“O Golfinho”, de Mark Haddon (2019)

Li dois excelentes livros deste escritor britânico (Northampton, UK, 1962), “O Estranho Caso do Cão Morto” (2003) e “Um Pequeno Inconveniente” (2006).

No entanto, este “O Golfinho” (no original “The Porpoise”) deixou-me com sabor a pouco.

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O livro começa com a história trágica de uma mulher grávida que sofre um acidente de avião. Ela morre, mas a bebé sobrevive.

A bebé chama-se Angélica, e o pai, Philipe, é um tipo super-rico, que cria a filha longe da sociedade e, em breve, começa a violá-la.

De repente, Angélica já é uma adolescente e vive isolada de tudo e de todos, sofrendo as violações do pai. Surge um jovem que a tenta libertar, mas as coisas não correm bem e ele é obrigado a fugir.

E eis que o jovem se transforma em Péricles, príncipe de Tiro e a história passa para a Grécia Antiga, ou coisa que o valha.

E, mais í  frente, ainda há de passar por Shakespeare, e voltar í  Grécia, e depois í  actualidade, com Angélica a fazer greve de fome e… em resumo, uma confusão, sem ponta por onde se lhe pegue…

Não gostei…

“Um Pequeno Inconveniente”, de Mark Haddon

—Haddon escreveu o excelente livro “O Estranho Caso do Cão Morto”, que era uma história narrada por uma criança autista. Daí, a curiosidade em ler este novo livro que, também ele, tem como principal personagem uma pessoa com dificuldades na relação com a realidade.

Trata-se de George, um vulgar chefe de família recém-reformado. A sua família é, também ela, uma vulgar família dos nossos dias: a mulher, Jean, cinquentona, redescobriu as delícias da vida sexual post-menopáusica com um ex-colega de trabalho de George; a filha mais velha, Kate, tem um filho pequeno, Jacob, vidrado em homens-aranhas e outros super-heróis e está prestes a casar-se, pela segunda vez, com um tal Ray; o filho mais novo, Jamie, é homossexual e a família ainda não aceitou bem esse facto. Depois, há uma série de pequenos personagens menores, que dão cor í  história.

E a história, no fundo, resume-se a isto: nas vésperas do segundo casamento da filha, George descobre uma mancha na pele da coxa e decide que tem cancro. A partir desse momento, qualquer racionalização é impossível. Para piorar tudo, apanha a sua mulher a ser comida pelo ex-colega de trabalho, na sua própria cama!

A história está muito bem contada, numa escrita escorreita e fácil, sem grandes devaneios filosóficos, mas com uma grande dose de realismo.

Um bom livro para se ler em viagem.