Entre dezembro de 1983 e março de 1985 escrevi mais de 30 crónicas que foram lidas e interpretadas pelo Raul Solnado, primeiro, no programa Fim de Semana, na RTP-1, depois no Programa da Manhã, da Rádio Comercial.
A Coordenadora dos gestores eleitos do sector empresarial do Estado divulgou um documento, segundo o qual, haverá “…regabofe” e “…corrupção” em grande parte dos conselhos de gerência das empresas públicas.
Na minha opinião, há várias maneiras de ver o problema e ~e melhor não fazer juízos precipitados.
Ora pensem lá bem…
Qual é o empregado de escritório que não fana uns clips de vez em quando, ou não leva para casa um tubo de cola para o filho colar os cromos da bola na caderneta?
Também o empregado da pastelaria não resiste a levar, no fim de um dia de trabalho, dois pastéis de nata e uma bola de Berlim, para comer no caminho.
Claro que cada um se amanha conforme o emprego que tem…
É natural que um ajudante de farmácia tenha sempre no armário da casa de banho uns comprimidos para as dores de cabeça e umas pastilhas para a azia.
A cabeleireira aproveita e leva para casa os frascos de champí´ e as embalagens de laca que estão no fim. Não prejudica o patrão e sempre poupa no orçamento familiar.
Mas quanto aos gestores de empresas ““ que hão de eles fazer?
~e que eles não mexem directamente nos produtos que as suas empresas fabricam… í€s vezes, nem sabem muito bem o que elas fabricam… Nem precisam!… Passam os dias fechados nos gabinetes, rodeados de relatórios, gráficos e telefones. O negócio deles é gerir, nada mais…
Portanto, é natural que, no fim do dia, quando regressam a casa, se sintam frustrados por irem de mãos a abanar.
Vai daí, acontecem coisas destas, com vem no tal relatório…
Por exemplo, num Banco gastaram-se 50 mil contos na organização de um Encontro, onde se discutiram planos e orçamentos. As despesas incluíram prendas, passeios e jantares de gala… É compreensível… Vocês já experimentaram discutir orçamentos?… Faz cá um buraco no estí´mago!…
Uma outra empresa pública mandou vir equipamento industrial do estrangeiro e, com o equipamento, vieram também uns caixotes com uns electrodomésticos, aparelhagem de som e mobiliário para uso pessoal dos gestores. Deste modo se pouparam algumas viagens ao estrangeiro. E convenhamos que trazer mobílias numa mala de viagem não dá jeito nenhum…
Diz ainda o relatório que numa outra empresa se utilizam as viaturas para uso particular dos gestores durante os fins de semana.
Então ““ o que haviam eles de fazer?… usar os carros durante a semana?… ao domingo é que apetece passear!…
Enfim, cada um agarra-se í quilo que pode, que a vida está má até para os gestores das empresas públicas.
Aliás, no aproveitar é que está o ganho ““ ou não será assim?