Tatuagens

Telmo gostava de tatuagens

Se tivesse dinheiro, gostaria de tatuar todo o corpo.

Mas não tinha.

Portanto, contentava-se com meia-dúzia de desenhos na pele.

Nas barrigas das pernas (o tatuador dizia que era nos gémeos), mandara tatuar uma rosa dos ventos, na perna direita e um relógio, na perna esquerda. A rosa dos ventos ficou um bocadinho inclinada, com o Norte a apontar para o Noroeste e o relógio, embora parado, estava certo duas vezes por dia.

No ombro direito, mandou tatuar um golfinho, mas, a meio do trabalho, pediu um tubarão, pelo que o animal ficou assim uma espécie de tubarinho, ou golfarão.

Mas as tatuagens de que mais se orgulhava estavam nos antebraços, com o nome da sua namorada: Susana, í  esquerda, Cristina, í  direita.

Susana Cristina era tudo para Telmo. Sem ela, não saberia viver.

Isto era o que Telmo pensava; por isso, a tatuagem daqueles dois nomes fora feita com elevada minúcia. Eram letras muito elaboradas, cheias de rodriguinhos e Telmo tentava andar sempre com camisolas de manga curta, mesmo no pino do inverno, de modo que se vissem bem as tatuagens.

Mas um dia, a Susana Cristina foi-se embora. Dizia que já não o amava e amava mais o Nélson, segurança no bingo do bairro.

Telmo ficou inconsolável.

Como iria sobreviver sem a sua Susana Cristina?

Esse desespero durou quase 48 horas. A vida continua e Telmo seguiu em frente.

O problema era: o que fazer í s tatuagens?

A rosa dos ventos, o relógio e o tubarinho, podiam ficar, mas a Susana Cristina? O que fazer í  Susana do braço esquerdo, e í  Cristina do braço direito?

É que Telmo gostava mesmo daquelas letras, tão elaboradas, tão elegantes.

Por isso, recusou o namoro que Carla Isabel lhe propí´s, fugiu do assédio de Tânia de Jesus e quase que começou a andar com a Vanessa Cristina. Aproveitava-se a tatuagem do antebraço direito…

Agora, quase cinquentão, Telmo continua solteiro, em busca de uma nova Susana Cristina que preencha as suas tatuagens.