O muro

Ontem, a RTP e a SIC proporcionaram-nos reportagens formidáveis, directamente da Líbia (se calhar, a TVI também, mas eu não vejo a TVI por uma questão de princípio)

—Bem, eu não tenho a certeza se aquilo era mesmo na Líbia, mas parece que sim. Os jornalistas estavam mesmo na Líbia, mais precisamente, em Tripoli.

Mais precisamente, num hotel da capital líbia, cheio de jornalistas.

Mais precisamente, atrás de um muro.

E o muro foi a estrela das reportagens.

Na RTP, Paulo Dentinho, deitado no chão, atrás do tal muro, falava para o microfone e tinha um telemóvel na outra mão. Ao fundo, ouviam-se estampidos.

Na SIC, Cândida Pinto, deitada no chão, atrás do mesmo muro, fazia a mesma figura.

Os tais estampidos eram, supostamente, tiros.

Os repórteres, com ar de quem está com cólicas abdominais, iam descrevendo o óbvio: estamos aqui, o hotel é ali, ouvem-se tiros… tudo afirmações definitivas.

Do lado de cá, um José Rodrigues dos Santos, aos gritos, e um Rodrigo Guedes de Carvalho, aos berros, tentavam sacar mais informações dos seus colegas. Mas eles limitavam-se a debitar vulgaridades.

Os repórteres como sujeitos da notícia.

A notícia deixou de ser a guerra civil líbia e passou a ser o repórter, deitado no chão, atrás de um muro…

No mínimo, ridículo.