O novo coronavírus introduziu na minha vida, outros rituais – e como eu gosto de rituais!
O principal consiste na lavagem das mãos.
Lavar as mãos dezenas de vezes por dia é o sonho de qualquer obsessivo-compulsivo e essa malta deve estar muito feliz com este conselho da OMS. batem no peito (com luvas) e dizem vêem como eu tinha razão?!…
Tenho seguido esse conselho e lavo as mãos tantas vezes que já as tenho mais brancas que o resto do corpo. No outro dia, no duche, até pensei que eram as mãos de outra pessoa que me estavam a ensaboar certas partes do corpo, o que até é uma ideia interessante.
Em tempos, tive um doente que me dizia que podia não lavar os dentes, mas que lavava sempre o rabo depois de evacuar.
Ora aqui está uma recomendação que a DGS devia fazer a todos os portugueses: não se fiquem pelas mãos – lavem também o rabo. O Covid ataca por onde menos se espera!
Dizem as autoridades de saúde que devemos lavar as mãos durante o tempo que demora a cantar o Parabéns a Você. Confesso que já estava farto dessa canção. Comecei a variar. Troquei o Parabéns pelo All Together Now, dos Beatles, que demora 60 segundos a cantar. Fartei-me depressa e, com a minha mania de ser intelectual, fui mudando para temas mais eruditos. Agora lavo as mãos enquanto trauteio o último andamento da Nona do Beethoven. Chego ao fim com as mãos esfoladas.
Mas limpas!
Outro ritual consiste em descalçar os sapatos antes de entrar em casa.
Como uso ténis, a coisa não tem sido muito complicada.
No entanto, o facto de ser já quase septuagenário e de não frequentar as aulas do meu PT há quase um mês, faz com que me desequilibre quando tento descalçar os ténis para entrar em casa. No outro dia, ia caindo pelas escadas abaixo…
Estou a pensar a passar a andar descalço.
É capaz de ser mais fácil lavar os pés do que descalçar os ténis sempre que chego a casa.
Pois, já sei o que vão dizer: que devia ficar em casa. E fico, a maior parte do tempo.
Mas preciso de ir comprar pão e fruta e legumes.
Quando vou, levo sempre um papel de cozinha, para carregar nos botões do elevador. O problema é que também uso papel de cozinha para me assoar e, por vezes, confundo os dois papéis e, no outro dia, tive que ir lavar os botões do elevador, que estavam cheios de ranho meu.
Quando vou í mercearia, espero na fila, afastado do outro cliente cerca de metro e meio.
Por vezes, guardo uma distância maior, como naquele dia em que estive atrás de uma senhora que devia estar muito doente porque tinha a máscara no pescoço. Ora se a senhora já tinha a tiróide infectada, devia estar mesmo doente!…
Por outro lado, acabo por admirar aquela malta que fuma de luvas.
Eu já fui fumador e sei o que é um tipo estar por tudo: que se lixe! Se vou morrer de cancro do pulmão, por que não de Covid 19? E então, é mexer em todo o lado com as luvas e, depois, levar o cigarro í boca. Morre-se mais depressa, é escusado estar í espera do cancro.
E pronto, se me lembrar de mais rituais, eu digo.
Até lá, fiquem em casa e lavem as mãos!