Cooperação estratégica, uma ova!

—

Nunca passou pela cabeça de Cavaco dissolver a Assembleia. E Passos Coelho sabia disso, embora tenha feito de conta.

Para Cavaco, dá muito mais jeito que Sócrates continue como primeiro-ministro. Assim, ele tem sempre oportunidade de dar uns bitaites, de fazer umas acusações veladas, de se mostrar como verdadeiro salvador da Pátria. Se o primeiro-ministro fosse do PSD, Cavaco não poderia criticar, ficava-lhe mal.

Acrescente-se o facto de Sócrates não gostar muito (ou nada) de Alegre e temos o menu completo.

Será que sobrevivemos a mais 5 anos de Cavaco?

Desculpa esfarrapada

Depois de ir pí´r os miúdos ao colégio, tive que ir fazer umas compras ao supermercado, depois deixei uma ropinha no sabão e dei um jeitinho í  casa, incluindo um lambuzadela í  casa de banho que os miúdos deixam sempre aquilo num alvoroço depois de tomarem banho, a seguir sentei-me a fazer o IRS, dei uma volta pela net, para ver as mensagens no Facebook e fui ao cabeleireiro, tive que arrumar a garagem, que está cheia daqueles caixotes que o Luis lá deixou antes de ir de férias, levei o carro í  revisão e aproveitei para ver preços dos novos modelos, no Outono estou a pensar trocar de carro, passei pela agência para confirmar a minha viagem de férias, fui comprar peúgas e uns boxers para substituir os que já estão esgarçados nas virilhas, bebi uma bica e comi um palmier, dei uma vista de olhos pelo jornal e, no meio disto tudo, não arranjei tempo para fazer 27 perguntas ao Sócrates!

E agora dizem-me que acabou o prazo e já não as posso fazer?!

Onde pára a justiça?!

Nota: os procuradores encarregados do caso Freeport dizem, ao fim de 6 anos de investigação, que não tiveram tempo para interrogar o desgraçado do Sócrates!…

As comparações de Paulo Portas

Fazendo lembrar os seus tempos de director de O Independente e criador de títulos de primeira página, Portas disse: ” Sócrates está para a justiça social como a vuvuzela está para a música clássica”.

O Portas sempre foi um cómico que se perdeu na política, embora, na Assembleia da República, algumas das suas intervenções estejam ao nível do stand up.

Mas com aquela comparação, Portas pode ter iniciado uma nova moda na política portuguesa.

Assim, comentando a proposta do PSD para a revisão constitucional, Sócrates poderá dizer que Passos Coelho está para a Constituição como o parafuso está para a Torre Eiffel.

Ou questionado quanto í  possibilidade de uma aliança í  esquerda, o líder do PS poderá dizer que Jerónimo de Sousa está para o futuro da democracia como os sinais de fumo estão para o iPhone.

E quanto í  eventualidade do Bloco integrar um futuro governo, caso Manuel Alegre seja Presidente, Jerónimo de Sousa poderá dizer que Louçã está para a credibilidade política como a BP está para a defesa do ambiente.

Finalmente, se perguntarem a Passos Coelho a sua opinião sobre a hipótese do PS se coligar com o CDS-PP, o líder do PSD dirá que Paulo Portas está para a competência governativa como o submarino está para a aviação comercial.

Obrigado, Portas!

Coligações há muitas, seu palerma!

Paulo Portas propí´s ontem, no debate do Estado da Nação, que se formasse um governo de coligação alargada, PS, PSD e CDS-PP, para os próximos 3 anos, mas sem o Sócrates a comandar o PS.

Provocação, claro.

Se Portas fosse humilde, teria proposto uma coligação PS, PSD, CDS-PP, mas sem o Portas.

Para o seu lugar, poderia nomear aquela minha colega dos cuidados paliativos, a Isabel Galriça Neto.

Que entusiasmo, o dela, a aplaudir todas as palavras do Portas!

Que embevecimento!

A senhora até saltava da cadeira, ao bater palmas, frenética com o discurso do seu líder.

Alguém a devia informar que o facto de ter sido medalhada no 10 de Junho não a obriga a ser tão apologética.

Este tipo de acólitos devia ser premiado. Por isso, Portas devia ter sugerido uma coligação alargada, mas com Assis a chefiar o PS, Relvas í  frente do PSD e Galriça Neto pelo CDS-PP.

Os três actuais líderes retiravam-se pela direita baixa e deixavam os discípulos governarem.

Quanto a nós, é claro que emigrávamos…

Saudades da paróquia!

Estive uma dúzia de dias ausente e que saudades que eu já tinha!

Saudades do ministro da Economia, Cavaco Silva, sempre a acentuar a próxima bancarrota do país a que ele preside – se a situação é insustentável, por que razão não dissolve a Assembleia e convoca eleições antecipadas?

Saudades da discussão em redor das Scut: quando as Scut foram criadas, todos criticaram o governo por não ter criado portagens; agora, os que não queriam portagens, já as querem e os que eram a favor, são contra. E depois, ainda há a história do ex-assessor do secretário de Estado das estradas, que agora está na empresa que fornece os chips que serviriam para a cobrança electrónica! E alguém acredita que o PSD está preocupado com a privacidade dos cidadãos, ao ser contra os chips? Enredo de telenovela…

Saudades de manchetes como a do Público de ontem: «cortes na cultura ameaçam os artistas independentes». Então, se eles são independentes por que razão estão preocupados com os cortes no Orçamento do Estado? Independentes, dependentes de subsídios?

Saudades de um país que tem um primeiro-ministro, Sócrates, a ser queimado em lume brando e outro primeiro-ministro, Passos Coelho, já na calha, que se reúne com o futuro primeiro-ministro espanhol, Aznar, que praticamente já está a governar, mas que não tem coragem para fazer passar uma moção de censura ao governo e provocar eleições antecipadas, a fim de se tornar primeiro-ministro, de facto.

Saudades de um primeiro-ministro, Sócrates, que, pelos vistos, deve ser o único português que ainda acredita no país, ao ponto de afirmar: “muitas vezes sinto-me sozinho a puxar pelo país!»

Pois deve ser por isso – por estar sozinho a puxar – que o país não sai do mesmo sítio…

Houve tempos em que ele, o país, até partiu, í  descoberta, qual jangada de pedra, mas o Saramago morreu, a crise instalou-se e o país não sai da cepa torta.

Que saudades que eu já tinha da minha paróquia!

Poupar no 10 de Junho

As comemorações do 10 de Junho reflectem a crise. Por determinação da Presidência da República, este ano não haverá o tradicional concerto e os cerca de 600 convidados, em vez de irem de carro para Faro, vão de comboio, que se lixam. Além disso, o desfile militar que, no ano passado contou com 1600 elementos, este ano não passou dos 1100.

É pouco.

Cinco sugestões:

1 – em vez dos trinta e tal condecorados, condecorava-se só o João Garcia que é, de facto, o português que subiu mais alto;

2 – desfile militar só com soldados baixinhos, com menos de 1 metro de 70; nada de patentes altas, tipo coronéis ou majores ou coisas assim;

3 – o Sócrates escusava de se incomodar em ir assistir í s comemorações; para ser vaiado, não precisava de ir a Faro – ia a qualquer sítio mais perto e era vaiado na mesma. Em sua substituição, podia ir o Passos Coelho que, para todos os efeitos, pelo menos na comunicação social, só não é primeiro-ministro porque ainda não foi eleito; mas isso é um pormenor…

4 – o Cavaco escusava de ter levado a esposa; o presidente é do Algarve e de certeza que já levou a mulher a Faro várias vezes; ela ficava em Belém e via as comemorações pela televisão;

5 – o Presidente não devia fazer dois discursos: gasta mais palavras, mais papel e mais tempo aos jornalistas, que vão tentar decifrar, nas entrelinhas, recados ao governo e insinuações sobre a possível recandidatura de Cavaco.

Com a massa que se poupava talvez já o Passos Coelho não tivesse que cortar nas reformas dos políticos. A propósito: coitado do Santana Lopes! Depois do que sofreu na Câmara de Lisboa, só ficou com um reforma de pouco mais de 3 mil euros.

Injustiças!…

O mundo não nos importa

Tony de Matos, cançonetista afamado do século passado, tinha uma cantiga que rezava assim: “Que falem, não nos interessa/ O mundo não nos importa/ O nosso mundo começa/ Cá dentro da nossa porta”.

Também aos jornais televisivos, o mundo não os importa. Só temos direito a notícias cá da paróquia; do estrangeiro, quase nada. E também não podemos propriamente chamar notícias í quilo, partindo do princípio que “notícia” significa “novidade”.

Ontem, por exemplo, o jornal da noite da Sic abriu com a não-notícia, veiculada pelo semanário Sol, segundo a qual Sócrates recebeu um sms de Vara, informando-o de que Moura Guedes ia deixar de apresentar o jornal da TVI, minutos antes da notícia sair na comunicação social – o que quer dizer que Sócrates mentiu ao Parlamento, uma vez que disse que tinha tido conhecimento do facto através da comunicação social.

Grande notícia de abertura, não?

Seguiram-se, depois, não-notícias sobre as medidas de austeridade, uma vez que não há nenhuma novidade neste campo, mais algumas especulações sobre a tentativa de compra da PT pela Telefónica, qualquer coisa da visita de Sócrates ao Brasil e ligação a Madrid, onde uma enviada especial está há vários dias a debitar não-notícias sobre Mourinho, que ainda não chegou, mas está quase a chegar í  capital espanhola. Houve também uma ligação directa í  Covilhã, onde um jornalista com nome de medicamento (Nuno Luz – Tuneluz), debitou mais uma série de não-notícias sobre a selecção.

E cerca de 50 minutos depois do seu início, finalmente, notícias internacionais, no jornal da Sic: um parágrafo sobre o atentado maoista na Índia, que já vai em 90 mortos, umas linhas sobre outro atentado, mas no Paquistão, uma coisa a fugir sobre a maior catástrofe ambiental dos Estados Unidos e um fait-divers sobre o corte, por engano, da linha telefónica do primeiro-ministro grego – 3 minutos de notícias internacionais! Três míseros minutos!

Nada sobre a tensão entre as duas Coreias, que pode desencadear uma nova guerra, nada sobre os conflitos na Jamaica, que está í  beira de uma guerra civil, nada sobre as relações entre o Brasil e o Irão, que estão a irritar a diplomacia norte-americana. Nada!

Uma vergonha de um jornal, uma vergonha editorial.

Portugal não passa de uma paróquia e tem os jornalistas que merece…

Tragédia socrática

O governo da Grécia vai abolir os subsídios de Natal e de férias dos funcionários públicos que ganham mais de 3 mil euros mensais, aumentar a idade da reforma e a duração da carreira contributiva, aumentar o IVA para 23% e criou uma brigada especial que está a passar a pente fino os rendimentos dos médicos, advogados, cantores, futebolistas, etc.

Zapatero vai acabar com o cheque-bebé (2500 euros), uma das suas bandeiras na campanha eleitoral de 2008.

Também o governo inglês vai acabar com o Child Trust Funds, uma série de medidas de apoio í  natalidade, poupando 370 milhões de euros.

O novo governo britânico também determinou que os ministros deixassem de ter carro e motorista privados – ou vão a pé, ou usam os transportes públicos ou a sua própria viatura. E quando viajarem de avião, não poderá ser em executiva.

A França e a Alemanha vão aumentar a idade da reforma e estão a pensar em aumentar os impostos.

É este o resultado de 4 anos de governação desastrada de Sócrates!

O franciú, o portuí±ol e o Anhuca

Depois do 25 de Abril, Portugal sofreu duas grandes crises económicas e ambas estão ligadas a primeiros-ministros socialistas e a problemas de pronúncia.

Nos anos 80 do século passado, Mário Soares, que falava um francês tão típico, que se tornou anedótico, foi obrigado a retirar o 13º mês aos funcionários públicos, para diminuir a despesa pública.

Foram os tempos do franciú e do mon-ami-miterã.

Agora, é Sócrates que está aflito com o endividamento do país. O “rating” – ou seja-lá-o-que-for – está a lixar o orçamento, mas Sócrates também tem culpas no cartório: ninguém percebe o que ele diz, naquelas entrevistas que dá em Espanha.

São os tempos do portuí±ol e do mi-amiego-zapatero.

Entretanto, vocês já repararam que a comunicação social está a fazer ao Passos Coelho o mesmo que fez ao Sócrates há 6-7 anos: está a levá-lo ao colo até ao lugar de primeiro-ministro.

Passos Coelho é sempre mostrado com ar solene, a dizer coisas sérias e definitivas e sublinhando o seu cadastro (ainda) limpo.

Talvez tenha chegado a hora de começarem os boatos: que o Passos é disléxico, trissexual ou, até, que é mesmo o Anhuca, mas sem o nariz vermelho e com a gravata.