A afogar-se no Zêzere

Segundo o Diário de Notícias, há gente que decide afogar-se no Zêzere, aparentemente, como passatempo.

Ora leiam lá esta pequena local de hoje:

“Gémeos e mãe salvos no rio

Adelino Gomes
Com. Bombeiros de Constância

Uma menina de 11 anos foi retirada ontem com vida do rio Zêzere, em Constância, onde se afogava com o irmão gémeo e a mãe, também salvos, segundo o comandante dos bombeiros”.

A primeira idiossincrasia da notícia reside no subtítulo: Adelino Gomes.

Suponho que será este o nome do Comandante dos Bombeiros de Constância, mas nunca se sabe…

Depois, a notícia diz que uma menina de 11 anos foi retirada com vida do Zêzere, juntamente com o irmão gémeo e a mãe. Nesse caso, os três foram retirados com vida – ou será que a menina estava mais viva que o irmão e a mãe?

Finalmente, a notícia diz, taxativamente que a menina foi retirada do rio, “onde se afogava com o irmão gémeo e a mãe”, pelo que dá a ideia que era uma actividade deliberada; a menina afogava-se, como podia banhar-se ou fazer surf.

Enfim: salvaram-se todos, e isso é que interessa – incluindo o jornalista que elaborou esta pequena pérola do jornalismo luso.

O estranho caso do chifre de Singeverga

Confesso que nunca tinha ouvido falar do mosteiro beneditino de Singeverga, em Santo Tirso.

Mas foi lá, segundo o Diário de Notícias, que ocorreu este “invulgar roubo”.

Diz a notícia, publicada hoje:

«Dois homens, que fingiram querer fazer uma visita ao convento, manietaram o padre Adriano, de 82 anos, e levaram um chifre (avaliado em cerca de vinte mil euros) e um banco de madeira africano, que pertenciam í  colecção do Museu de Etnografia e Zoologia de Angola».

Ao que um homem chega – roubar chifres!

É a crise…

A notícia é chocante, assim mesmo. Mas há mais pormenores:

«”Telefonaram a dizer que eram um grupo de universitários de Lisboa. A ideia era verem a igreja, o pequeno museu e a sala do capítulo”, contou ao DN o subprior Lino Moreira. Quando chegaram, eram apenas dois. Acabaram por dominar o padre que tencionava guiá-los e levaram o saque, fugindo a correr.»

Malandros!

Fizeram-se passar por universitários de Lisboa, que é uma categoria muito importante, e fanaram o banco e o chifre!

E depois, nem se meteram num BMW roubado, nem saltaram para cima de uma mota de alta cilindrada, nem montaram um cavalo, nem sequer uma reles bicicleta – fugiram a correr!

Portanto, malta, se virem dois gajos a correr, um com um banco, outro com um chifre na mão, chamem a GNR! Ajudem os monges de Singeverga!

Notícia com gps

O impagável Diário de Notícias não quer que nos falte nada e informa-nos de tudo.

Desta vez, a notícia vem de Guimarães, e reza assim:

“Um quiosque localizado em Guimarães, na rua do Santuário da Penha, freguesia da Costa, foi assaltado por um grupo de indivíduos que levaram dez caixas de gelados, no valor de 450 euros. Furtaram ainda quatro outras caixas com chicletes.”

Como se sabe, Guimarães é, este ano, capital europeia da cultura e isso nota-se, também, nos seus larápios, que se refinam, no que respeita aos produtos roubados. Em vez de roubarem produtos de primeira necessidade, armam-se em sofisticados e fanam produtos supérfluos.

Mas o que mais gosto na notícia é, como sempre, a pormenorização.

Atente-se na frase «um quiosque localizado em Guimarães, na rua do Santuário da Penha, freguesia da Costa»!

Não há engano possível, caramba!

Sabendo que Guimarães deve ter milhares de quiosques, o jornalista fez questão em localizar o quiosque assaltado com toda a precisão, para evitar confusões!

Bem haja!

Champí´ de polvo

O inefável Diário de Notícias informa que começou ontem, no Porto, o julgamento do século.

Trata-se do caso do facínora que, em fevereiro do ano passado, teve a ousadia de entrar, de rompante, no Pingo Doce, da Praça Afonso V, na Invicta, e tentar roubar uma embalagem de champí´ e outra de polvo.

Felizmente, o sevandija não conseguiu efectivar o seu hediondo crime, graças í  rápida e eficaz actuação do segurança, que conseguiu apanhá-lo em flagrante.

Por esse motivo, o benemérito holandês Alexandre Soares do Santos, pí´de reaver uma embalagem de champí´ e outra de polvo, evitando um desfalque de 25 euros e 66 centimos.

A notícia não explica que estranhas e sórdidas cenas o miserável pretenderia executar com polvo e champí´, mas podemos imaginar algo de sexualmente sinistro…

O palerma do advogado do criminoso, ainda teve a ousadia de dizer que os tribunais portugueses estão atulhados com processos destes, verdadeiras bagatelas, e protestou pelo facto do Pingo Doce não ter desistido do processo.

Vê-se mesmo que este advogado não faz compras no Pingo Doce e não percebe que é graças a esta atitude que eles têm “os preços sempre baixos”…

 

Pescadores, estripadores e outras dores

Por estes dias, quem se der ao trabalho de ver os telejornais dos canais generalistas, leva com duas injecções: o salvamento dos seis pescadores de Vila do Conde e a confissão do tipo que diz ter assassinado três prostitutas no século passado.

A história dos pescadores conta-se em duas linhas: um barco de pesca foi ao fundo, os seis pescadores conseguiram passar-se para uma balsa e andaram í  deriva durante quase três dias, até que um helicóptero da Força Aérea os avistou e os resgatou.

Boa notícia.

Mas as televisões têm a arte de estragar mesmo as coisas melhores: e foi assim que vimos reportagens em directo do autocarro que transportou os pescadores de volta a Vila do Conde, entrevistas com o mestre do barco, com o militar que fez o salvamento, com um especialista em balsas, com as mulheres dos pescadores, ficamos a saber as características técnicas das balsas, o que elas contêm, mais a história do terço que os pescadores rezaram, uns em voz alta, outros em silêncio, e mais o outro que entrou em pânico e teve que levar dois socos e ser amarrado para não se atirar ao mar…

E, no fim, um tipo até já nem pode olhar para a cara dos pescadores!

A segunda história é mesmo isso: uma história, porque, provavelmente, não passa de ficção. O jornal Sol, através da conhecida Felícia Cabrita, foi descobrir um tipo que diz ser o estripador de Lisboa, um fulano que, nos anos 90 do século passado, assassinou três prostitutas na região de Lisboa.

E toma lá com a descrição pormenorizada de como o homem estripou as mulheres, que instrumentos usou, como é que puxou os intestinos cá para fora e até a motivação freudiana, a procura do útero, a procura da mãe!

Claro que a Cabrita foi í s televisões explicar como investigou este furo jornalístico, vimos imagens da entrevista que o presumível assassino deu í  jornalista, explicações de juristas sobre prescrições de crimes, declarações de antigos inspectores da judiciária, incluindo o inevitável Moita Flores…

E com estes dois assuntos, os telejornais gastam mais de meia-hora!

Será que não se passa mais nada neste mundo?

Obama e os crocodilos

Notícia do DN de hoje:

«Barack Obama inicia hoje uma visita de dois dias í  Austrália e uma empresa local não quis perder a oportunidade de se promover, oferecendo (…) um seguro contra dentadas de crocodilo. Obama passará por Darwin, habitat por excelência destes animais e se uma eventual mordidela levar í  sua morte, a família receberá 37 400 euros.»

A família do crocodilo?

Fumar, mata – não fumar, também?

Título do DN de hoje:

«Mil pessoas morrem por ano devido a cigarros mal apagados»

O quê?!

Então, e devido a cigarros bem acesos, quantas morrem?

Diz a notícia que vão «entrar em vigor as novas regras para o fabrico de cigarros para que se apaguem quando não são fumados».

Para além da frase estar mal construída, esta afirmação levanta-me a seguinte dúvida: será que, agora, os maços de cigarros passarão a ter cigarros acesos, que se apagarão automaticamente se não forem fumados?

E ao fim de quanto tempo?

Claro que é apenas um erro de construção da frase.

Diz a Comissão Europeia que «os cigarros acesos abandonados são uma das principais causas de incêndios mortais na Europa». Assim, poder-se-ão evitar cerca de 500 mortes por ano, com a introdução dos chamados cigarros de propensão reduzida para a ignição.

Segundo a notícia, este tipo de cigarros têm um »tempo de combustão mais reduzido e, assim, menor possibilidade de inflamar mobiliário, roupa de cama e outro material».

Ainda bem que já deixei de fumar.

Uma das coisas que me dava mais gozo era ver o mobiliário e a roupa da cama arderem em segundos!…

O muro

Ontem, a RTP e a SIC proporcionaram-nos reportagens formidáveis, directamente da Líbia (se calhar, a TVI também, mas eu não vejo a TVI por uma questão de princípio)

—Bem, eu não tenho a certeza se aquilo era mesmo na Líbia, mas parece que sim. Os jornalistas estavam mesmo na Líbia, mais precisamente, em Tripoli.

Mais precisamente, num hotel da capital líbia, cheio de jornalistas.

Mais precisamente, atrás de um muro.

E o muro foi a estrela das reportagens.

Na RTP, Paulo Dentinho, deitado no chão, atrás do tal muro, falava para o microfone e tinha um telemóvel na outra mão. Ao fundo, ouviam-se estampidos.

Na SIC, Cândida Pinto, deitada no chão, atrás do mesmo muro, fazia a mesma figura.

Os tais estampidos eram, supostamente, tiros.

Os repórteres, com ar de quem está com cólicas abdominais, iam descrevendo o óbvio: estamos aqui, o hotel é ali, ouvem-se tiros… tudo afirmações definitivas.

Do lado de cá, um José Rodrigues dos Santos, aos gritos, e um Rodrigo Guedes de Carvalho, aos berros, tentavam sacar mais informações dos seus colegas. Mas eles limitavam-se a debitar vulgaridades.

Os repórteres como sujeitos da notícia.

A notícia deixou de ser a guerra civil líbia e passou a ser o repórter, deitado no chão, atrás de um muro…

No mínimo, ridículo.

Roubaram uma mala de senhora!

Foi numa praia, em Albufeira e a RTP enviou para lá uma equipa de reportagem!

A repórter entrevistou um herói de bigode que explicou como conseguiu, com a ajuda do nadador-salvador, deter um homem, que chegou í  praia com as mãos a abanar e que se preparava para ir embora com uma mala de senhora.

O de bigode interpelou-o e o ladrão ainda tentou ludibriá-lo, dizendo que a mala era da esposa. Claro que não era – a mala pertencia a uma senhora que o sevandija tinha assaltado há pouco tempo.

Logo a seguir, a repórter ouviu um veraneante que, muito espantado, revelou que costumava frequentar aquela praia há cerca de trinta anos e que nunca tinha ouvido falar de assaltos.

Confesso que já não recordo como acabou esta coisa, mas fiquei com a impressão de que estava a ver uma espécie de reportagem de amadores, como se fosse um trabalho de grupo, de alunos do 11º ano.

Então, roubaram uma mala de senhora numa praia de Albufeira?

Que escândalo!

Este mundo está perdido!

Hoje, uma mala de senhora, amanhã – quem sabe? – um computador portátil ou mesmo um telemóvel!

Coisas que acontecem

* O Hospital Miguel Bombarda fechou ontem as suas portas. Os últimos cinco doentes ali asilados, foram realojados na Moody’s

* Depois dos casos dos agentes da PSP de Vila do Conde, de Aveiro e da Pontinha, ficou claro que há uma nova exigência para se poder ser integrado na Polícia: não ter carta de condução

* A empresa que fazia a limpeza dos quartéis da GNR não viu o seu contrato renovado. Por isso, têm sido os soldados da GNR a fazer a limpeza. E estão revoltados. Não sei porquê. É a filosofia do utilizador-pagador. Sujam? Toca a limpar!