Silly judge season

É tradicional: o mês de Agosto é o mês de notícias ainda mais patetas.

Há pouco material noticioso, a não ser os incêndios, a violência doméstica (24 mulheres assassinadas desde Janeiro pelos respectivos companheiros), a catástrofe dos incêndios na Rússia, as inundações na Polónia, na Alemanha e no Paquistão, o regresso de Fidel Castro, após quatro anos de retiro, a possível tensão bélica entre a Venezuela e a Colí´mbia, a divulgação na comunicação social de milhares de documentos secretos do exército norte-americano – mas, enfim, sem ser isto, que não interessa nada, pouco há para noticiar.

É, portanto, nestas alturas, que os jornais e as televisões se viram mais para os fait-divers, para a pequenina notícia idiota que, em outras alturas, passaria despercebida.

Chama-se a isto a silly season.

Mas esta silly season tem um atractivo: os juízes.

Não se entendem.

Por causa do Freeport, zangaram-se a sério. De um lado, Pinto Monteiro e Cândida Almeida; do outro, o sindicatos dos juízes.

Os procuradores encarregados do Freeport arquivam o processo, publicando um despacho em que dizem que não tiveram tempo, em 6 anos, para questionar o 1º ministro; Pinto Monteiro diz que manda tanto como a rainha de Inglaterra; ontem o Expresso dizia que Cândida Almeida negociou a não inquirição a Sócrates, em troca da publicação das perguntas que lhe deveriam ter sido feitas; o DN diz hoje que, segundo os ingleses, os procuradores portugueses não percebiam nada do processo e estavam mas era preocupados em afirmar a sua independência…

Silly judges!…

PS – este post deve ser lido tendo, como música de fundo, aquela célebre estrofe: “se tu visse o que eu vi/ í  porta do tribunal/ as cuecas do juiz/ embrulhadas num jornal”

O mundo não nos importa

Tony de Matos, cançonetista afamado do século passado, tinha uma cantiga que rezava assim: “Que falem, não nos interessa/ O mundo não nos importa/ O nosso mundo começa/ Cá dentro da nossa porta”.

Também aos jornais televisivos, o mundo não os importa. Só temos direito a notícias cá da paróquia; do estrangeiro, quase nada. E também não podemos propriamente chamar notícias í quilo, partindo do princípio que “notícia” significa “novidade”.

Ontem, por exemplo, o jornal da noite da Sic abriu com a não-notícia, veiculada pelo semanário Sol, segundo a qual Sócrates recebeu um sms de Vara, informando-o de que Moura Guedes ia deixar de apresentar o jornal da TVI, minutos antes da notícia sair na comunicação social – o que quer dizer que Sócrates mentiu ao Parlamento, uma vez que disse que tinha tido conhecimento do facto através da comunicação social.

Grande notícia de abertura, não?

Seguiram-se, depois, não-notícias sobre as medidas de austeridade, uma vez que não há nenhuma novidade neste campo, mais algumas especulações sobre a tentativa de compra da PT pela Telefónica, qualquer coisa da visita de Sócrates ao Brasil e ligação a Madrid, onde uma enviada especial está há vários dias a debitar não-notícias sobre Mourinho, que ainda não chegou, mas está quase a chegar í  capital espanhola. Houve também uma ligação directa í  Covilhã, onde um jornalista com nome de medicamento (Nuno Luz – Tuneluz), debitou mais uma série de não-notícias sobre a selecção.

E cerca de 50 minutos depois do seu início, finalmente, notícias internacionais, no jornal da Sic: um parágrafo sobre o atentado maoista na Índia, que já vai em 90 mortos, umas linhas sobre outro atentado, mas no Paquistão, uma coisa a fugir sobre a maior catástrofe ambiental dos Estados Unidos e um fait-divers sobre o corte, por engano, da linha telefónica do primeiro-ministro grego – 3 minutos de notícias internacionais! Três míseros minutos!

Nada sobre a tensão entre as duas Coreias, que pode desencadear uma nova guerra, nada sobre os conflitos na Jamaica, que está í  beira de uma guerra civil, nada sobre as relações entre o Brasil e o Irão, que estão a irritar a diplomacia norte-americana. Nada!

Uma vergonha de um jornal, uma vergonha editorial.

Portugal não passa de uma paróquia e tem os jornalistas que merece…

Trabalho infantil

—Segundo o DN de ontem, “crianças da catequese dos Jerónimos e das escolas desta zona de Lisboa, ofereceram ontem a Bento XVI pequenas rosas que simbolizavam «a maratona de orações pela pessoa e intenções» do Papa. os mais novos rezaram um total de 830 mil avé-marias”.

Isto é trabalho infantil, por amor de Deus (ou por amor do Papa, o que vai ao mesmo, não é?)!

Pí´r um número indeterminado de criancinhas a rezar avé-marias de enfiada, uma após outra, é quase tão violento como coser bolas de futebol ou ténis Nike, como fazem os miúdos no Bangla Desh.

E quem contou as avé-marias, para saber que foram 830 mil? E por que raio foram 830 mil e não 765 322?

Tudo isto está para lá de patético!…

Ninguém prende este espanhol?!

—Quem lesse só as gordas da primeira página do Expresso de hoje, ficaria convencido que anda por aí um espanhol aos tiros, nas escolas.

Depois, lendo a notícia, ficamos a saber que foi o ensino do espanhol a disparar nas nossas escolas, isto é, cada vez há mais portugueses a aprenderem espanhol.

Liberdades jornalísticas…

Os milhões de Mexia

—Está tudo muito escandalizado com os 3 milhões de euros que o chefe da EDP meteu ao bolso, em salários e prémios.

Mas o que são 3 milhões de euros?…

É certo que dava para pagar o prejuízo da TAP, mas não chegava, por exemplo, para comprar sequer metade do passe de Fábio Coentrão!

Com 3 milhões Mexia compraria, quanto muito, um Helder Postiga – mas, francamente, para que queria o Mexia um Helder Postiga?! Qua haveria de fazer com ele? Só se fosse para o pí´r a fazer as leituras dos contadores da luz…

Também foi notícia de primeira página do DN que Mexia tinha ganho mais que o Steve Jobs – aquele senhor da Apple (pronunciar “eiple”, como muitos jornalistas que pensam, que assim, estão a falar muito bem inglês…).

O Jobs já deve até ter perguntado aos seus assessores: mas quem é esse tal português que ganha mais do que eu? Que é que ele inventou?

Se Pedro Mexia, agora já não mexe, irritado com todo este barulho e está a pensar incorporar os milhões, passando a chamar-se Pedro Mexilhões.

Aljubarrota – a sequela

“Manuela diz que Sócrates até pressionou Rei de Espanha”

(Título do Diário de Notícias.)

—Cego pelos ataques de Manuela Moura Guedes, Sócrates telefonou ao Rei de Espanha e gritou:

“Ou fazes com que a Prisa cale aquela gaja, ou a gente invade o teu país e levam mais porrada do que em Aljubarrota!”

E foi assim que, com o rabinho entre as pernas, o Rei Juan Carlos telefonou aos tipos da Prisa e a Manuela foi para a rua.

í“ Manuela: tenha paciência, querida. Eu sei que a menina deve estar farta de médicos, nomeadamente, de cirurgiões plásticos, mas acho que a querida precisa, urgentemente, de um anti-psicótico.

Sócrates já está noutra!

Enquanto, por cá, lhe andam a fazer a cama, José Sócrates já arranjou outro tacho e prepara-se para abandonar o barco.

Durão Barroso foi para Bruxelas?

Pois, Sócrates vai para o Brasil, que é mais solarengo e tem miúdas mais giras.

Segundo este site Meat Trade News – que é como quem diz, Notícias do Comércio de Carne – José Sócrates é o novo ministro da Saúde do Brasil!

Para quem tiver preguiça de clicar no link, aqui fica um excerto da notícia:

“Health Minister, José Sócrates, said yesterday that he had submitted to Camex “a set of drugs” that could be targets of such sanctions. “The decision still needs to be thought out by the entire team of government,” he added.”

E começas logo a tratar de negócios de drogas!

Boa, Sócrates!

Deixas o Crespo e a Guedes a falar sozinhos!

Tadinho do mensageiro!…

Conta a lenda que, em 490 A.C., Fidípides  correu os 42 km que separam a planície da Maratona da cidade de Atenas, para anunciar a estrondosa vitória das tropas do ateniense Milcíades sobre os persas.

Ao chegar, terá dito: “Alegrai-vos, atenienses, nós vencemos!”

E depois caiu, morto de cansaço.

Assim nasceram duas tradições: a realização da maratona, como prova desportiva e o sacrifício dos mensageiros.

Vem isto a propósito do prazer que os jornalistas têm, como classe, de se vitimizarem.

É frequente ouvi-los protestar contra as “condições de trabalho”, sempre que a cabina de som não tem ar condicionado ou não os deixam passar o cordão de segurança.

Agora, a propósito daquela história ridícula do Mário Crespo, do famoso Plano para Controlar a Comunicação Social (tudo com letra grande) e dos tabefes que Carlos Queirós afinfou num tipo chamado Jorge Batista, comentador desportivo da Sic, a classe está em polvorosa.

Esta manhã, na RTP, outro comentador, também chamado Batista, dizia que este facto era a prova do nervosismo que se vive em Portugal, que se traduz por este hábito de “bater no mensageiro”.

Ora, segundo outro mensageiro, o DN, Carlos Queirós terá dado umas murraças no tal Batista por causa de um assunto pessoal: Queirós terá arranjado emprego ao Batista há 19 anos e agora, o ingrato diz mal do seleccionador.

Quer dizer: a coisa é o mais prosaica possível e não tem nada a ver com “bater no mensageiro”.

Quanto ao tal Plano para Controlar a Comunicação Social é mais um exemplo de lágrimas de crocodilo: tenho a certeza que a nata dos jornalistas detestava o estilo da Manuela Moura Guedes, que até é considerada uma “outsider”, uma apresentadora de TV armada ao pingarelho, que até suspendeu a carteira profissional para poder fazer publicidade.

Se Sócrates a calou, foi um alívio.

Finalmente, no que respeita ao Mário Crespo, até Vasco Pulido Valente, que odeia Sócrates, acha que ele tem todo o direito de exprimir, em privado, a sua raiva para com um tipo que lhe anda a sarrazinar o juízo há anos.

Então, agora, já temos que voltar a ter cuidado, quando falamos com os amigos num restaurante, não vá estar, na mesa ao lado, alguém que vá depois transmitir a mensagem a outrem?

Quem não se lembra disto? A frase “as paredes têm ouvidos” deve ter sido inventada por um gajo da Pide.

Ainda hoje, no editorial de outro mensageiro, o Público, comenta-se o facto de Sócrates ter chamado a este tipo de jornalismo, “jornalismo de buraco de fechadura”, dizendo que “insistir nas críticas ao mensageiro sem cuidar de desfazer a mensagem só é uma boa estratégia para manter a união entre as hostes do PS”.

E eu diria que ambos estão errados: Sócrates deveria ter desmentido ou desmontado as escutas e os jornalistas tinham a obrigação de esmiuçar a informação, não se limitando a pespegar com as certidões do juiz de Aveiro.

Aliás, cá no burgo, chama-se jornalismo de investigação quando se tem um amigalhaço na PJ que nos arranja cópias dos processos.

Talvez não fosse má ideia os jornalistas deixarem de olhar para o seu próprio umbigo e preocuparem-se, apenas, em transmitir as notícias, sem juízos de valor.

E, de preferência, verdadeiras.

Caso contrário, os mensageiros continuarão a levar uns tabefes de vez em quando…

Foda í  Monção?

—Confesso que nunca provei uma foda í  Monção.

Modéstia í  parte, já provei fodas nos 5 continentes, mas nunca em Monção.

Em Valença, sim, que é lá perto, mas quando pernoitei em Monção estava com o estomago muito pesado e não dei uma para a caixa.

Agora, o que eu não sabia – juro que não sabia! – é que a Câmara de Monção quer mesmo certificar as fodas í  moda lá da terra.

Que ideia do c******!

Já viram bem o orgulho que é um cidadão de Monção andar com um certificado, tipo um crachá, espetado no peito, dizendo algo do género: fodas í  Monção é comigo!

E não há cá eufemismos: não é fazer amor í  Monção, ou queca, ou mocada, ou trolitada, ou cambalhota í  Monção.

É mesmo foda e mais nada!

É de Câmaras Municipais como esta que o povo precisa!

(certificar Diário de Notícias de ontem)