Estava eu sentadinho na minha casa do Algarve, já com as pantufinhas calçadas e uma mantinha sobre os joelhos, a estudar os decretos-lei que o malvado do Sócrates me obrigou a levar para férias, quando apareceu a minha Maria, a dizer:
– Estão lá fora duas pessoas importantes do PS a dizer que tu estás a ajudar o PSD a elaborar o programa do Governo.
– E como sabes tu que elas são duas pessoas importantes do PS? – perguntei.
E ela: “porque os contei – um, dois -, porque são altos e porque trazem rosas ao peito.
Percebi automaticamente que o PS me queria manipular, encostando-me ao PSD, para disso tirar dividendos eleitorais.
Regressei a correr a Lisboa e, mal entrei no meu gabinete da Presidência da República achei que alguém me tinha mexido no computador porque o naperon que a Maria tinha posto por cima da impressora, por causa do pó, estava um bocadinho desviado.
Liguei o computador e fui ver os mails e achei-os um pouco vulneráveis. De tal maneira, que hoje mesmo liguei para a Zon e já cá veio um brasileiro que me configurou o meu programa de mails, de modo a só receber mails de pessoas decentes.
Por isso, portugueses, sou forçado – repito: sou forçado – a tornar pública a minha indignação e repetir que ninguém está autorizado a falar em meu nome, nem mesmo a minha mulher.
Se algum dia ela vier a público dizer que eu estou desmemoriado ou confuso, ou baralhado, ou confuso outra vez, podem ter a certeza que falará em seu nome pessoal porque, em meu nome, ninguém fala, a não ser o chefe da Casa Civil e o chefe da Casa Militar e, talvez, eu próprio, embora não tenha bem a certeza disso.
Boa noite e agora vou para dentro, pensar como raio é que vou arranjar uma maneira de não indigitar Sócrates como primeiro-ministro.