Relvas, o da consciência tranquila

Afinal, a façanha de Miguel Relvas foi ainda maior do que pensávamos.

—A criatura, não só fez um curso completo em 365 dias, obtendo equivalência em 32 cadeiras, sem sequer lá por os pés, como conseguiu, ainda, obter aproveitamento em cadeiras que nem sequer existiam!

Segundo uma auditoria agora realizada, Relvas obteve aproveitamento nas cadeiras de Teorias Políticas Contemporâneas II e Língua Portuguesa III e IV, cadeiras essas que nem sequer existiam no ano em que homem se licenciou.

Muita coisa fica explicada, depois desta revelação.

Não tendo frequentado Teorias Políticas Contemporâneas, Relvas não pesca nada da política actual e não tendo, de facto, assistido a aulas de Língua Portuguesa III e IV, não percebe o significado de algumas frases feitas do nosso idioma.

“Consciência tranquila” é uma das frases feitas que o tipo não entende.

É que Relvas afirmou: «não tenho receio de nada, quero que tudo seja apurado, porque, como disse, fiz de acordo com a lei, de consciência tranquila, de boa fé».

Ora, estar de “consciência tranquila”, significa estar em paz consigo próprio. Como pode Relvas estar em paz consigo próprio, ao saber que a Universidade lhe ofereceu cadeiras que nem sequer existiam?

Estás a ver, Relvas? fez-te falta frequentares as cadeiras de Língua Portuguesa, pá!|

 

Vamos morrer gordos!

Passos Coelho é uma inspiração.

De repente, toda a gente começou a fazer humor, graças a ele.

Manuela Ferreira Leite já tinha tentado fazer stand up comedy daquela vez em que propí´s que se suspendesse a democracia por seis meses.

Mas agora, que o seu rival, que ela, no fundo, despreza, chegou a primeiro-ministro, transformou-se numa comediante de alto gabarito, zurzindo no Governo como poucos.

A D. Manuela não acredita na receita da troika e diz que o Orçamento do Gaspar é impossível de cumprir.

Diz não crer que “haja a possibilidade de haver alguém que considere que, na situação presente em que está a economia portuguesa, a situação melhore com o aumento de impostos”.

Diz que “estamos a tentar passar um atestado de estupidez aos credores, eles estão a perceber que não vamos conseguir cumprir”.

Diz “o que é que interessa Portugal não entrar em falência, se no fim vamos estar todos mortos?”.

E diz “concordo que é preciso emagrecer; mas aquilo que recomendo é que as pessoas não aceitassem morrer antes de emagrecer. Morrer gordo é do pior que há, especialmente depois de se fazer uma dieta tremenda”.

Confesso que nunca pensei sorrir com uma frase pronunciada por esta senhora.

Morrer gordo é do pior que há, é uma punch line do camandro!

Mas lá está: ela, bem como Bagão Félix e outros perigosos esquerdistas, estão postados em derrubar este governo coeso. Tão coeso que até Portas emitiu um comunicado assegurando que vai votar a favor do Orçamento – coisa rara num tipo que até faz parte do Governo.

Portas acrescentou, mais tarde, que uma crise política deixaria “Portugal muito perto da Grécia”!

Portugal muito perto da Grécia? Que grande volta na geografia! Se Portugal ficasse muito perto da Grécia, a Espanha iria para cima da Turquia e a França para a zona do Irão ou do Iraque!

Mas Passos Coelho inspira outros cómicos, mesmo além fronteiras.

A revista inglesa Economist diz que Portugal vai ficar cada vez mais pobre e passará a chamar-se Poortugal.

Cada vez mais Passos Coelho faz lembrar Santana Lopes.

Ainda vamos ter saudades do homem…

 

 

O sapo do Portas

Portas é um artista.

Meteu o coelho na cartola e de lá tirou um sapo.

Um sapo chamado Gaspar.

Durante este ano e meio, Portas andou por aí. Foi ao Brasil, í  Líbia, í  Venezuela, a Moçambique. Diplomacia económica, disse.

Por cá, os restantes membros do Governo iam fazendo o possível e o impossível para agravar o défice.

Depois, de repente, perceberam que, afinal, a austeridade tinha que ser agravada.

E Gaspar propí´s um enorme aumento de impostos.

Portas esteve quase para repetir aquilo que disse em junho de 2010: «o PSD não é de fiar em matéria de impostos».

Ou então, repetir o que disse em março do ano passado: «”…Eu uso de franqueza. Quando concordo, concordo. Quando discordo, discordo. E tenho que vos dizer isto com toda a franqueza. Subir impostos é aumentar a recessão. Disse-o ontem e digo-o hoje”Â».

Ou ainda o que disse de Sócrates, em julho de 2009: Â«É preciso ter descaramento. Um primeiro-ministro que aumentou todos os impostos e conseguiu uma consolidação do Orçamento í  custa de impostos e não de contenção de despesas vem agora fazer este anúncio (de que não pode baixar impostoso), eu digo que é descaramento».

Ou o que disse em maio de 2010: «Aumentar impostos é, como dizia o próprio engenheiro Sócrates quando se apresentou aos portugueses, o caminho mais fácil, mas não faz bem í  economia».

Ou o que disse a Teixeira dos Santos em janeiro de 2010: “…A ameaça do ministro das Finanças fez” só merece uma resposta “…se quer aumentar os impostos não conta com CDS” para uma viabilização do Orçamento do Estado.

Ou, finalmente, o que disse em setembro de 2007: «Quem está a combater o défice não é o governo, mas o contribuinte português, com os seus impostos, cujas receitas aumentaram 8,3% e estão a pagar a factura».

Mas não disse nada disso.

Preferiu engolir o sapo.

Afinal, é fácil ser liberal em Portugal…

Vamos supor que sou liberal e que tenho um amigo que é secretário de Estado no governo.

Vamos supor, por absurdo, que me chamo Passos Coelho e que esse amigo se chama Miguel Relvas.

Decido ser consultor e depois administrador (ou vice-versa) de uma empresa de formação, a que dou o nome de Tecnoforma.

Se alguém me perguntar o que faz a empresa, digo que dá formação.

Se alguém perguntar que tipo de formação dá a minha empresa, respondo formação técnica.

Convém deixar tudo suficientemente vago para poder encaixar em qualquer oportunidade que o meu amigo Relvas me arranjar.

E ele arranja um programa com um nome bonito: Floral.

Há umas massas do Fundo Europeu e mais uns milhões do erário público.

Pensamos nos funcionários das autarquias, coitados.

Alguns não têm mais que a 4ª classe…

Será que conseguiam ajudar a fazer aterrar uma avioneta?

Claro que não!… Tristes!…

E se nós lhes déssemos formação para poderem fazer não-sei-o-quê nos aérodromos?

Bora lá!

O meu amigo Relvas dá uma ajuda, tenho outro amigo na região Centro, que foi meu colega na JSD que também dá uma mãozinha e voilá! – a Tecnoforma ganha um concurso de 1,2 milhões de euros para dar formação a mil funcionários autárquicos para eventualmente poderem vir a trabalhar nos 2 – dois – 2 aeródromos em actividade.

Depois, mais tarde, quando for primeiro-ministro e o Relvas for meu adjunto, depois, então, havemos de cortar nas despesas do Estado.

í€ fartazana!

Mas agora, carago, é de aproveitar esta oportunidade!

Podemos ser liberais, mas não somos estúpidos!

PS – e depois havemos de arregimentar aquele professor universitário obeso, que usa muito gel na cabeça, Amorim ou Abreu ou assim, e que tinha uma coluna no Notícias Magazine chamada “É difícil ser liberal em Portugal”… de facto!

Mitiga, Gaspar, mitiga…

—Gaspar gosta de utilizar palavras pouco usadas na língua portuguesa.

Começou por nos revelar um desvio colossal.

Falou, recentemente, num enorme aumento de impostos.

Prometeu reduzir a despesa para poder mitigar o aumento de impostos.

Eis aqui outras palavras que Gaspar pode usar:

– a tua folha de Excel é uma formidável merda

– usas umas camisas com uns punhos e uns colarinhos execráveis

– tens cara de anjinho mas deves ser um sacana inabalável

– diziam que eras um estupendo técnico mas cheira-me que és uma incomensurável fraude

– a tua política não é anódina, porque estás mesmo a foder isto tudo, pá!

O melhor povo do mundo

Gaspar é um ministro sádico.

Primeiro, informa que nos vai ao bolso, com um enorme aumento de impostos; depois, passa-nos a mão pelo pelo, dizendo que somos o melhor povo do mundo.

O seu homónimo rei mago, ofereceu mirra a Jesus; Gaspar, o ministro, oferece-nos uma porra!

Ele quer que fiquemos mais pobres.

Ao ouvi-lo, veio-me í  memória aquela cantiga reaccionária da Amália, que dizia assim: “A alegria da pobreza/ está nesta grande riqueza/ de dar, e ficar contente”.

Pobres mas honrados.

Cheira a Salazar.

Gaspar é sádico.

Fode-nos e depois dá-nos beijinho…

Borges sofre de sindroma de Tourette?

O ministro-que-faz-de-conta-que-não-é-ministro, António Borges, não é capaz de ficar calado.

Ainda bem.

É da maneira que vamos conhecendo o pensamento político de Passos Coelho e percebendo como o “social” está a desaparecer do nome oficial do Partido “Social” Democrata.

Em junho, Borges disse que baixar os salários dos portugueses “era uma urgência“. Todos lhe caíram em cima e até Passos Coelho veio a correr dizer que não era essa a intenção do governo e tal.

Viu-se…

Nem três meses depois, aí estava o mesmo Coelho a propor a baixa dos salários em 7%, com a subida da TSU para os trabalhadores.

Foi graças a Borges que ficámos a saber, em agosto, que Relvas queria acabar com a RTP-2 e dar a concessão da RTP-1 aos privados. Claro que o governo veio dizer que era só uma opinião, mas… vamos ver o que vai acontecer í  RTP e veremos, mais tarde, que papel Relvas desempenhará nessa nova televisão semi-pública e mais ou menos privada…

Já há 5 anos Borges defendeu a privatização da CGD. Nessa altura, ouviu-se um coro de críticas. Mas não é que, agora, não se fala noutra coisa?…

Para terminar, ontem, num Fórum económico, Borges disse que “os empresários que se apresentaram contra a medida (TSU) são completamente ignorantes”.

É incompreensível como uma pessoa tão inteligente como António Borges cai na armadilha de falar em público como se estivesse a falar em privado, com um grupo de amigos.

A menos que…

A menos que António Borges sofra de Sindroma de Tourette  e não consiga manter a boca fechada.

Ou então, é mesmo ele quem governa Portugal e Passos Coelho não passa de um ínhuca – aliás, como eu sempre disse…

O estilo de Portas

Se me perguntam se eu fico, eu fico. Se me perguntam se vou, vou.

Se me perguntam se gosto, gosto. Se me perguntam se detesto, detesto.

Se me perguntam se engulo, não engulo. Se me perguntam se regurgito, vomito.

Se me perguntam se não posso mais, posso mais. Se me perguntam se aguento, não aguento.

Se me perguntam se tenho um pé fora, tenho um pé dentro. Se me perguntam se apoio, não apoio.

– Certificar as palavras de Portas, a propósito da descida da TSU decidida pelo governo, com o apoio de Portas, embora em desacordo, embora não tenha bloqueado, apesar de estar contra, apesar de nem por isso.