Não é meu hábito comentar assuntos relacionados com a minha área profissional.
Penso que estou demasiado envolvido para ter uma opinião isenta.
Mas esta história do surto da gripe, merece algumas palavras e muita reflexão.
Ontem, prolonguei o meu horário. Estive no Centro de Saúde das 8 da manhã í s 22 horas. Fiz as minhas consultas programadas até í s 16 horas e, depois, fiz a consulta aberta a todos os utentes que solicitam consulta no próprio dia, pertençam, ou não, í minha lista de utentes. Esta consulta – direccionada para os utentes que não puderam ser consultados pelo seu médico de família ou para situações agudas que surgem em horário post-laboral, funciona das 16 í s 20 horas, com dois médicos.
No dia 16 de Dezembro – ainda a gripe não existia… – eu a e a minha colega Emília, atendemos 82 pessoas, nesse período de 4 horas.
Ontem, por determinação superior, prolongámos o horário até í s 22 horas, devido ao surto de gripe.
Consultámos 56 utentes. Nenhum, entre as 20 e as 22 horas!
Dois médicos, duas enfermeiras, uma administrativa e um segurança, cobraram mais 2 horas extraordinárias ao SNS para satisfazer as paranóias dos jornalistas, que inventaram uma epidemia de gripe.
Dizia-me, ontem um dos doentes que consultei: “É pá! Isto hoje ainda está melhor do que é costume! O doutor chamou-me tão depressa que nem tive tempo para me sentar! Gripe?! Os gajos querem é vender as vacinas que ainda estão em stock! Dizem que ainda há 96 mil vacinas nas farmácias – deviam eram dá-las í quele tipo com risco ao meio, da Direcção-Geral. Todas!”
Quanto a mim, enquanto bocejava í espera dos doentes que nunca apareceram, pensei por que razão os jornalistas foram, a correr, ao Amadora-Sintra, na sexta-feira passada, para filmar a sala de espera cheia de doentes e nenhum apareceu ontem, no meu Centro de Saúde, para filmar a sala cheia… de moscas…