Este neurologista britânico pode ser um sucessor de Oliver Sacks, falecido em 2015 e autor de diversos livros sobre neurologia e temas adventícios, como o famoso “…O Homem Que Confundiu a Sua Mulher Com Um Chapéu”, ou ainda, “…Tudo No Seu Lugar”, ou “…Musicofilia“.
Este livro de Leschziner conta-nos as histórias de alguns pacientes que têm em comum disfunções dos órgãos dos sentidos. É certo que são esses órgãos que nos põem em contacto com o mundo exterior; mas, quando eles nos pregam partidas, a comunicação pode ser complicada.
Os diversos capítulos vão detalhando perturbações relacionadas com os diversos órgãos dos sentidos.
No que respeita ao olfacto, o autor sublinha que é o cheiro que evoca estados emocionais e sei bem do que fala. Ainda hoje, há cheiros que me fazem regressar í infância.
“…muito embora outros estímulos, quer sejam musicais, tácteis ou verbais, sejam igualmente bons para trazer de volta memórias de acontecimentos, as lembranças desencadeadas por cheiros são acontecimentos consistentemente mais emocionais. Na verdade, experiências mostraram que o estado emocional pode reforçar o elo entre o olfacto e a memória.”
Os sintomas que os doentes nos apresentam são, muitas vezes, enganadores. O autor confessa que fica perturbado com essa possibilidade ““ e percebo-o muito bem!
“…Não tenho grande vontade de falar sobre estes casos nas páginas deste livro ““ a decisão de administrar ou não um fármaco, de fazer uma ressonância a alguém agora ou daqui a três meses ““ ainda voltam para me atormentar durante a noite, meses ou até anos depois, com nomes e rostos gravados na memória.”
Essa uma das razões que me levou a nunca mais pensar na minha profissão, depois da aposentação!
Uma das coisas que aprendemos na Faculdade: o que é raro, é raro ““ o que é frequente, é frequente. Por outras palavras: se alguém se queixa de uma dor de cabeça, é muito provável que tenha, apenas, uma dor de cabeça e não um tumor cerebral.
Diz o autor:
“…Na medicina há um velho adágio que diz «Quando ouvires o barulho de cascos, pensa em cavalos, não em zebras», que é atribuído ao Dr. Theodore Woodward, professor de Medicina na Universidade de Maryland na década de 1940 e que queria com isto dizer que devemos procurar a explicação mais provável para um conjunto de sintomas e sinais, e não um diagnóstico raro e exótico”.
No entanto, este livro apenas trata de situações raras e exóticas, como a jovem que foi perdendo a visão devido a diversos meningiomas, ou o homem incapaz de sentir dor, ou ainda o outro para quem as palavras tinham cor.
Um livro muito interessante.