Começo por dizer que pode haver conflito de interesses, já que, desde os anos 80 do século passado que Tom Waits é o meu autor-intérprete-performer preferido.
Dito isto, saúdo largamente mais um disco do Tom Waits (dizem que é o 17º, se contarmos só o de originais). Tenho-os todos, claro.
Divido a carreira de Waits em duas fases: antes e depois do seu casamento com Kathleen Brennan.
Antes, Waits era um excelente bluesman, com muita influência do jazz. Atingiu o seu topo, na minha opinião, com a banda sonora de “One From The Heart“, filme de Coppola.
Foi durante as filmagens que Waits conheceu Brennan, que era funcionária da Zoetrope, a empresa produtora de filmes, de Coppola.
A partir da sua união com Brennan, Waits começou a explorar outras sonoridades, enrouqueceu mais a voz, e começou a juntar tangos, valsas, salsas e outras esquisitices ao seu reportório, mantendo, no entanto, os blues como norte. Mais recentemente, o rock acabou por absorvê-lo e até lhe deram um espaço no Hall of Fame.
Este “Bad As Me” tem 13 novos temas que já ouvi muitas vezes. Quero com isto dizer que, no fundo, Tom Waits está sempre a interpretar os mesmos temas, com os mesmos acordes, mas sempre com novas roupagens.
Quando começamos a ouvir o acordeão de “New Year’s Eve”, ou a percussão e a guitarra de “Get Lost”, dizemos “já ouvi isto em Mule Variations, ou em Raindogs, ou em Swordfishtrombones, ou em Real Gone, etc, etc.” – mas isso é bom! É bom ouvirmos um novo disco do Tom Waits e não ficarmos defraudados.
Tom Waits rodeia-se dos cúmplices do costume: Marc Ribot, na guitarra, Casey Waits, filho de Tom Waits, na percussão, Clint Maedgen, nos saxes, Ben Jaffe, no trombone e clarinete, entre outros.
Mas há dois novos cúmplices, o Flea, dos Red Hot Chili Peppers e Keith Richards. Olha que dois!
Richards e Jagger são citados por Waits no tema “Satisfied”. Richards toca o seu habitual riff de guitarra e Waits vai berrando que está Satisfied, numa alusão ao célebre “Satisfaction”, dos Rolling Stones. Keith Richards toca guitarra em mais algumas faixas e faz coro com a voz de Waits em “Last Leaf”, outra balada típica de Waits, embora também faça lembrar algumas das (poucas) canções que Richards compí´s para os Stones.
“Kiss Me” é uma balada muito jazzy, em que Waits faz o seu habitual número de crooner; “Chicago” é uma espécie de melopeia, com o ritmo de um comboio; “Bad As Me” é mais uma daquelas furiosas interpretações de Waits – e todas as faixas são altamente recomendáveis.
Vai ficar no meu toca-discos durante as próximas semanas.