No início da década de 70 do século passado, o diário A Capital, tornou-se conhecido pelos seus títulos de primeira página. Em letras garrafais, a ocuparem quase toda a página, era frequente A Capital titular, por exemplo: “RíPIDO MATA SETE”. Descodificando, o que o jornal queria dizer era que o comboio chamado rápido (que era aquele que só parava em algumas estações), teria sofrido um acidente, do qual resultara a morte de sete pessoas.
A tradição de títulos explosivos manteve-se, embora, mais tarde, A Capital tenha desistido de os usar. Mas teve seguidores, como o Correio da Manhã, o Tal e Qual, o 24 Horas. É o estilo dos tablóides.
Mas esse estilo acabou por passar para alguns jornais de referência, embora suavizado.
Vejamos este título do Público de quinta-feira passada: «Menino Jesus “raptado” pela segunda vez em Faro». Reparem que o jornalista colocou as aspas em “raptado”, e não em “Menino Jesus”. Com isto, quis ele dizer que a entidade “Menino Jesus”, que é algo que não há a certeza de que alguma vez tenha existido, não foi raptado, de facto. Ninguém pode raptar o Menino Jesus, na medida em que ele está no Céu, sentado í direita de Deus Pai – e já não é menino nenhum: tem, no mínimo, 33 anos.
Afinal, o que aconteceu? Claro que foi a figura do menino Jesus, de um presépio, que foi fanada por alguém, em Faro, pela segunda vez. O título da notícia poderia ser, então: “Roubada figura de um presépio em Faro” – mas o jornalista não resistiu a fazer uma piadinha com o título. Provavelmente, o que poderia ter feito era nem sequer escrever a notícia…
Outro exemplo: «Deco tem simulador de tarifas eléctricas». E o leitor pergunta-se: para que raio é que o jogador do Barcelona quererá um simulador de tarifas eléctricas? Todos os títulos relacionados com a DECO provocam este tipo de confusões. Se o jornalista colocasse DECO em letras capitais, a confusão já não existiria.
Mais um exemplo: «Protesto de sem-abrigo parou Ponte 25 de Abril». O protesto terá parado a ponte ou o trânsito na ponte? Talvez seja só um pormenor, mas…
E já que estava a embirrar com títulos, aqui vão mais uns quantos, todos do mesmo jornal:
«Bush admitiu pela primeira vez que não está a ganhar a guerra» – mas vale tarde do que nunca.
«Governo fecha mais 900 escolas em 2007» – mas afinal, quantos milhares de escolas é que há neste país de analfabetos?
«Estrangeiros obesos deixam de poder adoptar crianças na China» – e se forem obesos homossexuais?
«22 mil funcionários públicos passaram í reforma até final de Novembro» – onde é que eles estavam a trabalhar, que ninguém ainda deu pela sua falta?
«José Veiga vai processar o Estado português» – isto resolve-se com um almoço com Madaíl?
«Esperança média de vida ultrapassou os 80 anos no Canadá» – atenção: se tens 79 anos, emigra para o Canadá já!
«Operação “Natal em segurança” com menos mortos que em 2005» – os portugueses resolverão este deficit nas próximas horas.
Tanto quanto entendi, a partie do Menino Jesus são todos do Público, certo?
Então cá vai mais um título: Fan de longa data deseja um Bom Natal ao Dr. Artur e a toda a família e amigos.
:)
Bom natal também para a Trilby, seja lá ela quem for!