Nip/Tuck – 5ª série

—Só esta linha do argumento chega para caracterizar a série mais “kinky” da televisão norte-americana: Matt, o filho do cirurgião plástico Sean McNamara que, afinal, é filho do outro cirurgião, Christian Troy, depois de se ter apaixonado por um(a) transexual, sem saber que ele(ela) o era, apesar de ter tido relações com ele(ela), casou-se com uma das ex-namoradas do seu pai verdadeiro, e ex-actriz porno, de quem teve uma filha mas, como ela voltou í  indústria porno, começou a andar com uma israelita com a cara desfeita por um bombista suicida e, finalmente, com uma miúda gira, com uma hemangioma de nascença e que foi operada com muito sucesso por Christian Troy, mas só depois de a desvirginar descobriu que, afinal, era irmão ela, ao mesmo tempo que o seu pai verdadeiro se divertia na cama com a mãe da miúda, uma diabética amputada a ambas as pernas.

Uf!

As restantes linhas do argumento ainda são mais estranhas.

Levada ao extremo da bizarria, só falta mostrar sexo com animais, mas já não deve faltar muito. Talvez na sexta série…

House – 4ª série

—Mais uma série em declínio, com muita pena minha.

Má opção, a dos responsáveis da série, ao acabarem com a equipa de três médicos que apoiava House. A tensão entre os seus elementos era um dos atractivos da série.

Metade dos episódios desta 4ª série é passada numa espécie de concurso, graças ao qual House vai escolher os seus novos colaboradores – e a coisa roça o absurdo, uma vez que House e os candidatos ao lugar, fazem experiências com os doentes, como se fossem cobaias. E isto poderia ser interessante, se House fosse cáustico, amargo, misógino, como nas três séries anteriores. Em vez disso, House quase parece patético e adopta um tom de comédia, que não fica nada bem neste tipo de série.

A segunda parte da série quase se safa, mas depois, os dois últimos episódios são novamente tão inverosímeis, que até irrita.

Nas três séries anteriores, os casos clínicos tinham pouca importância. O que importava era o mau feitio de House e o modo como ele (não) se relacionava com a sua equipa, com o oncologista Wilson e com a directora do hospital. Nesta série, os casos clínicos não interessam mesmo nada – ou é sarcoidose, ou lupus, ou amiloidose ou outra coisa qualquer, e isso tem pouca importância, desde que se possa fazer uma ressonância ou espetar uma agulha no cérebro para fazer uma biópsia.

Espero que a 5ª série retome a dinâmica das três primeiras, caso contrário, acabou-se o House.

Frio como a água do rio

Está um frio do caraças!

Basta ver o Telejornal…

Eu sou do tempo em que um gajo ia í  janela ver como estava o tempo.

Agora, não. Agora, vê-se o Telejornal e se eles disserem que está frio, a gente tem que tiritar. Ouvimos atentamente conselhos altamente especializados como: quando está mais frio deve vestir-se mais roupa.

E eu que pensei que o frio enrijava os ossos, embora sempre tenha ouvido dizer que, se tiver frio, me devo enrolar na capa do meu tio.

Mas agora há os alertas coloridos.

Se estiver amarelo, visto uma camisola. Se estiver laranja, visto duas. Se estiver vermelho, mais vale não sair de casa.

Que seria de nós sem o Telejornal para nos dizer o que fazer!

Senhoras e senhores, está um barbeiros dos antigos, um briol do carago. Toca a tremer de frio!

Aqui estou, então, fechado em casa, estores em baixo, televisão acesa, í  espera que me digam o que devo vestir, o que devo comer, o que devo beber.

E penso que só vou sair daqui quando anunciarem uma vaga de calor…

ER – 12ª série

—Se o ER sem o Dr. Greene já não era a mesma coisa, sem o Carter, ainda é menos.

Em desaceleração, em direcção ao fim da série (parece que acaba na 15ª época), este ER, ao querer competir com os seus congéneres, tipo Grey’s Anatomy, dá menos importância ao que se passa nas urgências do County e mais ao que se passa nas vidas privadas dos actuais heróis.

Nesta 12ª série, temos mais dois episódios fora do County, passados num campo de refugiados, em Darfour. Se, por um lado, para o público norte-americano, estes episódios podem ser um modo dar publicidade a uma situação de calamidade, por outro lado, os médicos americanos transformam-se em super-heróis muito bonzinhos, ajudando os pretinhos coitadinhos, o que me parece uma visão um bocado neo-imperialista da coisa.

Apesar disso, ainda há um ou outro episódio que se safa, sobretudo quando as urgências se enchem de vítimas de algum acidente e tudo começa a correr mal. Nesses episódios, o ritmo ainda é alucinante e os 40 minutos passam num instante.

Columbo – 3ª série

—Rever Columbo é fazer uma viagem no tempo.

Recuamos até 1971 e recordamos as modas de então, as calças í  boca de sino, as mini-saias, os penteados, os interiores modernaços das casas mas, sobretudo, os espadas!

Que lindos que eram os carros americanos, no fim dos anos sessenta, princípio dos anos setenta. Desnecessariamente enormes! A mala dava para esconder dois ou três cadáveres de americanos grandes. O motor ficava a nadar dentro do compartimento da frente, onde quase cabia um Fiat 600.

Peter Falk inventou um boneco muito bom. Columbo tinha diversas características que o definiam: o charuto sempre na mão e quase sempre apagado, a gabardina amarrotada e encardida, as botas, com muito uso e pó a mais, o fato cor de salmão, acanhado e o carro, contrastando com todos os outros, um Peugeot 403 cabriolet, de 1959, com um motor ruidoso e o ar de quem já percorreu muitos quilómetros.

A série tinha dois grandes trunfos: Peter Falk, claro, e o facto de cada episódio começar sempre com a perpetração do crime e assistirmos, depois, í  desmontagem dos í libis quase perfeitos, graças í  perspicácia insuspeitada de Columbo, í s suas perguntas como-quem-não-quer-a-coisa e ao facto de os criminosos menosprezarem o detective, baseados na sua aparência desleixada.

Uma série de 5 estrelas, mesmo 30 anos depois.

A Liga Intercalar

Ontem recebi um SMS muito estranho do Pedro.

Dizia, mais ou menos, o seguinte: “Benfa e Sporten na RTP-N, na Liga Intercalar. Que mais vão eles inventar?”

Fui ver.

A RTP-N transmitia, directamente do Centro de Estágio do Seixal, um Benfica-Sporting, a contar para a Liga Intercalar.

Nos idos de 60, quando eu ia í  bola com o meu pai (literalmente e em sentido figurado), havia um Campeonato de Reservas. As reservas eram formadas pelos putos que aspiravam a, um dia, jogar na equipa principal ou, ainda, os jogadores de topo que se portavam mal ou que estavam em processo de recuperação de uma lesão.

Nos tempos em que o meu pai andava mais louco por bola, chegávamos a ir ver jogar os juniores, ao sábado de manhã, as reservas, ao sábado í  tarde e, ao domingo, os gloriosos de primeiro plano, com o Eusébio a comandar.

Agora, chamam a esse campeonato de reservas, a Liga Intercalar.

Que interesse terão os jogos desta Liga para serem transmitidos por um canal de notícias, ainda por cima, í  hora de jantar?

E por que se chamará Liga Intercalar?

Intercalar ou para calar o Inter?

De qualquer modo, como dizia o Pedro, “mais um campeonato para o SLB perder”…

“Lost” – 4ª série

—Confesso que perdi um pouco a pachorra com a 3ª série. A história andou muito enrolada, os argumentistas pareciam não saber muito bem o que fazer com as personagens que tinham e alguns episódios foram penosos.

Esta 4ª série, no entanto, prendeu-me novamente. O truque dos flash-forward, com a manutenção dos flash-back, transformou a história num puzzle curioso, sobretudo porque existem flash-forward que nos levam para datas diferentes.

Além disto, os três últimos episódios desta série dão um grande salto narrativo e seis sobreviventes do crash regressam, de facto, í  civilização. Restam duas séries para nos mostrar o que aconteceu aos que não regressaram, por que razão não regressaram – ou será que regressarão ainda? E, quanto aos “Oceanic 6”, o que lhes aconteceu entretanto?

Os extras do dvd contém duas peças fundamentais: um resumo das 3 séries anteriores (“Lost in 8:15 minuts”) e uma outra peça que junta todos os flash-forward, cronologicamente.

Prison Break – 3ª série

—Coitadinho do Michael Scofield que é tão bonzinho!… Uma senhora muito má, que trabalha para The Company, corta-lhe a cabeça í  namorada e Michael é incapaz de lhe dar um tiro.

E aí vai ele, estrada fora, algures no Panamá, em busca de vingança…

Mas, entretanto, ao longo de 12 episódios esteve a serrar presunto até conseguir fugir da inverosímil prisão de Sona.

Mais fraca que a segunda série, a anos-luz da fantástica primeira série, esta terceira época de Prison Break consegue, apesar disso, prender a nossa atenção e tem, ainda, alguns picos de suspense.

No entanto, os autores de Prison Break precisam de dar uma grande volta ao argumento para que a série consiga sobreviver mais 2 ou 3 épocas.

Quanto a Michael Scofield, sempre com aquele ar muito sério, olhando por baixo das sobrancelhas, já merecia que alguém o fizesse rir…

E onde é que Michael e Lincoln cortarão o cabelo?…

“The Shield” – 2ª série

—Mackey e Aceveda firmam um pacto de não agressão: o comandante daquela esquadra muito especial não chateia muito o detective corrupto e, em troca, este arranja-lhe umas detenções baris, que poderão ajudar o latino a ganhar as eleições.

Este arranjinho fica comprometido com uma auditora civil, que mete o nariz em tudo e que começa a desconfiar dos métodos do Strike Team. Além disso, também a detective Claudette começa a não achar muita graça aos métodos de Mackey e decide roer-lhe os calcanhares. Paralelamente, a mulher de Mackey quer mesmo o divórcio, um dos seus principais chibos é queimado vivo e uma prostituta junkie, que também lhe dava umas tips, leva um balázio na barriga e vai desta para melhor.

Vic Mackey só tem coisas que o ralem!…

A série é filmada com muito nervosismo. Uma simples conversa de três minutos, é filmada de três ângulos, com uma câmara hesitante, fazendo lembrar o método usado por Soderbergh, em “Traffic”, por exemplo. Os episódios são todos filmados a correr, tudo acontece muito depressa e é raro haver um diálogo que dure mais de três minutos. Mackey, por exemplo, está sempre a entrar e a sair de salas, a aproximar-se e a afastar-se da câmara, sempre nervoso, nunca nos olhando de frente.

Não é uma grande série, mas é bem esgalhada e tem a diferença de os heróis serem polícias assumidamente corruptos e nós nem nos importarmos muito com isso. Até porque “ladrão que rouba a ladrão…”

ER – séries 10 e 11

—Em Itália, uma Associação de médicos sugeriu que a televisão deixasse de transmitir as séries sobre médicos (ER, Scrubs, House e Grey’s Anatomy). Razão: ao verem as referidas séries, as pessoas são levadas a pensar que é fácil fazer uma traqueostomia com um canivete e uma caneta Bic, ou uma cesariana com uma tesoura da poda.

Penso que os médicos italianos são um pouco exagerados, mas percebo o seu ponto de vista. Os médicos do ER, por exemplo, são capazes dos malabarismos mais virtuosos – embora sejam incapazes de levar uma vida amorosa estável, por exemplo.

—Estas duas séries do ER, de 2002 a 2005, têm episódios que provocam algum bocejo porque os argumentistas cederam í  facilidade da telenovela: Kerry descobre a sua mãe biológica, o filho de Carter morre í  nascença, o Kovac não consegue manter a pila dentro das calças. É seca.

Tudo isto acontece em qualquer das outras séries. O que distingue o ER das restantes séries são os grandes acidentes com politraumatizados, os esfaqueados, os membros dos gangs cheios de balas.

E o ER ainda consegue ter alguns bons episódios, como o último da 11ª série, que deixa água na boca para a série seguinte, apesar do abandono do “velho” John Carter – o ER mudou muito com a “morte” do Dr. Greene; será que sobrevive í  saída de Carter?