Tony de Matos, cançonetista afamado do século passado, tinha uma cantiga que rezava assim: “Que falem, não nos interessa/ O mundo não nos importa/ O nosso mundo começa/ Cá dentro da nossa porta”.
Também aos jornais televisivos, o mundo não os importa. Só temos direito a notícias cá da paróquia; do estrangeiro, quase nada. E também não podemos propriamente chamar notícias í quilo, partindo do princípio que “notícia” significa “novidade”.
Ontem, por exemplo, o jornal da noite da Sic abriu com a não-notícia, veiculada pelo semanário Sol, segundo a qual Sócrates recebeu um sms de Vara, informando-o de que Moura Guedes ia deixar de apresentar o jornal da TVI, minutos antes da notícia sair na comunicação social – o que quer dizer que Sócrates mentiu ao Parlamento, uma vez que disse que tinha tido conhecimento do facto através da comunicação social.
Grande notícia de abertura, não?
Seguiram-se, depois, não-notícias sobre as medidas de austeridade, uma vez que não há nenhuma novidade neste campo, mais algumas especulações sobre a tentativa de compra da PT pela Telefónica, qualquer coisa da visita de Sócrates ao Brasil e ligação a Madrid, onde uma enviada especial está há vários dias a debitar não-notícias sobre Mourinho, que ainda não chegou, mas está quase a chegar í capital espanhola. Houve também uma ligação directa í Covilhã, onde um jornalista com nome de medicamento (Nuno Luz – Tuneluz), debitou mais uma série de não-notícias sobre a selecção.
E cerca de 50 minutos depois do seu início, finalmente, notícias internacionais, no jornal da Sic: um parágrafo sobre o atentado maoista na Índia, que já vai em 90 mortos, umas linhas sobre outro atentado, mas no Paquistão, uma coisa a fugir sobre a maior catástrofe ambiental dos Estados Unidos e um fait-divers sobre o corte, por engano, da linha telefónica do primeiro-ministro grego – 3 minutos de notícias internacionais! Três míseros minutos!
Nada sobre a tensão entre as duas Coreias, que pode desencadear uma nova guerra, nada sobre os conflitos na Jamaica, que está í beira de uma guerra civil, nada sobre as relações entre o Brasil e o Irão, que estão a irritar a diplomacia norte-americana. Nada!
Uma vergonha de um jornal, uma vergonha editorial.
Portugal não passa de uma paróquia e tem os jornalistas que merece…