Será que a indústria farmacêutica faz mesmo o que este filme denuncia?
A dúvida fica sempre no ar…
Não li o romance de John Le Carré, que serviu de base para o argumento do filme, mas pareceu-me que o realizador romanceou demasiado as coisas.
No centro do argumento está uma suspeita muito grave: a indústria farmacêutica, quando tem, entre mãos, um medicamento novo (um anti-tubercolostático, por exemplo), que poderá revolucionar o tratamento de determinada doença e fazer subir os lucros exponencialmente, não hesita em experimentar essa nova droga nas populações miseráveis de ífrica. Mesmo que alguns morram, com os efeitos secundários, não faz grande diferença, porque essas pessoas, de qualquer modo, já estavam condenadas, devido í s condições extremas em que vivem.
E se alguém decidir denunciar o esquema, o atropelo ético que é, saltar uma ou duas fases de ensaio da droga, passando logo para a administração indiscriminada, a indústria também não hesita em contratar alguém que acabe com esse estorvo.
É isto que este filme denuncia, mas a história acaba por ficar submersa na culpa de um funcionário da embaixada britânica no Quénia (Ralph Fiennes) – culpa por não dar a devida atenção í sua jovem esposa (Rachel Weisz) e por pensar que ela o andava a enganar com um autóctone (que, afinal, até era gay), em vez de perceber que, o que ela estava a fazer, era tentar demonstrar que uma determinada empresa farmacêutica testava um novo medicamento na andrajosa população queniana, não se importando com os efeitos secundários, muitas vezes mortais.
As personagens pareceram-me pouco consistentes: nem Fiennes me convenceu, como funcionário de embaixada, sobretudo interessado na jardinagem e ligando pouco ao mundo que o rodeia e que, depois da morte da mulher, se transforma num quase detective; nem Rachel Weisz me convenceu como activista anti-globalização, com pais ricos, que decide desmontar a mentira da grande indústria.
No entanto, as paisagens de ífrica são lindas e o tema é perturbador…
eu li o livro e vi o filme. O filme até está um pouco encurtado o que se compreende, dado o limite de tempo.
Comparando com o livro não me parece que o filme esteja romanceado e é dos raros filmes que me parecem fiéis ao livro.
O tema nem dá para comentar. Até me admirei de em época de filmes masi mediáticos e cheios de efeitos especiais (para encher o olho ao comum dos cidadãos) alguém se lembrar de tocar em algo “mais profundo”. Será? To be or not to be…já dizia o shakespeare e a resposta permanecerá no reino dos mistérios, mas…e o que está a contecer em í€frica com os retrovirais???…
Olá Élia! Benvinda í discussão do Coiso! Pois é: assustador, quando pesnamos que as farmacêuticas podem estar a fazer mesmo aquilo que o filme retrata…