Não sabia como tinha nascido esta expressão, muito
usada pelos meus pais e avós, como significando um grupo de pessoas,
geralmente, miúdos, malcomportados, ou malvestidos, ou ambas as coisas.
Pesquisando no site Ciberdúvidas, encontrei esta explicação:
“…O termo tropa-fandanga
é formado de duas palavras: o substantivo tropa e o adjectivo fandanga.
Tropa é
um termo oriundo do francês troupe, redução de troupeau, «rebanho» (final do
séc. XII), provavelmente do latim turba, «multidão em desordem ou movimento».
Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas
juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação
de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao
longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as
tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que
compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias
acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade,
refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma
etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que
actuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados
dispostos a exercer a praxe.
A palavra
fandanga é a forma feminina do adjectivo fandango, formado do
substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que
entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da
vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela
participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido
figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjectivo fandango,
com o significado de «ordinário», «desprezível», «caricato», registado em
dicionários portugueses no início do século XX.
Cria-se,
assim, o termo tropa-fandanga, que significa gente desordenada,
indisciplinada, grupo de pessoas que não merecem consideração, gente
desprezível.”
Parece que a
minha família aplicava bem este termo.
Quando fui
mobilizado para fazer o Serviço Militar Obrigatório, nos idos de 1980, passei
dois meses na recruta, nas Caldas da Rainha, e achei que aquilo era mesmo uma
tropa fandanga.
Formámos um pelotão
de médicos que se tinham safado da guerra colonial graças aos estudos universitários
e, sobretudo, graças ao 25 de Abril.
Em 1974, eu
estava apenas no 3º ano da faculdade de Medicina, e fui conseguindo adiamentos
para servir a Pátria. Em 1977 terminei o curso e fiz o internato durante dois
anos. Mais adiamentos. Em 1980 fui fazer o Serviço Médico í Periferia para
Mourão, no Alentejo e, em setembro desse ano, acabaram-se os adiamentos. Em vez
de ir fazer consultas médicas aos alentejanos, fui aprender a montar e
desmontar G-3, a fazer ombro-arma e funeral-arma e outras mariquices próprias
da tropa.
Foi por isso
que escrevi que o melhor da tropa eram as lições de dança ““ porque a chamada
ordem unida não passa de verdadeiras lições de dança, onde os praças aprendem a
marchar a compasso, a virarem para a direita ou para a esquerda ao mesmo tempo
e a apresentarem a arma de forma digna e correcta.
E para quê,
num país em paz?
Para nada!
A Costa Rica
não tem forças armadas e está bem, muito obrigado.
Nós temos…
porque sim.
Vem tudo
isto a propósito de Tancos.
Para memória
futura apenas recordo que armas e munições foram roubados dos paióis de Tancos
e que, meses depois, os ladrões parece que se assustaram e concordaram em
devolver as armas e munições, que foram encontradas na Chamusca.
Durante dois
anos, o Ministério Público investigou este assombroso caso (coisa que qualquer
CSI resolve num episódio de 50 minutos) e esta semana, em plena campanha
eleitoral, designou como arguidos, além dos ladrões, uma série de militares e um
ministro, culpados de terem encenado o encontro das armas. Parece que a Polícia
Judiciária Militar, para fazer pirraça í PJ civil, negociou com os ladrões a
devolução das armas, de modo a parecer que fora um grande feito da investigação.
Tudo isto, com o conhecimento e conivência do ministro da Administração
Interna, quem sabe do primeiro-ministro, quem sabe, até, do presidente da
República.
Portanto, esta tropa que deixa os seus paióis
serem assaltados desta maneira tão artesanal e que, depois, entra em
negociações com os ladrões para reaver o furto, só para passar a perna aos seus
congéneres civis, não passa de tropa fandanga.
E se algum ministro, primeiro ou segundo, e algum
presidente, foram coniventes com esta farsa, isso só mostra que, apesar de ser
uma instituição ultrapassada e inútil, a tropa ainda consegue meter medo a
muita gente.
Claro que os dirigentes da Direita, sobretudo o
impoluto Rui Rio, aproveitaram esta brinca para desancarem no ministro Azeredo
Lopes e no chefe do governo, António Costa.
Rui Rio, o tal que é contra julgamentos na praça
pública, já julgou e condenou o Lopes e o Costa ““ são ambos culpados de terem
participado na farsa da recuperação das armas.
Se eu fosse ao Costa, desistia já das eleições e
deixava o Rio ganhá-las e formar governo. Depois, sentava-me í espera de ver
como a tropa o iria assar em lume brando, até ele ficar completamente
chamuscado.
É que não se brinca com a condição militar…