Fevereiro 2005:
Coisas que acontecem
| A estrondosa vitória do POUS
| Saudades para o Sr. Lopes | O
debate final e o 3º segredo de Fátima |
Campanha? Qual campanha? | O
debate - a parolice dos jornalistas | Menos
Estado ou mais Estado | A Sandra vende-se!
|
Sexta, 25 de Fevereiro
A estrondosa
vitória do POUS
Passei toda a semana aparvalhado com os resultados das eleições
de domingo. De tal modo aparvalhado que nem fui capaz de
alinhavar um texto a propósito da coisa.
E não foi a maioria absoluta do PS que me espantou,
nem tão pouco a estrondosa derrocada dos partidos
de direita.
Claro que gozei que nem um perdido com a derrota do Sr.
Lopes e do Sr. Portas e, cá em casa, todos exultámos
quando a televisão anunciou que, na Madeira, os 6
deputados tinham sido distribuídos equitativamente
(3 para o PSD e 3 para o PS) – que humilhação
para o Sr. Jardim!
Mas enfim, a vitória do PS e a derrota da direita
já era aguardada – o que ninguém esperava
era a votação maciça no Partido Operário
de Unidade Socialista (POUS), mais conhecido pelo Partido
da Carmelinda.
Foi retumbante: 5 572 votos no POUS – mais 1 256 do
que nas legislativas de 2002!
Assim, de repente, o POUS passou de uns míseros 0,08%
dos votos para uns expressivos 0,10%!
O Bloco de Esquerda que se cuide!
A subir desta maneira, é de esperar que dentro de
356 anos a Carmelinda Pereira seja finalmente eleita deputada
– e depois sempre quero ver como é que o Louçã
se desembaraça disso, entalado entre o PS e o PC,
de um lado, e a Carmelinda do outro!
Domingo, 20 de Fevereiro
Saudades
para o Sr. Lopes
O Sr. Lopes e o Sr. Portas acabam de ser cilindrados. O
PS ganhou as eleições com maioria absoluta,
o PCP e o BE subiram a votação, a esquerda,
no seu conjunto, obteve cerca de 60% dos votos. Acabou-se
o reinado da coligação PSD-PPD-CDS-PP!
E que saudades eu já sinto do Sr. Lopes!
Hoje à noite, depois de conhecida a hecatombe, o
Sr. Lopes ainda tentou dar um ar da sua graça. Depois
do Sr. Portas, quase a chorar, ter apresentado a sua demissão,
o Sr. Lopes veio dizer que ia convocar um Congresso extraordinário
para que os militantes do PSD se pronunciassem sobre a sua
continuidade na presidência.
É um cómico, o Sr. Lopes! Um verdadeiro artista!
No entanto, assim que a imagem do Sr. Lopes desapareceu
do écran, senti um vazio interior. E agora, como
é que nos vamos divertir?
Já repararam como o Sócrates é sisudo?
E assim, de repente, é o que se me oferece dizer
sobre os resultados eleitorais...
Quarta, 16 de Fevereiro
O debate final
e o 3º segredo de Fátima
Os líderes dos cinco partidos representados na Assembleia
da República realizaram ontem à noite, o único
debate eleitoral.
Também ontem, foi a enterrar a irmã Lúcia,
uma das videntes de Fátima.
O Sr. Lopes apresentou-se ao debate de gravata preta.
Afinal, o terceiro segredo de Fátima é: o
Sr. Lopes deixará de gostar de gravatas berrantes.
O pobre do Jerónimo de Sousa quase não falou
e acabou por abandonar o debate, devido à sua rouquidão
extrema (ou a um súbito ataque de pânico?).
O terceiro segredo de Fátima é: com a morte
da irmã Lúcia, os comunistas portugueses ficarão
sem voz.
Sócrates repetiu a cassete que colocou há
cerca de dois meses e não se desviou do discurso
habitual nem um milímetro.
O terceiro segredo de Fátima é: no princípio
do século XXI, Portugal será governado por
um robot.
Louçã ganhou o debate por ko técnico,
batendo aos pontos todos os seus contendores, mas aproximando-se
escandalosamente de Sócrates.
Afinal, o terceiro segredo de Fátima é: no
princípio do século XXI, Portugal terá
um trotskista no governo e a irmã Lúcia morrerá
de vergonha.
Portas foi o único dos cinco políticos que
esteve na capela destinada aos familiares, velando o corpo
da irmã Lúcia.
O terceiro segredo de Fátima é: Paulo Portas
e Lúcia eram irmãos!
Domingo, 13 de Fevereiro
Campanha?
Qual campanha?
Será que a campanha eleitoral muda a opinião
de alguém? Haverá pessoas que, antes da campanha,
não sabem muito bem em quem votar e que, depois da
campanha, ficam esclarecidos e decidem-se?
A palhaçada das caravanas partidárias a
percorrerem o país, realizando comícios todos
os dias, “acções de campanha”,
como lhe chamam, com os líderes acompanhados dos
seus acólitos, passeando pelas ruas, distribuindo
beijos e abraços, mais os tempos de antena na televisão
e na rádio e os cartazes em cada esquina –
será que tudo isto (que custará cerca de 7,5
milhões de euros, dizem) faz com que alguém,
no seu perfeito juízo, se decida a votar em alguém?
Esta campanha, especificamente, serve para quê?
Quem é que quer, novamente, o Sr. Lopes como 1º
ministro?
Ninguém o grama, nem pintado de cor de laranja,
nem mesmo os militantes do PSD que, no fundo, o querem ver
pelas costas, com a derrota mais pesada de sempre, de modo
a que o homem desapareça de cena por muito tempo!
Esta semana, o Público fez um frete (não sei
bem a quem, mas foi um frete), publicando uma notícia
esquisita, porque parecia mais uma espécie de comentário.
Dizia a notícia que Cavaco apostava numa maioria
absoluta do PS. Logo o Jardim da Madeira veio a terreiro
dizer que o Sr. Silva devia ser expulso do partido. Assim,
sem espinhas!
Dois dias depois, Cavaco desmentia tudo, dizendo que nunca
se pronunciara sobre a actual situação política
e que a notícia do Público era uma invenção.
Mesmo assim, não terá mostrado um grande entusiasmo;
o Jardim da Madeira queria que ele fosse mais assertivo,
que ele dissesse qualquer coisa como “vou votar PSD
e espero que tenhamos a maioria absoluta e o Santana é
o meu líder preferido!” Mas o Cavaco ficou-se
por um desmentido quase envergonhado. Ontem, o Expresso
dizia que a notícia do Público fora ditada
por assessores do Sr. Lopes, numa tentativa de obrigar o
Sr. Silva a tomar uma posição.
Tudo isto é ridículo!
Ridícula, também, foi a convocatória
do Sr. Lopes aos jornalistas, na terça-feira de Carnaval,
convidando-os a deslocarem-se a S. Bento, onde os recebeu,
rodeado por alguns dos seus filhos; depois, passeou-se pelos
jardins do Palácio e falou sobre o país. Isto,
depois de ter dito que, no Carnaval, não faria campanha,
porque não achava bem misturar política com
carnavais.
Ridículo! Simplesmente ridículo!
Na sexta-feira foi aquela declaração do Sr.
Lopes, em pleno comício, zangadíssimo, cuspindo
milhões de perdigotos, vociferando com a voz rouca
“que democracia é esta?!”, porque acha
que a comunicação social está a tratar
mal a sua campanha.
Ridículo! Imensamente ridículo!
Quero dizer com isto que o Sr. Lopes só se está
a prejudicar ainda mais com a campanha. Se estivesse quietinho
e caladinho, talvez a malta se esquecesse da palhaçada
que foi o seu governo e, no dia das eleições,
até talvez conseguisse uns votos extra.
Quanto ao Sócrates, a campanha também só
prejudica. Graças à derrocada do governo do
Sr. Lopes, o Sócrates nem precisava de fazer nada
para obter a maioria absoluta. A campanha até é
capaz de o prejudicar. Quanto mais se expuser, quanto mais
discursos proferir, mais hipóteses tem de meter a
pata na poça e deitar tudo a perder.
Portanto – campanha para quê?
Só se for para lembrar que, afinal, aquele senhor
magrinho e alto, chamado Monteiro, até tem um partido,
que acho que se chama Nova Democracia e que o Garcia Pereira
ainda não desistiu do MRPP.
Depois há o operário Jerónimo, que
está a fazer uma boa campanha, afastando de si a
imagem de ortodoxo, dando porrada no PS mas, simultaneamente,
continuando a falar na estafada maioria de esquerda (quando
teve a oportunidade de a ter, preferiu empurrar o Guterres
para o queijo limiano do que deixar passar o Orçamento...).
Talvez consiga que o PCP (como sempre, travestido de CDU
para as eleições) não desapareça
do mapa eleitoral e até consiga uma ligeira melhoria
da votação.
E há o bispo Louçã, o bispo vermelho,
que está a tentar transformar o Bloco de Esquerda
num partido do Estado. A sua verdadeira face mostrou-a,
quando disse ao Portas que ele não podia falar sobre
aborto porque nunca tinha tido filhos! É como dizer
que eu não posso opinar sobre união de facto
entre homossexuais (tema tão do agrado de Louçã)
porque nunca fui para a cama com um homem!
E há o Paulinho das feiras, que continua igual
a si próprio, fazendo de conta que só ele
e os seus ministros é que se safavam na bagunça
do governo do Sr. Lopes. O Paulinho com a sua pose de homem
de Estado, de patriota, de defensor das causas e dos valores
justos. O cinismo ao mais alto nível!
De hoje a uma semana, a malta lá vai votar porque,
apesar de tudo, a democracia é o melhor que se arranja
como regime político e porque, enfim, somos pessoas
crescidas, e já não fazemos o que nos apetece.
Porque se fossemos capazes de fazer aquilo que nos apetece,
muitos de nós iriam riscar o voto de cima a baixo
e escrever algumas obscenidades no boletim de voto, porque
era isso que estes gajos mereciam!
Mas por que raio há tanta gente interessada em
governar esta merda deste país? Será assim
tão bom ser ministro ou deputado de um dos países
mais atrasados da Europa, com um déficit do caraças,
uma produtividade miserável, uma justiça que
não funciona, uma saúde pelas ruas da amargura,
um ensino decadente?
O que faz correr todos estes políticos de pacotilha?
Tantos candidatos para quê? Até a Carmelinda
lá continua, com o seu POUS formado por ela, duas
amigas e um cão coxo! Onde é que anda esta
gente toda durante o resto do tempo? O que pretendem eles?
Depois admiram-se que a malta diga: o que eles querem é
o tacho! É que nós não ouvimos ninguém
dizer que a coisa está difícil e que vai ser
duro conseguir fazer algo de bom por esta merda deste país
e que apenas concorrem às eleições
porque alguém tem de o fazer. Não! Limitam-se
a agitar as bandeirinhas e a pedir o voto dos portugueses!
Sevandijas!...
Sexta, 4 de Fevereiro
O debate –
a parolice dos jornalistas
Tentar imitar os americanos pode ser sinal de parolice.
Foi o que os jornalistas portugueses fizeram, ao adoptar
o estilo de debates entre candidatos à presidência
da República dos EUA, aos candidatos a primeiro-ministro
de Portugal.
O resultado foi aquela tristeza de debate a que assistimos
ontem, entre Bush e Kerry – perdão, entre Sócrates
e Santana.
Depois de 40 anos de ditadura, todos nós rejubilámos
com os debates acesos que a RTP transmitiu entre Soares
e Cunhal, por exemplo. Aquela célebre frase de Soares,
dirigindo-se a Cunhal e repetindo, maquinalmente, “olhe
que não doutor, olhe que não”, marcou
uma época.
Os debates em que os diversos líderes políticos
quase se comiam, falando todos ao mesmo tempo, ignorando
as perguntas dos jornalistas e discutindo como se estivessem
à mesa de um café – esses é que
eram debates!
Agora, o Sócrates sentadinho num canto e, a dois
quilómetros de distância, o Santana, ambos
espartilhados pelas lâmpadas de três cores (verde
– fala à vontade; amarelo – estás
a abusar; vermelho – ou te calas ou levas uma descarga
de 220 volts) – não é debate, não
é nada! Parece um concurso de cultura geral, tipo
um contra todos, ainda por cima, com um prémio final
miserável: ter que governar os portugueses durante
quatro anos!
Em frente aos dois seviciados, os inteligentes: quatro
jornalistas, dispostos como júri de um exame de fim
de curso, os detentores da verdade, os que perguntam em
nome do povo, os que inventaram a pólvora: um debate
sem chama, morno, sem interesse.
Mesmo partindo do princípio que o modelo do debate
poderia ter algum interesse para os portugueses, por que
razão os jornalistas continuam a aldrabar o pessoal?
Dizem eles que a campanha eleitoral, em vez de discutir
os assuntos mais importantes da governação,
se perde em questiúnculas sobre a vida privada dos
candidatos. Estamos de acordo. Nesse caso, por que razão
a primeira pergunta foi sobre as insinuações
de Santana sobre as inclinações sexuais de
Sócrates e, com este tema sujo, se perderam 15 minutos
de debate? Não teria sido mais profícuo ignorar
este tema sujo e ocupar esses 15 minutos com perguntas sobre
a saúde, a justiça e a educação,
temas que nem foram sequer aflorados por nenhum dos candidatos?
No final do debate, os jornalistas eram os mais felizes:
que bem que isto correu, civilizadamente, sem atropelos,
toda a gente conseguiu ouvir as respostas dos candidatos,
foi um êxito! E não há mais discussão:
foi um êxito e acabou-se! Até parece que o
estava em discussão era a capacidade dos jornalistas
em moldar os candidatos, em obrigá-los a respeitar
as regras, em vez de serem as ideias do Sócrates
e do Santana o fulcro da disputa.
E o pateta do Sócrates e o pateta do Santana foram
na conversa! Em vez de rejeitaram as regras americanizadas
dos jornalistas e debaterem à boa maneira portuguesa,
atropelando-se, engasgando-se, não deixando o outro
falar – o que dá sempre azo a gafes, falhas
e à descoberta da verdadeira careca de cada um –
aceitaram o espartilho que lhes foi proposto e protagonizaram
uma grande seca que não serviu para nada.
Quem ganhou o debate? Os jornalistas, obviamente!
Eu já não tinha dúvidas mas, depois
do debate, ainda com menos dúvidas fiquei: os jornalistas
têm os políticos na mão e o próximo
governo será aquilo que os jornalistas quiserem que
seja.
Menos Estado
ou mais Estado
Um dos temas mais discutido nesta campanha eleitoral é
a reforma da administração pública
– eufemismo para a diminuição drástica
do número de funcionários públicos.
Toda a gente vocifera contra o funcionalismo público
e toda a gente depende dele!
No próximo dia 17, os tipos que atendem os telefones
no 112 vão fazer greve porque há não
sei quantos anos que estão a recibos verdes. O que
pretendem eles? Serem integrados nos quadros da função
pública. Será que não são necessários?
Alguém se lembra do tempo em que existiam duas ambulâncias
no 115? Agora, se um tipo está a ter um ataque cardíaco
e se o 112 demora meia hora a chegar, é notícia
de primeira página em todos os jornais. Afinal, o
que querem: mais ou menos funcionários públicos?
Os hospitais estão entupidos com o surto de gripe:
os utentes esperam horas para serem atendidos, não
há camas, não há macas, não
há mãos a medir. No meu centro de saúde,
no mês de Janeiro, foram realizadas quase 8 mil consultas
apenas por 10 médicos. Toda a gente protesta. Afinal,
o que querem: mais ou menos funcionários públicos?
E os processos que se acumulam nos tribunais, e a falta
de inspectores fiscais e de actividades económicas,
e o milhão de utentes sem médico de família,
e a falta de apoio domiciliário a idosos dependentes,
e a protecção civil que não tem meios
suficientes, e a falta de segurança por falta de
polícias?
Afinal, o que querem: mais ou menos Estado? Mais ou menos
funcionários públicos?
Isto é típico dos portugueses: por um lado,
por definição, os serviços do estado
são ineficazes, não prestam e não têm
condições – por outro lado, exigem que
os mesmos serviços funcionem como deve ser porque,
ao fim e ao cabo, pagam os seus impostos e é com
os seus impostos que tudo devia funcionar: das escolas aos
hospitais, da polícia aos bombeiros. Simultaneamente,
fogem aos impostos como o diabo da cruz.
Afinal, o que querem: mais ou menos Estado?
Claro que existe muito desperdício no Estado, que
existem muitos funcionários supérfluos e que,
em muitos casos, o mesmo trabalho poderia ser feito por
metade dos funcionários.
Mas, se se quiser que, pelo menos, a saúde, a educação
e a justiça sejam geridos pelo Estado, há
que contratar mais pessoas, pagar melhor e, depois, exigir
mais desses funcionários.
Ou então, opte-se claramente pela iniciativa privada
– em vez desta treta dos hospitais SA e outras palermices
sociais-democratas à portuguesa.
A Sandra
vende-se!
Esta é uma das vantagens da máquina fotográfica
digital. Andando com ela no bolso, apanham-se imagens destas
e registam-se.
Com que então, a Sandra Simões vende-se?
E vende-se em todo ou em parte?
E quanto custará o todo e cada uma das partes da
Sandrinha?
O que é certo é que a Sandroca não
quer que nos falte nada e dá dois números
de telefone: um fixo e outro móvel, para que não
haja hipótese de não a contactarmos!
voltar ao topo
|