Duas notícias estranhas

No Público de ontem, duas notícias estranhas:

Primeira – “Guiné-Bissau – Governo foi remodelado”.

A Guiné-Bissau tinha governo?!…

Segunda: “Somália – Homem de 112 anos casa com noiva de 17”.

Sabendo que a esperança média de vida, na Somália, é de 52 anos, basta ter-se 60 anos e dizer que se tem 112 – os outros sabem lá!

Novo Governo – dicas para os jornalistas

O novo governo, que amanhã toma posse, permitirá aos jornalistas engraçadinhos, inúmeros trocadilhos fáceis e títulos giríssimos.

Aliás, alguns já iniciaram o uso desses trocadilhos com a ministra da Educação, Isabel Alçada que, como também é escritora, e autora da colecção infanto-juvenil “Uma Aventura…”, uma espécie de “aventuras dos Cinco” í  portuguesa, permite coisas brilhantes como “Uma aventura no Ministério da Educação”, ou ainda “será que a nova ministra tem argumentos?”; ou também: “os professores sob a Alçada de Isabel”.

Mas há muito mais.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Amado tem, no seu apelido, uma forma do verbo “amar”, que pode ser glosado de muitas maneiras (o ministro bem ou mal amado, etc).

A nova ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, para além de ter um apelido que permite diversos trocadilhos e muitas rimas, é pianista – facto que pode ser usado para perguntas tolas, como: será que a ministra é solista ou saberá tocar em concerto? vai tocar sempre na mesma tecla? preferirá as teclas brancas e não excluirá as pretas?

O ministro da Ciência e do Ensino Superior, é Gago – mas com os gagos não se br…br…brinca…

O facto da nova ministra do Trabalho, Helena André, ser sindicalista, dá pano para mangas: traidora da classe operária, aliada do patronato ou, pelo contrário, uma infiltrada dos trabalhadores no governo burguês.

O ministro da Agricultura e Pescas chama-se António Serrano. Serrano? E a malta que vive nas planícies e no litoral? Um serrano percebe alguma coisa de pescas?

Para o Ambiente, Sócrates escolheu Dulce Pássaro. Doce pássaro? E os mamíferos, o lince da Malcata, por exemplo? Não ficarão prejudicados por esta preferência pelas aves? Dulce voa alto? Bate as asas e desaparece no horizonte?

Assim como os jornais desportivos não se cansam de insistir no milagre da Luz, desde que Jesus desceu no Benfica, preparem-se para os títulos inteligentes com os nomes dos ministros deste governo.

A polícia de rastos

Foto e legenda publicados hoje, no Diário de Notícias.

policiaderastosSerá que já é assim que os polícias fazem juramento de honra?

Ai Sócrates, Sócrates – deixaste os polícias de rastos!

(Espero que o Sócrates não leia este texto, caso contrário ainda sou capaz de levar electrochoques, como o director do Público, coitadinho!…)

Cegos, surdos, mudos

Os cegos de Santa Maria nunca pensaram vir a ser tão famosos.

Desde há uma semana que todos os telejornais abrem com notícias sobre os 6 doentes que tiveram a infelicidade de serem intervencionados, naquele dia.

Primeiro, a culpa era da droga injectada nos olhos dos doentes, que é fabricada pela Roche e que não seria a indicada, porque o Infarmed já tinha sido avisado pelo próprio laboratório produtor, e que outros centros oftalmológicos não a usavam, sabe-se lá se os médicos não a teriam usado para beneficiar a Roche e, assim, conseguir um lugar num maravilhoso cruzeiro no Mar Morto, para duas pessoas, com estadia e pequeno-almoço e a possibilidade de assistir a um congresso sobre cegueiras iatrogénicas.

Depois, a culpa era da farmácia hospitalar, bem que o Sr. Cordeiro da ANF avisou, que as farmácias hospitalares, ao ficarem fora do controlo da Associação Nacional das Farmácias iriam começar a fazer porcaria e estava-se mesmo a ver que a farmácia do Hospital de Santa Maria não percebia patavina daquilo e tinha preparado mal as seringas e o Sr. Cordeiro é que sabe porque, em terra de cegos, quem tem um olho, é rei.

Mas, afinal, a culpa poderá ter sido de uma contaminação. O Avastin não faz mal nenhum, a farmácia é uma gaja porreira, só que anda para aí um maluco í  solta, que decidiu misturar o medicamento com um produto tóxico qualquer, só para cegar aqueles 6 desgraçados.

Já temos a Maria José Morgado em campo, a investigar.

O problema é que ainda vamos descobrir que, afinal, tudo foi obra de extra-terrestres, que andam a fazer experiências em nós, e só não vê quem não quer, porque o pior cego é o que não quer ver, e eles querem ver se somos resistentes ou quê, para depois nos darem injecções nos olhos, para ficarmos todos ceguinhos e eles nos poderem colonizar í  vontade.

Cega não estará, mas surda tem estado a Joana Amaral Dias, com a malta toda a ligar-lhe e ela sem ouvir o telemóvel.

Toda a gente quer saber quem está a mentir: o Sócrates ou o Louçã?

O Louçã diz que o Sócrates convidou a Joana para as listas do PS, por Coimbra ou, no caso de não querer, outro lugar em qualquer organismo do Estado, porteira no Museu dos Coches, guarda nas latrinas da estação do Rossio ou mesmo Directora-Geral dos Directores-Gerais.

Sócrates, por seu lado, diz que não vê a Joana há meses (outro ceguinho…).

E os jornalistas, preocupados com tão importante assunto, vá de ligar para o telemóvel da moça e ela, surda que nem uma porta, não o ouve e não atende.

Cegos e surdos poderemos não estar, mas mudos ficamos nós com este país tão pequenino, com uma política que tropeça no diz-que-disse, que parece uma capelista de bairro e se resume a uma paróquia pequenina, com cheiro a naftalina.

Ensaio sobre a cegueira

Factos: seis doentes padecendo de degenerescência macular, foram submetidos a um tratamento específico no Hospital de Santa Maria, tratamento esse que consiste na injecção de um medicamento no olho.

A coisa correu mal e os doentes ficaram cegos.

O Hospital não sabe explicar o que aconteceu, uma vez que este medicamento já foi usado muitas vezes e sempre com bom resultado e todas as normas foram cumpridas. Por isso mesmo, abriu um inquérito e promete dar respostas dentro de duas semanas.

Esta seria a notícia – se é que este acontecimento merece ser notícia.

Mas a comunicação social encontrou, neste infeliz episódio, assunto para reportagens exaustivas, com declarações de peritos, opiniões de familiares indignados, afirmações de médicos, farmacêuticos, químicos, droguistas e fiéis de armazém.

Como os incêndios andam por baixo e a gripá não passa dos habituais 10 casos por dia, todos importados (não há meio de fechar um empresa com metade do pessoal doente, caramba!) – os jornalistas viraram-se para o drama destas 6 pessoas que, infelizmente, sofrem de uma doença que leva í  cegueira e que, na esperança de melhorarem, ficaram cegas mais cedo do que esperavam.

Só falta entrevistarem Saramago.

A cegueira como parábola, é com ele…

A epidemia! Finalmente, a epidemia!

A gripe das aves passou-nos a perna. Armazenámos tamiflu í s toneladas, reunimos as mais altas instâncias da OMS, enviámos repórteres aos hospitais dotados de quartos especialmente preparados para receber os infectados – e, da gripe, nem rasto.

O tamiflu ficou a ganhar bolor nas caves da Direcção Geral da Saúde.

Mas eis que os porcos dão uma ajuda: aí está a gripe suína!

Hoje, 6 dias depois de dado o alerta, já se fizeram, em Portuga, 10 análises 10 para tentar detectar o vírus H1N1, o que dá uma estonteante média de menos de duas análises por dia!

Hoje, 6 dias depois do alerta, não há um único caso confirmado, nem sequer um caso suspeito para amostra, mas já se põe em causa a capacidade de resposta das autoridades de saúde, nomeadamente da linha de Saúde 24.

Quem ouvir as notícias das televisões portuguesas, pensa que está no México e que há pessoas a morrer de gripe suína em cada esquina.

Mesmo no México, parece que o número de mortes que podem, comprovadamente ser atribuídas ao H1N1, são apenas sete.

Exagero, como de costume.

Nesse caso, não se deve informar? não se deve prevenir?

Claro que sim, mas sejam um pouco menos histéricos, por favor!

Ontem, no telejornal da RTP-1, uma jornalista que tem a mania que é engraçadinha, andou pela rua, em reportagem para conhecer a reacção das pessoas í  gripe suína.

E, apesar de ter a obrigação de informar correctamente, a jornalista perguntou a um homem, qualquer coisa como isto: “então vai comprar carne de porco? Não tem medo?”

Ela estava a brincar… claro que a carne de porco não tem nada a ver com a gripe suína – ou terá?

Aguardemos os próximos desenvolvimentos da coisa, mas cheira-me que estamos perante mais uma coisa semelhante í  da pneumonia atípica que, em 2003 ia matando milhões de pessoas em todo o mundo. E quem já não se lembra dessa epidemia brutal, pode clicar aqui, por exemplo.

Até já as ávores matam homens!

Quando surgiu o Correio da Manhã, a malta dizia que se amarrotava o jornal e saía sangue, tal era a quantidade de notícias sobre crimes e derivados.

Depois, surgiu o jornal O Crime e outros semelhantes, como, mais recentemente, o 24 Horas.

Mas o Diário de Notícias é um clássico. Sempre.

Desde os tempos de El Rei D. Luis.

Pois é, o DN existe desde 1864!

Então, tomem lá com alguns títulos do DN de ontem.

«Gaia: Roubaram tabaco armados com caçadeiras e uma metralhadora»; «Assaltos a caixas multibanco aumentaram»; «Ovar: Detido gangue da pistola prateada»; «Valongo: Duo armado rouba mulher que seguia a pé na rua»; «Amarante: Ladrões de casa detidos»; «Tomar: Trabalhador ferido em queda»; «Marinha Grande: Carro roubado na praia»; «Caldas da Rainha: írvore mata homem» (tudo na página 21).

«Coimbra: Detido homem que estará ligado ao tiroteio no Bairro do Ingote»; «Vila Flor: Pai e filho tentaram matar vizinho a tiro»; «Oliveira do Bairro: Detido terceiro suspeito de roubo a donos de restaurante»; «Lourinhã: Amarraram condutor e fugiram com o tabaco»; «Albergaria: Rapaz incendiava autocarros para se exibir aos amigos» (tudo na página 22).

«Covilhã: Homem de 77 anos mata companheira de 82»; «Setúbal: Agente da PSP apanhou ladrão a assaltar o seu carro»; «Vouzela: Bombas roubadas com faca» (página 23).

«Porto: Metade da cidade tem medo de sair í  rua í  noite»; «Coimbra: Carro ardeu e obrigou a evacuar prédio»; «Abrantes: Homem morreu em despiste de tractor»; «Lourosa: Marroquinos baleados» (página 25).

Este país está a saque!

Até já as ávores matam homens!

Pelo menos, nas Caldas da Rainha…