O presidente Marcelo não sabe estar quieto. Nunca soube.
Quando era “…jornalista”, aborrecido pela rotina, criava factos políticos, inventava acontecimentos e, depois, comentava-os.
Tornou-se assim o comentador-mor, primeiro na rádio, depois na televisão.
Aos domingos, religiosamente, Marcelo e a sua homilia.
Agora, sendo presidente de um regime que não é presidencialista, faz tudo o que pode para manter o estatuto de comendador.
Será que se vai candidatar a um segundo mandato?
Claro que sim!
Mas só o saberemos quando não houver alternativa, quando ele for obrigado, pela lei, a anunciar que é candidato.
Entretanto, sendo presidente, pode continuar a fazer campanha.
E mete-se em tudo.
Na pandemia, claro.
Agora que a segunda vaga atinge Portugal e toda a Europa, Marcelo decidiu ouvir diversos sectores ligados í saúde.
Começou pelo actual e por antigos bastonários dos médicos. Miguel Guimarães, que ficaria muito bem como ministro da Saúde do PSD, que, ao longo destes meses, tem criticado as decisões da DGS e do governo, sem apresentar alternativas, foi acompanhado pelos ex-bastonários, quase todos anciãos curvados sobre si próprios ““ um clube de senadores que quer sopas e descanso e que, muito provavelmente, tem apenas uma vaga ideia do que são os serviços de saúde actualmente em Portugal. Gentil Martins, com 90 anos e Carlos Ribeiro, com 94, ambos ex-bastonários, não fazem ideia do que é ser médico na comunidade. nos dias que correm, sobretudo junto dos bairros sociais construídos quando eles já se estavam a reformar.
Depois de ouvir as doutas opiniões destes anciãos, Marcelo ouviu, também, a bastonária dos enfermeiros, aquela senhora que usa apenas um brinco e que gosta de dar beijos ao líder do Chega, e a bastonária dos farmacêuticos.
Mas Marcelo esqueceu-se de um bastonário, quiçá o mais importante: o bastonário dos auxiliares, daqueles que dão a comida í boca dos acamados, dos que despejam as arrastadeiras, dos que levam para o lixo as algálias.
Qual será a opinião dessa malta sobre a pandemia?
Estou a brincar?
Não me parece.
Se tiveres algum familiar internado e quiseres saber informações sobre o seu estado clínico, a quem pedes informações?
Se falares com um médico ou uma enfermeira, vão responder-te que não podem dar informações sobre doentes internados.
No entanto, se falares com a porteira do teu prédio, que é prima de uma moça que é auxiliar no hospital, posso garantir que vais ter informações sobre o teu familiar.
Marcelo devia ter falado com o bastonário dos auxiliares.
Só assim seria verdadeiramente democrático…