Quando terminei a leitura do primeiro volume de A Morte do Comendador, fiquei de pé atrás e escrevi: vou ler o segundo volume e depois digo alguma coisa…
Acabei ontem o segundo volume e posso dizer que não fiquei com o pé atrás – fiquei com os dois.
Murakami, o aclamado escritor, é mesmo um escritor da moda e consegue publicar dois volumes de uma história inverosímil, que mistura realidade com o submundo da fantasia, só tolerável porque, sendo japonês, é assim uma espécie de “realismo fantástico” asiático.
Para além da banalidade das frases feitas, que já tinha notado, destaque para três tiques insuportáveis: a descrição minuciosa de coisas do dia-a-dia que, se no caso do norueguês Knausgard pode ser novidade, no caso deste japonês, é enfadonho; a igualmente minuciosa descrição das fatiotas que os personagens usam; e, finalmente, a obsessão pelos seios da Marie, a personagem de 13 anos, que tem o peito “liso como uma tábua”, mas que tem esperança que as mamas possam crescer e caber numa copa 3C (verídico!).
Um exemplo na página 184:
“Menshiki chegou í s onze e vinte. assim que ouvi o Jaguar, vesti o blusão de cabedal e fui ao seu encontro. ele saiu do carro com um corta-vento azul-escuro acolchoado, calças de ganga pretas justas e sapatos desportivos de pele. Tinha um lenço leve em volta do pescoço.”
Outro exemplo, na página 414:
“Já no fim da chamada, Marie confidenciou-me que o peito se tinha desenvolvido (…)
‘Ainda não estão completamente crescidos, mas para lá caminham – murmurou ela em jeito de confidência.”
Para já não falar nas personagens de cerca de 60 centímetros que saem de um quadro pintado a óleo e surgem como Ideias, arrastando o protagonista para o submundo, onde é preciso atravessar uma espécie de rio das Metáforas e para não falar sequer na possibilidade de o mesmo protagonista ter engravidado a ex-esposa durante um sonho.
Não há pachorra para estas japonisices…