Li críticas contraditórias a este filme, que proporcionou a Kate Winslet, este ano, o óscar para melhor actriz. Eu gostei.
Adaptado de uma novela do escritor alemão Der Vorleser, publicado em 1995, “The Reader” começa na Alemanha dos anos 50, contando-nos a história de uma pica-bilhetes trintona que, certo dia, ao ajudar um miúdo de 15 anos que está mal disposto, acaba por o levar para a cama e iniciá-lo.
Assim, na primeira parte do filme, Hanna Schmitz (Kate Winslet), come o rapazinho, Michael (David Kross) dezenas de vezes, antes ou depois de ele lhe ler “A Odisseia”, de Homero, contos de Tchekov ou, até, bandas desenhadas do Tintin.
Só que, entretanto, o grande segredo de Hannah fica exposto e ela desaparece da vida de Michael, para reaparecer muitos anos mais tarde, quando ele já é interpretado por Ralph Fiennes.
Afinal, Hanna tinha sido membro das SS e tinha trabalhado num campo de concentração, tendo sido responsável directa pela morte de centenas de mulheres. E não sabia ler nem escrever.
Dois segredos terríveis, na vida daquela mulher que, no entanto, prefere que se descubra que pertenceu í s SS, do que se saiba que, afinal, é analfabeta. A vergonha de ser iletrada é maior.
O filme expõe a culpa do povo alemão: nenhum alemão desconhecia o que se passava nos campos de concentração; nenhum alemão é inocente.
Claro que este tema não é tão desenvolvido como, por exemplo, no livro “As Benevolentes“, de Jonathan Littell e, por isso, alguns críticos, como o do Guardian, detestaram o filme.
Mas estamos perante isso mesmo: um filme e um filme tem que prestar, sobretudo, entretenimento. Se queres um profundo debate de ideias, lê um livro.
Digo eu, claro.
Eu acho que o filme faz um bocadinho mais que isso, que é questironar-nos sobre o que faríamos nós se estivéssemos envolvidos de perto com a situação. Ou seja, o que fariamos se fossemos alemães e trabalhássemos para o estado (porque em todo o caso era isso que eram as SS) durante aquele período?
Claro que o que aconteceu não é desculpável, claro que é agoniante pensar sequer na barbárie… mas será que podemos de facto dizer que, se lá estivéssemos, seriamos diferentes?