Californication – 3ª temporada

—A série continua com bom ritmo. Politicamente incorrecta, machista q.b., ordinarota e cheia de ritmo.

David Duchovny continua a fazer um bom escritor falhado, bebedolas, mulherengo, preguiçoso, porcalhão e tudo o que se quiser, mas com muita saída junto das mulheres, sobretudo das mulheres dos outros, que não as sabem acarinhar como só ele sabe.

No antepenúltimo episódio, assistimos a uma verdadeira comédia de costumes, com as três mulheres que Moody anda a papar a encontrarem-se, todas, em casa dele, juntando-se, depois, a legítima mulher e a filha.

Hank Moody e o seu agente e amigo Runkle formam um par irresistível, muito bem secundados por Kathleen Turner, que personifica a agente Collini, “who always gets the weeny”.

E caso não gostes deste tipo de séries, “you can leak me where god slipt me”…

“Escritos Pornográficos”, de Boris Vian

—O que não terá feito Boris Vian, na sua curta vida de 39 anos? Um livro com receitas de cozinha? Ou como podar arbustos? Ou mezinhas caseiras para curar a gripe?

Se o tivesse feito, alguém o teria publicado, certamente.

Este pequeno livro, de capa muito dura, para enformar, contém um Prólogo de sete páginas, da autoria de Noel Arnaud, Notas sobre os textos (mais 6 páginas), referências Bio-Bibliográficas (mais 4 páginas), ilustrações de Pedro Vieira (mais 7 páginas) e, propriamente da autoria de Boris Vian, 48 páginas, 26 das quais pertencendo a uma espécie de conferência, intitulada “Utilidade de uma literatura pornográfica”, e que é um texto com muito pouco interesse e que poderia ter continuado na gaveta.

Os restantes textos de Vian incluídos nesta colectânea, têm, também eles muito pouco interesse e Vian tê-los-á inscrito porque sim. São eles: “Liberdade”, “Durante o Congresso”, “As Fufas”, “A Marcha do Pepino”, “A Missa em João Menor” e “Drencula, excertos do diário de David Benson”, o único texto que poderá ser considerado “pornográfico” e que tem alguma graça.

Gosto muito do Boris Vian, mas senti-me enganado ao dar 17 euros por este livrinho da Guerra e Paz, que poderia surgir como “extra” numa qualquer reedição do “Outono em Pequim”.

“O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth

—Como preâmbulo, Roth explica que o “complexo de Portnoy é uma perturbação na qual profundos impulsos éticos e altruístas entram em perpétuo conflito com desejos sexuais descomedidos, muitas vezes de natureza perversa”.

Está lançado o mote para este romance de 1969, em que Roth, por trás da personagem de Alexander Portnoy, dá largas í  culpa judaica (e eu acrescentaria, judaico-cristã) – í  culpa em sentido lato, embora, nesta história, a culpa esteja mais direccionada para o sexo.

O judeu Portnoy tem uma mãe castradora e um pai ausente – história habitual. E cedo vai descobrir os prazeres do sexo, mas sempre com uma culpabilidade que o vai levar a uma hipocondria paranóide.

Roth conseguiu fazer-me escangalhar a rir, graças ao uso do vernáculo puro e duro, em rajadas de parágrafos:

«Cada rapariga que vê (agarrem-se bem!) traz, afinal, entre as pernas, uma cona de verdade. Extraordinário! Assombroso! Ainda hoje ele (Portnoy) não se refez da ideia fantástica de que, quando olha para uma rapariga, está a olhar para alguém que é garantidamente portador – de uma cona! Todas elas têm cona! Logo ali, por baixo dos vestidos! Conas – para foder!» (pág. 103)

Numa espécie de discurso de ódio, Roth, através de Portnoy, invectiva a hipocrisia da religião judaica, mas também não é simpático para os cristãos:

«Só mesmo uns pobres trouxas sem nada dentro da cabeça é que podem adorar alguém que, primeiro, nunca existiu, e segundo, se existiu, com o aspecto que tem naquela imagem, era com certeza o maior maricas da Palestina. Com o cabelo cortado í  pajem e uma pele de anúncio do Palmolive – e uma vestimenta que hoje me pareceria saída do Fredericks de Hollywood! Basta de Deus e de todas essas tretas! Abaixo a religião e o aviltamento do homem! Viva o socialismo e a dignidade humana!» (pág. 65)

A história de Portnoy é contada pelo próprio a alguém, a quem ele se dirige, e que parece ser um psicanalista, um médico, um juiz. Este truque permite a Roth escrever um longo monólogo de 260 páginas em tom panfletário, que se lê quase de um fí´lego.

Com este, já li onze livros do Roth e não me canso.

Californication – 2ª temporada

—A maior parte das séries de televisão norte-americanas desta nova fornada, começa muito bem mas vai perdendo gás ao longo das temporadas. As excepções (Sopranos e The Wire), confirmam a regra.

Californication ainda só vai na 2ª temporada e, por enquanto, mantém a mesma performance. Claro que não se compara a qualidade desta série soft-porno-chic, com The Wire, por exemplo – são coisas completamente diferentes, mas Californication é divertida, mantém um andamento apreciável e como os episódios são curtos, não chega a chatear.

Duchovny, no papel do escritor falhado, continua o seu underacting e, com aqueles olhos de carneiro mal morto, vai papando as miúdas todas da série, mas sempre sem querer e com uma dose de culpabilidade que dura 10 minutos.

Gosto muito da personagem de Charlie Runkle, interpretada por Evan Handler, masturbador compulsivo, agente de actrizes porno falhadas e que parece estar sempre no local errado, í  hora errada.

Vejamos se a 3ª temporada mantém o ritmo das duas anteriores.

“Casais Trocados”, de John Updike

—Publicado em 1968, a acção de “Couples“, de John Updike, decorre no início dos anos 60 e é pontuada por alguns acontecimentos da política norte-americana, nomeadamente, a crise dos mísseis de Cuba, o assassínio de Kennedy e a indigitação de Jonhson.

A história desenvolve-se em Tarbox, uma pequena localidade costeira de Massassuchets, onde uma série de casais vivem uma intensa vida social, com constantes jantares e festas e jogos de ténis. Nos intervalos, vão para a cama uns com os outros, trocando de pares com algum í -vontade, contrariando o puritanismo protestante reinante, embora mantendo uma capa de respeitabilidade.

Esta aparente liberdade sexual tornou-se mais fácil com o advento da pílula e as jovens mulheres, donas-de-casa ociosas, não se ensaiam muito para experimentarem os dotes sexuais dos maridos das amigas.

O principal herói, é Piet Hanema, um descendente de holandeses, frequentador da igreja, que detém uma pequena empresa de construção e renovação de edifícios e que, í  conta de ir lá a casa ver o que se pode fazer a esta porta empenada ou ao telhado que está partido, vai papando as mulheres dos seus amigos, acabando por engravidar uma delas. Para conseguir uma interrupção da gravidez, oferece a um dentista local, que se encarregaria do acto, uma noite com a sua própria mulher. O dentista aceita e a mulher de Piet também…

A linguagem de Updike é rebuscada e, de repente, crua. Parece que a sua descrição dos actos sexuais, pouco frequente na literatura dos anos 60, acabou por dar mais notoriedade ao livro e Updike foi capa da Time, por isso.

De facto, Updike tanto pode fazer descrições líricas do firmamento, da praia e dos paiús, como esta: 

“Cercava-o o trilar monótono dos grilos. A noite límpida ameaçava gear. A cascata rígida das estrelas parecia ter sofrido um empurrão lateral: Vega, rainha do céu de Verão, já não reinava no zénite, tendo cedido o seu lugar í  pálida Deneb e a uma constelação esfumada em forma de casa.”

Como pode usar uma linguagem explicíta, no que toca ao sexo, como esta pequena passagem:

“Ela puxou-lhe os cabelos, Vem cá para cima. «Vem para dentro de mim». E ele verificava, espantado, ele que ainda na véspera penetrara Foxy Whitman, que não havia cona como a de Angela, nenhuma era tão licorosa e cheia. (…) Tens uma cona celeste.”

É pena que a edição que comprei (Editorial Inova), seja tão pouco cuidada. Alguns erros de tradução são tão gritantes que existem frases que não fazem qualquer sentido e mais parecem erros tipográficos (serão?).

Apesar de ser um romance um pouco datado, vale a leitura.

“Zack and Miri Make a Porno”, de Kevin Smith

—Quem sabe inspirado no britânico “The Full Monty“, em que seis trabalhadores desempregados resolvem montar um espectáculo de strip-tease para angariar fundos, o argumento desta comédia conta-nos a história de Mark e Miri, que se conhecem desde a escola primária e partilham a mesma casa, embora nunca tenham partilhado a mesma cama.

Sem dinheiro, com a água a luz cortadas, decidem fazer um filme porno para tentar arranjar umas massas.

Esta ideia tão disparatada podia dar origem a um filme completamente idiota, do género das comédias para adolescentes tão ao gosto de alguns norte-americanos.

Mas não. O filme vê-se bem, o tipo que faz de Mark (Seth Rogen) tem graça, as situações são divertidas, sem serem demasiado escatológicas (excepto uma, enfim…) e até se conseguem alguns sorrisos.

Claro que não perderia uma tarde no cinema por causa disto, mas tolera-se.

(Participação especial de Traci Lords – quem se lembra dela?)

Quecas abençoadas (1)

“Heterossexual, espanhol, ao serviço da tua felicidade. Para mulheres ou casais, bem dotado (15 cm), sou aberto a tudo menos ao sadomasoquismo, não lamentarão, dar-vos-ei prazer como nunca.”(2)

Era este o texto do anúncio que Samuel Martin, padre de duas paróquias de Toledo, fez publicar em sites da especialidade.

Preçário: 50 euros por 15 minutos; 120 por uma hora.

Consta que, antes de se deitar com os clientes e iniciar a chafurdice, o padre aspergia-os com água benta.

No final, todos rezavam, ajoelhados.

Preçário: sexo oral – um padre nosso; sexo clássico – um padre nosso e uma avé maria; sexo anal – três padres nossos e uma salvé raínha; sexo anal, oral, vaginal e tudo o que te vierÂ í  cabeça – missa completa.

Boa Samuel! Deste a volta aos gajos do Vaticano!

É pecado sexo sem ser para procriar? Fornicas com o padre e o acto fica abençoado!

(1) Quecas abençoadas é muito diferente de abençoadas quecas! É como a diferença entre corpo consular e consolar o corpo…

(2) “Bem dotado” com 15 cm?! Ai Samuel, Samuel, não passas de um lingrinhas!…

Foda í  Monção?

—Confesso que nunca provei uma foda í  Monção.

Modéstia í  parte, já provei fodas nos 5 continentes, mas nunca em Monção.

Em Valença, sim, que é lá perto, mas quando pernoitei em Monção estava com o estomago muito pesado e não dei uma para a caixa.

Agora, o que eu não sabia – juro que não sabia! – é que a Câmara de Monção quer mesmo certificar as fodas í  moda lá da terra.

Que ideia do c******!

Já viram bem o orgulho que é um cidadão de Monção andar com um certificado, tipo um crachá, espetado no peito, dizendo algo do género: fodas í  Monção é comigo!

E não há cá eufemismos: não é fazer amor í  Monção, ou queca, ou mocada, ou trolitada, ou cambalhota í  Monção.

É mesmo foda e mais nada!

É de Câmaras Municipais como esta que o povo precisa!

(certificar Diário de Notícias de ontem)

Quecas e ovos podres

O Viagra melhora a performance sexual, graças ao óxido nítrico. Simplificando: o óxido nítrico relaxa as estruturas vasculares que, ao nível do pénis, se enchem de sangue, permitindo uma erecção firme e duradoura.

Problemas?

Dois: 1º, homens que estejam a tomar nitratos (para doenças cardíacas), não podem tomar Viagra; 2º, o Viagra é caro.

Mas, e se o ácido sulfídrico tiver o mesmo efeito?

Cientistas italianos fizeram experiências que parecem demonstrar que este ácido tem um efeito semelhante ao óxido nítrico.

Grande vantagem: o ácido sulfídrico é barato.

Grande desvantagem: o ácido sulfídrico é a substância que confere aos ovos podres aquele cheiro tão peculiar.

Não me estou a ver a snifar ovos podres para mandar uma queca de jeito…

“O Animal Moribundo”, de Philip Roth

animalmoribundoPhilip Roth é, neste momento, um dos meus escritores favoritos.

Entrei em contacto com ele no ano 2000, com “Teatro de Sabbath”, de 1995. Fiquei fascinado pelo vigor e crueza da escrita torrencial.

Depois desse, já li muitos dos seus livros: “A Mancha Humana” (2000), “Todo-o-Mundo” (2006), “A Conspiração Contra a América” (2004), “Pastoral Americana” (1997), “Casei Com Um Comunista” (1998) e “Património” (1991) .

“O Animal Moribundo” é um pequeno livro, com pouco mais de 100 páginas, em que um professor e crítico de arte de quase 70 anos, narra as suas aventuras sexuais com algumas das  suas alunas, que se sentem atraídas pela maturidade e pela cultura do professor.

David Kepesh, assim se chama o narrador, conta, sobretudo a sua relação com Consuella Castillo, uma jovem cubana, com quem manteve maratonas sexuais quando ela tinha pouco mais de 20 anos e ele já tinha ultrapassado os 60.

Agora, que ela tem 32 anos e ele já está nos 70, e depois de já não se verem há vários anos, Consuella vem ter com o antigo amante. Tem um cancro da mama, está a fazer quimioterapia, perdeu o cabelo, quer ajuda para enfrentar o fim e vai procurá-la junto de quem, naturalmente, está mais perto da morte.

O erotismo, a passagem do tempo, a idade, a morte – tudo isto não é exclusivo de determinados grupos etários.

Nesta história, temos um homem de 70 anos, cheio de vigor e de desejo e uma mulher de 32 anos, enfrentando a morte.

Por coincidência, a capa do livro, da responsabilidade do atelier de Henrique Cayate, poderia muito bem levar í  apreensão do livro pela PSP de Braga, como aconteceu recentemente