“The Constant Gardener”, de Fernando Meirelles

fieljardineiro.jpgSerá que a indústria farmacêutica faz mesmo o que este filme denuncia?

A dúvida fica sempre no ar…

Não li o romance de John Le Carré, que serviu de base para o argumento do filme, mas pareceu-me que o realizador romanceou demasiado as coisas.

No centro do argumento está uma suspeita muito grave: a indústria farmacêutica, quando tem, entre mãos, um medicamento novo (um anti-tubercolostático, por exemplo), que poderá revolucionar o tratamento de determinada doença e fazer subir os lucros exponencialmente, não hesita em experimentar essa nova droga nas populações miseráveis de ífrica. Mesmo que alguns morram, com os efeitos secundários, não faz grande diferença, porque essas pessoas, de qualquer modo, já estavam condenadas, devido í s condições extremas em que vivem.

E se alguém decidir denunciar o esquema, o atropelo ético que é, saltar uma ou duas fases de ensaio da droga, passando logo para a administração indiscriminada, a indústria também não hesita em contratar alguém que acabe com esse estorvo.

É isto que este filme denuncia, mas a história acaba por ficar submersa na culpa de um funcionário da embaixada britânica no Quénia (Ralph Fiennes) – culpa por não dar a devida atenção í  sua jovem esposa (Rachel Weisz) e por pensar que ela o andava a enganar com um autóctone (que, afinal, até era gay), em vez de perceber que, o que ela estava a fazer, era tentar demonstrar que uma determinada empresa farmacêutica testava um novo medicamento na andrajosa população queniana, não se importando com os efeitos secundários, muitas vezes mortais.

As personagens pareceram-me pouco consistentes: nem Fiennes me convenceu, como funcionário de embaixada, sobretudo interessado na jardinagem e ligando pouco ao mundo que o rodeia e que, depois da morte da mulher, se transforma num quase detective; nem Rachel Weisz me convenceu como activista anti-globalização, com pais ricos, que decide desmontar a mentira da grande indústria.

No entanto, as paisagens de ífrica são lindas e o tema é perturbador…

2 thoughts on ““The Constant Gardener”, de Fernando Meirelles

  1. eu li o livro e vi o filme. O filme até está um pouco encurtado o que se compreende, dado o limite de tempo.
    Comparando com o livro não me parece que o filme esteja romanceado e é dos raros filmes que me parecem fiéis ao livro.

    O tema nem dá para comentar. Até me admirei de em época de filmes masi mediáticos e cheios de efeitos especiais (para encher o olho ao comum dos cidadãos) alguém se lembrar de tocar em algo “mais profundo”. Será? To be or not to be…já dizia o shakespeare e a resposta permanecerá no reino dos mistérios, mas…e o que está a contecer em í€frica com os retrovirais???…

  2. Olá Élia! Benvinda í  discussão do Coiso! Pois é: assustador, quando pesnamos que as farmacêuticas podem estar a fazer mesmo aquilo que o filme retrata…

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