É fácil rimar com Vitor Gaspar

O inefável director de O Sol, José António Saraiva, no seu editorial de ontem, escreve sobre Vitor Gaspar e, a propósito do ministro das Finanças, recorda Salazar.

Também Salazar adoptou medidas duras para endireitar as Finanças e foi muito contestado. Por três vezes se demitiu e por três vezes foi reconduzido, sempre com mais poderes.

Até que chegou a Presidente do Conselho.

Gaspar também é contestado. Pela Oposição, o que é natural, mas também por alguns sectores da coligação, que o acham demasiado liberal.

Parece que o Cavaco também não vai muito í  bola com o Gaspar.

Pudera! O tipo cortou-lhe a reforma, aumentou-lhe o imposto e até lhe quer sacar os subsídios!

Claro que Belém desmente, Passos Coelho diz que não perde nem um minuto com essas especulações, mas toda a gente sabe que não há fumo sem fogo.

E Gaspar?

Gaspar passa incólume, entre os pingos da chuva, exibe o seu peculiar sorriso, esfrega as mãos e, no seu modo pausado de falar, vai afirmando que é assim, cortando salários, eliminando subsídios, aumentando impostos, encarecendo a saúde e os transportes, obliterando feriados, tirando dias de férias, empobrecendo, secando e entristecendo os portugueses, que é assim que vamos voltar aos mercados, erguendo-nos das cinzas, com um novo fí´lego, mostrando ao Mundo que somos capazes!

Pobres mas honrados!

Mas onde é que eu já ouvi isto?

De facto, Gaspar rima mesmo com Salazar…

—

O ílvaro e os feriados

O ílvaro vivia no Canadá, que é um daqueles países que não existe.

Por isso, para ele, coisas como a restauração da independência ou a implantação da República, não devem ter qualquer tipo de significado.

Aliás: devem ter o mesmo significado que a Ascenção da Nossa Senhora e o Corpo de Deus, que são os dois feriados de que a Igreja católica abdica.

Portanto, um Estado laico aceita negociar com uma determinada religião esta história dos feriados e essa facção religiosa tem o desplante de impor condições: só aceitamos que nos retirem dois feriados se vocês também tirarem dois feriados dos vossos.

Patético!

Vai daí, o ílvaro pensa: não podemos acabar com o 25 de Abril porque o Otelo era mesmo capaz de fazer outro, não podemos acabar com o 1 de Maio porque o Carvalho da Silva voltava a liderar a CGTP e nunca mais largava o osso, o 10 de Junho tem que ficar porque já foi da Raça, é do Camões, de Portugal e das Comunidades, e chateava muita gente se acabasse.

Logo, restavam esses dois feriados menores, em que se celebra, só, o facto de Portugal ser independente e o facto de vivermos numa República.

E, deixem-se de mariquices – estes dois pontos são os mais importantes da nossa identidade: sermos independentes e sermos republicanos.

Sendo assim, o ílvaro é um palerma!

A quem é que ele quer enganar?

Será que ele acredita que é com mais quatro dias de trabalho que a economia de Portugal vai disparar?

Ingénuo?

Não – populista.

Desprezível…

 

Madeira – farol da Democracia

Na véspera de uma Greve Geral, em que milhares de portugueses irão mostrar a sua indignação perante as medidas de austeridade que nos estão a atirar para a recessão, num momento em que muitos se interrogam sobre o destino da Democracia, numa altura em que o capitalismo selvagem parece estar a tomar conta das nossas vidas – eis que a Madeira, a Pérola do Atlântico, nos mostra o caminho.

Como?

Simples!

Os deputados do PSD na Assembleia madeirense decidiram que um único deputado pode votar pelos restantes 25.

De facto, por que raio é que 25 deputados se hão-de deslocar í  Assembleia, quando um único pode fazer o trabalho de todos?

O PSD continua com a maioria absoluta, mas mais curta do antes; com efeito, o PSD tem apenas mais dois deputados do que a soma dos deputados da Oposição. Imagine que, por exemplo, dois ou três deputados do PSD têm outra coisa mais importante para fazer do que ir apanhar secas na Assembleia. O partido fica em minoria e pode perder votações.

Nada disso.

O líder da bancada do PSD vota e o seu voto vale pelos 25 deputados!

É assim mesmo!

Obrigado, Alberto João, pelo exemplo que continuas a dar!

E obrigado pelos 3 milhões que vais gastar no fogo de artifício!

Eu próprio já contribuí para os teus foguetes, com metade do meu subsídio de Natal!

Espero que te rebentem na peida, pá!

Medo do animal feroz

Lembram-se do que aconteceu depois de António Guterres e Durão Barroso terem deixado de ser primeiro-ministros?

Nada.

Guterres foi para aquela coisa dos refugiados e Barroso, no fundo, também, já que a Europa não passa de um enorme campo de refugiados.

E por cá, pouco ou nada se fala deles.

Vemos Guterres ao lado de Angelina Jolie, algures na Somália e Barroso, ao lado de Angela Merkel, algures na Europa e é tudo.

Vantagem para Guterres, sem dúvida.

A Angelina bate a Angela em todas áreas.

E quanto a Sócrates?

Muito mais odiado que Guterres e Barroso, retirou-se pela esquerda baixa.

Diz-se que foi para Paris, estudar filosofia (e diz-se com ar de gozo, como se aquele tipo, que nem engenheiro é, tivesse categoria para estudar fosse o que fosse, muito menos filosofia – o mister do outro Sócrates, o original!…).

Mas a sombra de Sócrates continua a pairar sobre as páginas dos jornais.

O semanário Sol, um dos que mais bateu em Sócrates, demorou semanas a retirá-lo da primeira página.

E esta semana, subitamente, voltou-se a falar do homem.

Que o homem tinha telefonado a alguns deputados do PS, para que eles votassem contra o Orçamento. Que tinha jantado com apoiantes no Porto. Que anda por aí.

Que medo!

O medo é tão grande que até o chefe da JSD decidiu mesmo entregar ao Procudador-Geral da República, uma série de documentos que supostamente provam que Sócrates é responsável pela dívida soberana, pelo que deve ser julgado.

Claro que este inteligente jovem (chama-se Duarte Marques, tomem nota porque ainda pode chegar a primeiro-ministro…) sabe que esta sua iniciativa não passa de uma patetice populista porque, se a responsabilização criminal de Sócrates fosse para a frente, teríamos que abrir processos a muita gente, a começar pelo Cavaco!…

Portanto, estamos nisto: o PSD e o CDS têm a maioria absoluta, têm um líder da Oposição que é um cinzentão tão triste que até tem Seguro no apelido e, mesmo assim, não se sentem a salvo e temem o regresso do animal feroz.

Por que será?

Aceitam-se sugestões.

 

O referendo grego

O problema central não é o primeiro-ministro grego ter decidido fazer um referendo, mas sim que pergunta fazer nesse referendo.

Papandreu (pronuncia-se mais ou menos assim, mas escreve-se de maneira muito diferente) diz que o referendo não é sobre o euro, mas sim sobre as medidas de austeridade.

Mas também há a possibilidade de Papandreu desistir do referendo, a favor da formação de um governo de coligação entre os socialistas e o partido í  sua direita.

Nesse caso, Papandreu cederia o seu lugar a Papadamus (não tenho bem a certeza se é assim que se pronuncia…)

Fica claro que o problema grego é uma questão de Papas.

Por cá, o nosso Papa-Açorda anda a reboque, ora dizendo que não é preciso renegociar com a troika, ora afirmando que são precisos ajustamentos…

Voltando ao referendo e í  sua pergunta.

Poderá ser, simplesmente: «deve a Grécia manter-se no euro ou deve voltar ao dracma?»

Ou ainda: «deve a Grécia aceitar as medidas impostas pela troika ou deve fazer-lhes um manguito?»

Ou talvez: «deve a Grécia manter-se na Europa ou passar-se para a ísia, que fica já aqui ao lado?»

Ou, finalmente: «deve a Grécia pedir a extradição de Duarte Lima, conceder-lhe a cidadania e nomeá-lo primeiro-ministro e, depois, sair do euro?»

Eu votaria nesta última pergunta.

Injustiça!

Fiquei chocado quando soube que o Dias Loureiro recebe, de subvenção vitalícia, apenas 1700 euros!

É um escândalo!

Enquanto tipos como o Duarte Lima, que se limitou a ser líder parlamentar do PSD, recebem mais de 2 mil euros por mês, Dias Loureiro, que foi ministro, fundador do BPN e membro do conselho de Estado, designado pelo Presidente Cavaco, fica-se pelos 1700!

E há mais injustiças, nesta lista de políticos que recebem pensões suportadas pelos contribuintes.

Por exemplo, como é que Bagão Félix consegue aguentar-se com 1000 euros por mês? Mal dá para pagar o lugar cativo na Luz!…

E Zita Seabra? Não será uma injustiça pagar a uma mulher que conseguiu passar do PCP para o PSD, a miséria de 3 mil euros por mês?

E agora, o governo vai acabar com estas subvenções.

Acho mal… Esta malta vai começar a viver mal!

E seguindo esta onda de cortes, eis que a pressão da comunicação social faz com que alguns membros do governo abdiquem do subsídio de deslocação!

É o caso de Miguel Macedo, que recebia a miséria de 1400 euros por mês por viver a mais de 100 km de Lisboa.

O que é que o homem vai fazer agora?

Estamos a transformar os nossos políticos em sem-abrigo…

Um dia destes, em Belém…

Maria (M) – Falaste hoje com o Pedro? Correu bem?…

Aníbal (A) – Nem por isso. Disse-me que decidiu cortar os subsídios de Natal e de férias…

M – A nós também?!

A- A todos os funcionários públicos e a todos os reformados!…

M – Que desfaçatez!…E eu que estava a pensar em gastar o subsídio de Natal nuns novelos de lã para fazer umas camisolas para os nossos netos!…

A-Vais ter que te satisfazer com umas techirts da Zara… O tipo está inflexível!…

M – E o subsídio de férias também?!…

A- Hum hum…

M – Lá vamos passar as férias outra vez no Algarve!… Os planos da ilha Canela vão por água abaixo! Bolas! O Sócrates tira-te uma das reformas, o Pedro tira-nos os subsídios – para que serve seres o Presidente?!…

A – É a crise, Maria!…

M – Qual crise! Esse Pedro nunca me enganou! Um tipo que foi casado com uma das galdérias das Doce, não podia ser boa peça!…

A – Eu bem avisei que a situação era explosiva…

M – Tão explosiva que rebentou para o nosso lado!… E tu não fazes nada?!

A – Então, eu tenho escrito umas coisas no Facebook…

M – Não chega, homem! Chega-te í  frente! Mostra-lhe quem manda!

A – E dissolvo a Assembleia? Ainda agora foi eleita!…

M – Quero lá saber! Eu quero é os meus subsídios de volta!

A – Deixa estar que eu vou dizer í  comunicação social que acho injusto e pode ser que o PS pegue na coisa e apresente uma alternativa no Parlamento…

M – O Seguro? Aquele totó?!… Podes esperar sentado!

Neste momento, alguém arrancou o microfone que tínhamos colocado nas flores de plástico que ornamentam a mesa da cozinha do casal presidencial.

Jardim dixit

O DN recorda, hoje, algumas frases lapidares do Alberto João. Ei-las:

Sobre a possível candidatura de Cavaco a Belém: «A ida do professor Cavaco para Belém seria nociva ao país e ao PSD. O sr. Silva devia ser expulso do PSD.»

Sobre a candidatura de Passos Coelho í  liderança do PSD: «Acha que depois de 30 e tal anos de política, estou para ser liderado por ese indivíduo?»

Sobre António José Seguro: «Esse senhor chegou a secretário geral do PS? Desculpa, o que eu me lembro do sr. Seguro é de andar a distribuir preservativos pelas praias».

Sobre Sócrates: «Sócrates está obcecado contra um povo, que é o madeirense, e quer fechar a imprensa que lhe é adversa. É nitidamente um Mugabe».

Sobre Guterres: Â«É um tonto… e caloteiro».

O facto deste gajo estar no poder desde 1978, sem que ninguém, nunca, o tenha posto na ordem, é um daqueles mistérios insondáveis.

E claro que vai ganhar as eleições novamente – pois se até o sr. Silva o desculpa…

A laranja já está podre

Não foi preciso muito tempo.

Em três míseros meses, a nova AD quebrou todas as promessas eleitorais que levaram o povinho a escolhê-los.

Passos dizia que cortar o 13º mês era um disparate?

Já está.

Que, se aumentasse os impostos, seria sempre do lado do consumo e nunca do lado dos rendimentos do trabalho?

Já está.

Que o TGV era um luxo e que ia ser suspenso imediatamente?

O tanas!

Dentro da coligação, começou a agitação.

Marques Mendes, Graça Moura, Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, Pires de Lima e Lobo Xavier, todos, de uma maneira ou de outra, vieram a público criticar a política fiscal do governo.

Comentadores chamam a atenção para o facto de Passos Coelho e Paulo Portas empurrarem Vitor Gaspar para a frente do touro, obrigando-o a anunciar, sozinho, sucessivos PEC´s, enquanto que, no passado, o arqui-inimigo Sócrates dava sempre a cara, ao lado de Teixeira dos Santos.

Miguel Sousa Tavares, na sua coluna semanal no Expresso, chama a atenção para o facto da despesa do Estado ter descido no primeiro semestre deste ano, quando Sócrates ainda estava no poder, e de ter aumentado desde Julho, já com a AD a mandar.

Fernando Madrinha, também no Expresso, diz que, dos últimos líderes do Continente, Sócrates foi o único que teve coragem para afrontar Alberto João Jardim.

Entretanto, na Universidade de Verão, organizada pelo PSD, Soares foi convidado a dar uma palestra e foi recebido pelos jovens da JSD com gritos de “Soares é fixe!”

Volta Sócrates, que estás perdoado!