Ao fim ao cabo, concorda com Freud e cita-o: «quando tomo uma decisão pouco importante, penso que é sempre vantajoso considerar todos os prós e contras. Porém, em questões vitais, como a escolha de um parceiro ou parceira, ou de uma profissão, a decisão deve vir do inconsciente, de algures de dentro de nós. Penso que nas decisões importantes da nossa vida pessoal devíamos reger-nos pelas necessidades interiores profundas da nossa natureza».

 

“Os Portugueses”, de Barry Hatton

—Barry Haton nasceu em Inglaterra, em 1963, mudou-se para Portugal em 1986, tornou-se correspondente da United Press Internacional, em Lisboa, em 1992 e é correspondente da Associated Press, desde 1997, cobrindo toda a actualidade portuguesa.

Trata-se, portanto, de um jornalista estrangeiro que decidiu estudar Portugal e os portugueses e relatar as suas conclusões neste livro, que não deixa de ser curioso.

Achei, sobretudo, que Haton conseguiu fazer um resumo muito bem feito da História do nosso país e que poderia ajudar muitos dos meus compatriotas a conhecer e perceber os acontecimentos históricos que nos marcaram.

Pena é que, aqui e ali, a língua portuguesa traia o jornalista britânico. Pena, também, que ninguém da editora tenha reparado nesses pequenos erros.

Só dois exemplos.

Na página 131: «(Antero de Quental) iniciou uma brilhante digressão que permaneceria como um dos mais famosos discursos da história portuguesa» – não será “dissertação”, em vez de “digressão”?

Na página 171: «dezenas de milhar de pessoas (…) saíram para o aclamar (a Humberto Delgado) num electrificante comício de campanha no Porto» – não será “electrizante” em vez de “electrificante”?

Passando por cima dessas minudências, o livro lê-se muito bem e é um retrato certeiro de nós todos, com recurso a abundantes citações, desde Mark Twain a Fernando Pessoa.

“A Viúva Grávida”, de Martin Amis

—Ora aqui está outro escritor contemporâneo muito badalado e com o qual não consigo encontrar afinidades.

Dele, ainda só tinha lido “O Cão Amarelo” (2004), que já não me tinha entusiasmado.

Este último livro de Martin Amis, editado no ano passado, diz que é “uma comédia de costumes, um pesadelo. Um livro brilhante, assombroso e gloriosamente arriscado”.

Os adjectivos são próprios de quem quer valorizar o produto que está a vender.

Li “A Viúva Grávida” com alguma dificuldade.

Trata-se de uma história certamente dedicada a outras inteligências – inteligências que percebam e aceitam frases como esta, na página 239: «continuava a coçar o pequeno inchaço avermelhado no lado mais pálido do antebraço, onde, na noite anterior, um mosquito lhe havia inserido a sua seringa. Keith estava no seu estado habitual, que era este. A cada dois minutos, ele conseguia ouvir os céus a relincharem perante a indulgência dele; e nos minutos entre esses, corava alvos suores ao pensar na sulfurosa fossa de alcatrão da sua alma.»

Ufa!

Ainda segundo a contracapa, a acção do romance decorre na década de 1970, num castelo, em Itália. Aí, meia dúzia de jovens interpretam a revolução sexual.

Talvez… mas confesso que quase não dei por nada.

A culpa deve ser minha…

“Cão em Fuga”, de Don DeLillo (1978)

—Ainda não foi desta que consegui penetrar no “universo singular” deste autor norte-americano, como lhe chama a nota da contra-capa desta edição da Relógio de ígua.

Já aqui há uns anos tinha lido um livro de DeLillo, chamado “Mao II”, editado em 1991 e, também então, não consegui entrar bem no texto.

Neste “Cão em Fuga”, a história decorre í  volta da possibilidade de existir um filme com proezas sexuais passadas no bunker de Hitler. Atrás deste filme, surgem um coleccionador de artigos eróticos, uma jornalista que já foi radical e que escreve numa revista que tem o mesmo nome que o romance (Running Dog) e Glen Selvy, “um homem treinado para a luta e suficientemente leal para enfrentar os inimigos com as armas que eles próprios escolhem” (nota da contra-capa)

Não é um policial, não é um livro de espionagem, não é um livro de guerra – é o tal “universo singular”, no qual não consegui penetrar, talvez por falta de empenho da minha parte.

Mas ainda não desisti.

“O Céu É Dos Violentos”, de Flannery O’Connor (1960)

Flannery O’Connor morreu em 1964, aos 39 anos, vítima de lupus. Tinha apenas publicado dois romances e uma série de contos e ganho diversos prémios. O National Book Award foi-lhe concedido a título póstumo, em 1972, pela colectânea dos seus contos.

“The Violent Bear It Away” é o seu segundo romance e é uma história estranha, negra, fechada sobre si própria.

Ao ler o romance, não pude deixar de pensar na luta entre os criacionistas e os evolucionistas, que tantos ódios desencadeia nos EUA.

—O romance narra a história de Tarwater, um jovem de 14 anos. O seu tio-aví´, um lunático que se julga um profeta enviado por Deus, raptou-o, ainda bebé, e cuidou dele, ensinado-o a tornar-se, também, um profeta.

Vivem os dois isolados numa casa, no campo. Certo dia, o velho morre subitamente e o rapaz, incapaz de abrir uma cova suficientemente funda para enterrar o aví´, deita fogo í  casa com o aví´ lá dentro. Depois, foge para a cidade, em busca do seu tio, irmão da sua mãe. Este é um professor que renegou a religião, só aceitando a ciência. Vive só, depois de a mulher o ter deixado, a ele e a um filho, que é atrasado mental.

O professor recebe Tarwater de braços abertos. Quer tirar-lhe da cabeça todas as ideias místicas que o velho lá implantou e mostrar-lhe que a ciência tudo explica. No entanto, o rapaz é intratável, não aceitando sequer vestir roupas novas.

A linguagem da escritora é, ao mesmo tempo, lírica e rebuscada: “o rastilho podia ser um pau ou uma pedra, o desenho de uma sombra, o andar absurdo e geriátrico de um estorninho a atravessar o passeio”.

O retrato destas personagens obcecadas pela religião e pela culpa, dá uma ideia de uma certa América que, de certo modo, ainda se mantém nos dias de hoje.

O livro foi publicado em 1960 e está datado. Hoje em dia, um miúdo de 14 anos não passa de um fedelho. Tarwater, pelo contrário, é já um homem, fuma os seus cigarros e bebe o seu whisky.

O modo como a escritora falar dos personagens de raça negra, perdão, dos afro-americanos, também não seria bem aceite, hoje em dia: “Estava prestes a sentar-se quando, mais adiante, num espaço varrido pelo vento í  beira da estrada, viu uma cabana de pretos. (…) Os pretinhos ficaram a observá-lo até ter saído daquele lugar e ter desaparecido pela estrada abaixo”.

No final do livro, Tarwater afoga o primo imbecil, depois de o baptizar e, mais tarde, parece que é violado por um homem que lhe dá boleia, mas a escritora apenas o sugere.

A culpa, sempre a culpa. E a respectiva expiação…

“O Homem Lento”, de J. M. Coetzee (2005)

Coetzee é garantia de boa leitura, como já tinha comprovado com “A Vida e o Tempo de Michael K” (1983), “Desgraça” (1999) e “Diário de Um Ano Mau” (2007).

—Neste romance, Paul Rayment é um fotógrafo sessentão, í  moda antiga, avesso aos avanços da tecnologia que, certo dia, ao passear de bicicleta, é abalroado por um carro.

Na sequência dos ferimentos sofridos, amputam-lhe uma perna. Paul recusa a prótese e volta para casa ainda mais deprimido do que já estava antes. É um homem amargo, misógino, divorciado, que nunca teve filhos.

De acordo com a assistência social, uma enfermeira é destacada para dar apoio a Paul, dar-lhe banho, limpar-lhe a casa, alimentá-lo (a acção decorre na Austrália). Mas o feitio de Paul é muito difícil e as enfermeiras vão-se sucedendo. Nenhuma aguenta muito tempo as idiossincrasias do fotógrafo.

Surge então uma enfermeira de origem croata, Marijana, que consegue dar a volta a Paul, com a sua simplicidade de mãe de família, habituada a ultrapassar muitas dificuldades. A pouco e pouco, o fotógrafo percebe que se está a apaixonar pela enfermeira.

Nessa altura, entra em cena a escritora profissional Elizabeth Costello, uma septuagenária que está í  procura de material para o seu futuro romance. Paul e a sua perna amputada, Marijana, o seu maridos e os três filhos, são excelentes personagens.

Em resumo, este é o riquíssimo material que Coetzee juntou para escrever este livro.

Acrscente-se as recordações de infância de Paul, de origem francesa, com um padrasto holandês, a sua paixão platónica por Marijana, que o leva a querer proteger e ajudar os seus filhos, a paixão, também ela platónica, de Elizabeth por Paul, os problemas dos dois filhos mais velhos da enfermeira, e temos um livro cheio de questões éticas de difícil resposta.

Mas também não é de respostas que Coetzee está í  procura. A missão do escritor é, exactamente, a de levantar as questões. Compete-nos meditar sobre elas.

Boa companhia de viagem, mais este romance de J.M. Coetzee, escritor nascido na ífrica do Sul, em 1940, e que recebeu o Nobel em 2003.

Almanaque Bertrand – uma deliciosa inutilidade

Lembro-me, sobretudo, dos cheiros.

A casa velha da Beira Alta, em Santiago de Cassurrães, tinha um cheiro característico, que era uma mistura de muitos cheiros: o cheiro da pocilga, o cheiro da chamada “sala da aula”, onde se secavam figos, o cheiro do “chalezinho”, que era umas águas-furtadas onde as senhoras faziam a sua sala de costura.

E o cheiro da latrina, claro. A latrina era uma casinha com 2 por 2 metros, situada na varanda, e consistia num balcão de madeira com um buraco redondo no meio. Lá em baixo, a palha amparava os dejectos. Estrume da melhor qualidade.

Ao lado do buraco, a literatura: um jornal qualquer, talvez o da paróquia, talvez o Diário de Notícias, e Almanaques Bertrand.

Muita companhia me fizeram os Almanaques Bertrand nos momentos que passei sentado naquele buraco. E confesso que o cheiro do papel envelhecido e os outros odores que se misturavam naqueles momentos, eram algo de religioso.

A avozinha Rita foi-se embora, o tio Germano e a Tia Odaleia também, a casa foi ficando vazia, cada vez mais esbarrondada, ameaçando ruína.

Trinta anos depois, fui lá buscar os Almanaques. São dos anos 30, 40 e 50 e as suas páginas mostram bem o uso que têm tido.

Nos tempos em que escrevi para o Pão Comanteiga, recorri muitas vezes a eles, e nunca me desapontaram.

—O Almanaque Bertrand publicou-se, todos os anos, entre 1899 e 1969 e este ano, a editora teve a brilhante ideia de lançar um Almanaque 2011/2012.

São contos, poemas, passatempos, calendários, receitas literárias, prazeres, listas, crónicas, palavras cruzadas, horóscopos, lugares, citações, efemérides, curiosidades, ilustrações, e muitas outras inutilidades imensamente úteis.

Como esta lista de “lugares portugueses com nomes danados para o pecado”, dos quais destaco Regato da Coitada (Viana do Castelo), Rego do Azar (Ponte de Lima), Vale da Rata (Viana do Alentejo) ou Entalada (Melgaço).

Ou como estes deliciosos aforismos de José Sesinando, tão ao gosto do Pão Comanteiga: «quem não tem um Roll’s, rói-se»; «os terroristas raciocinam por explosão de partes»; «Em Cabo Verde, Deus pegou no homem e crioulo í  sua imagem e semelhança»; «Foi Copérnico que viu a primeira estrela pular».

Ou ainda uma “lista de nomes de lugares ligeiramente compridos”, entre os quais, Parangaricutirimicuaro, no México, ou Pekwachnamaykoskwaskwaypinwanik, no Canadá.

Espero bem que a Bertrand retome mesmo a tradição e passe a editar Almanaques todos os anos.

“Ao Cair da Noite”, de Michael Cunningham

—Michael Cunningham tornou-se um dos meus escritores contemporâneos preferidos, graças a “Uma Casa no Fim do Mundo” (1990), “Laços de Sangue” (1995), “As Horas” (1998) e “Dias Exemplares” (2005).

No entanto, este “Ao Cair da Noite” desiludiu-me um pouco.

A acção decorre em Manhattan e a história é muito “classe média-alta-intelectual-nova iorquina”, como se fosse um filme do Woody Allen dos anos 80, mas sem as piadas.

Peter Harris é dono de uma galeria de arte e a mulher, Rebecca, é directora de uma revista de arte. No final do dia, o casal quarentão encontra-se no seu confortável apartamento e bebe um copo de vinho tinto, antes de encomendar o jantar tailandês ou indiano.

Tudo parece correr quando o irmão mas novo de Rebecca vem instalar-se no apartamento e, certo dia, Peter o vê, todo nu, com o seu corpo magro e musculado de ainda quase adolescente.

A partir daí, Peter vai começar a duvidar da sua sexualidade. Perplexo, pergunta-se a si próprio como é possível ter tido sempre comportamentos heterossexuais e, agora, de repente, sentir-se atraído por uma pessoa do mesmo sexo, ainda por cima, irmão da sua esposa.

Revê o seu passado e começa a encontrar indícios de anteriores impulsos que terão sido reprimidos. Recorda a história trágica do seu irmão mais velho, homossexual, e que morreu com sida.

A segunda metade do livro é toda preenchida com esta luta interior de Peter e com jogos de sedução entre ele e o irmão de Rebecca.

No entanto, nada acontece, para além de um beijo…

Confesso que a história não me tocou, como as dos anteriores romances de Cunningham. Claro que ele não sabe escrever mal, e a história deste “By the Nightfall” está bem contada, mas não chegou para me emocionar.

“O Sonho do Celta”, de Mário Vargas Llosa

—De Vargas Llosa só ainda tinha lido três romances: “A Guerra do Fim do Mundo” (1981), “Os Cadernos de Don Rigoberto” (1997) e “Travessuras da Menina Má” (2006).

Apesar de o achar um autor interessante, sempre preferi Garcia-Marquez e Cortazar, no que respeita aos escritores latino-americanos.

Este ano, Vargas Llosa ganhou o Prémio Nobel e as livrarias encheram-se com as suas obras e peguei neste “O Sonho do Celta”.

O livro conta a história de Roger Casement, um irlandês que lutou e morreu pela independência do seu país. Antes disso, como cí´nsul britânico no Congo belga e em Iquitos, no Peru, lutou contra o modo desumano como eram tratados os autóctones, explorados pelas grandes companhias que extraíam borracha das florestas.

A narrativa de Llosa parece-me pouco consistente, de tal modo que, no fim das 400 páginas não fiquei com uma ideia bem formada de como terá sido Roger Casement, como pessoa. Claro que o autor nos dá grande quantidade de pormenores da sua vida, de como se sentia horrorizado com as torturas que os colonialistas impunham aos indígenas; ficamos também a saber que Casement era homossexual e que registava num caderninho as suas aventuras sexuais, descrevendo-as de modo muito cru. Mas são apenas factos. Fiquei sem saber como era Casement, como pessoa.

Porventura, Llosa também não sabe, ao certo, quem foi Roger Casement mas, como romancista, tinha a obrigação de criar uma personagem credível para os seus leitores, até porque este livro é um romance, não uma biografia.

Ou então, fiquei desiludido porque estava í  espera de mais uma história passada na América Latina e saiu-me uma coisa completamente diferente.