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O Coiso
Um dia destes...

Julho 2005:

Coisas que acontecem

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Domingo, 31 de Julho

Portugueses ajudam Irlanda
Os portugueses gastaram 43 milhões de euros no Euromilhões, quase 50% do jackpot. Uma irlandesa chamada Dolores ganhou o jackpot (cerca de 115 milhões de euros).

Quer dizer: Portugal afundou-se no défice e a Irlanda continua no pelotão da frente, graças à nossa ajuda.

É o nosso habitual atavismo: toda a gente sabe que as nossas contas públicas estão pelas ruas da amargura, para além de estarem erradas, como tão bem demonstraram Constâncio e Campos e Cunha; toda a gente sabe, também, que a Irlanda é exibida como exemplo de sucesso, com um crescimento económico que faz inveja, até à China. Sendo assim, como é que se percebe que os tolos dos portugueses ajudem ainda mais os tosocos dos irlandeses, dando-lhes, de bandeja, 43 milhões de euros?

Comigo, a tal Dolores não se safou!

Apostei apenas 10 euros no Euromilhões e ganhei 9,26, porque acertei em dois números e uma estrela. A gaja só me ficou com 74 cêntimos! Toma!

Sexta-feira, 29 de Julho
Presidente com cheiro a mofo
Eu já tinha decidido o meu sentido de voto para as próximas eleições presidenciais: votar contra Cavaco.

Nunca gostei de Cavaco: nem antes, nem durante, nem depois de ter sido primeiro-ministro. Durante os longos anos em que Cavaco foi primeiro-ministro, nunca conheci nenhum português que afirmasse ter votado nele. E contacto, diariamente, com dezenas de pessoas. Depois do homem se ter ido embora, muitos dizem que o Cavaco é que era bom!

Como podia eu gostar de um tipo que diz “cicartizar”, em vez de cicatrizar?...; como podia eu gostar de um tipo que dizia não se enganar e raramente ter dúvidas?...; como podia eu gostar de um fulano que não sabe ao certo quantos cantos têm Os Lusíadas?...

Portanto, para que o meu voto contra Cavaco fosse eficaz, teria que votar no candidato apoiado pelo PS.

E a minha angústia foi aumentando, à medida que fui percebendo que o PS não tinha um candidato de jeito para se opor a Cavaco.

O Guterres seria um mal menor. Acrescento que também não gosto muito do Guterres. É demasiado católico para o meu gosto...

Mas o Guterres lá foi ajudar os refugiados e safei-me de um voto que me provocaria azia.

O Vitorino também não quis ser candidato e, durante algum tempo, pairou a hipótese de Freitas do Amaral poder vir a ser o candidato do PS.

Decidi que, caso fosse Freitas o opositor a Cavaco, não votaria em ninguém. Seria a primeira vez que faltaria a uma eleição.

Agora, parece que é o Soares que se vai candidatar...

Será uma campanha da terceira idade: Soares já ultrapassou os 80 anos e Cavaco é mais velho que o Mick Jagger. Repito: Cavaco Silva é mais velho que o líder dos Rolling Stones!

Caramba! Não haverá por aí um tipo, digamos, da minha idade, que queira candidatar-se à Presidência da República? Tantos tipos cheios de talento, inteligentíssimos, prenhes de ideias para o nosso país, que têm passado os últimos anos a dar palpites sobre tudo e todos e nem um é capaz de dar um passo em frente e apresentar-se aos eleitores.

Exemplos? Muitos: Miguel Sousa Tavares, Vasco Pulido Valente, Vicente Jorge Silva, Eduardo Prado Coelho, José Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, José António Saraiva, e muitos outros.

Todos com três nomes, não sei se já repararam, enquanto os presidente post-25 de Abril, todos tiveram apenas dois nomes: Mário Soares, Jorge Sampaio, Costa Gomes, Ramalho Eanes.

Até nisso nós ganharíamos: um presidente com três nomes seria uma mais valia para a nação!

Eu também assino com três nomes: Artur Couto e Santos. Também sou inteligentíssimo, tenho muitas ideias sobre Portugal e farto-me de dar palpites sobre tudo e sobre todos. Infelizmente, sou hipertenso e não uso gravata – factos que, como se sabe, me afastam definitivamente da corrida às presidenciais.

Além disso, nunca fui filiado em nenhum partido e custa-me bastante a aceitar fretes. Por exemplo: não me estou a ver a ser Presidente da República e a ter que aturar, por exemplo, o Alberto João Jardim. Nunca seria capaz de me sentar no topo da mesa, numa reunião do Conselho de Estado, com aquele tipo na mesma sala. Ou saía ele, ou saía eu!

Também não seria capaz de estar perto do Valentim Loureiro sem me desatar a rir.

No que respeita a visitas de Estado, não me estou a ver a cumprimentar o meu anfitrião, com movimentos sucessivos de vai e vem da mão, ao mesmo tempo que mantinha o sorriso amarelo, enquanto esperava que as câmaras dos jornalistas disparassem os flashes.

Enfim... lá terei que ir votar no Soares outra vez...

Descer a Almirante Reis
Carlos Cândido dos Reis, apesar dos seus três nomes, ficou apenas conhecido como Almirante Reis, no que respeita à toponímia de Lisboa. Morreu em 1910, aos 58 anos, o deram o seu nome à Avenida que se chamava D. Amélia.

Numa vista geral, a Almirante Reis é uma rua feia, com prédios incaracterísticos de um lado e outro e algumas idiossincracias pelo meio: lado a lado, preciosidades como a fachada do edifício da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, fundada em 1849, e completamente remodelada, e mastodontes dos anos 50 e 60.

Descer a Almirante Reis, começando no Areeiro, é passar por alguns dos sítios de Lisboa com nomes mais sugestivos: Arroios, Socorro, Intendente, Anjos, Desterro (Socorro que estou no Intendente! Que os Anjos me ajudem ou ainda vou parar ao Desterro!...)

Mais ou menos a meio, temos a Fonte Luminosa e o edifício do antigo cinema Império, agora transformado numa igreja Maná, ou coisa que o valha. No topo do edifício, letras garrafais gritam: "Jesus Cristo é o Senhor" (Não, desculpe, Jesus Cristo é o senhor!... Perdão, Jesus Cristo é o senhor!").

Mais abaixo, o antigo cinema Lys está transformado numa coisa chamada Sapatolânida! E, não muito longe do edifício do Banco de Portugal, muitos sem abrigo preparam a noite, com caixotes de cartão.

Depois do eterno bife da Portugália, continuamos a descer em direcção ao Martim Moniz (uma espécie de Picadilly Circus cá do sítio), e começam as lojas de bric-à-brac, que substituem as lojas de móveis.

Uma dessas lojas oferece "artigos para bebé e langerie".

Estranha mistura: biberões e soutiens? Fraldas e négligés? Babygrows e babydolls? Gorros e combinações?

E o que será "langerie"?

Cuecas de lã?

Sábado, 23 de Julho
O avô Presidente
Aos 81 anos, Mário Soares parece que não se importaria nada de se candidatar à Presidência da República.

A candidatura do avô Soares tem diversas vantagens:

Em primeiro lugar, não será necessário inventar novos slogans para a campanha. No que respeita a Soares, todos os slogans foram já inventados, desde "Soares é fixe (o povo que se lixe!)", até "Soares, amigo, o povo está contigo!"

Depois, ninguém se atreverá a vilipendiar um senhor com 81 anos.

Finalmente, os cinco anos de mandato de Soares seriam plácidos e tranquilos: quem teria a coragem de pedir a intervenção do Presidente perante uma nova crise política? Coitado do senhor, deixem-no em paz com a sua próstata...

Sócrates teria, assim, um consulado mais calmo. Mesmo que mudasse de ministro das Finanças todos os 130 dias. O Sr. Marques não teria a desfaçatez de exigir a intervenção do velho Presidente.

Mas o Sr. Engenheiro seria ainda mais beneficiado com a eleição do avô da democracia portuguesa - poderia virar-se para os 700 mil funcionários públicos e dizer-lhes: estão a ver como tenho razão? Querem vocês reformar-se aos 55 anos! Vejam o exemplo do nosso Presidente! O velhote tem mais de 80 anos e continua no activo!

E depois, sempre que houvesse agitação social, bastaria ao primeiro-ministro levar o indicador ao nariz e dizer, baixinho: Schiu! Pouco barulho! Deixem o avôzinho dormir a sesta, coitadinho!...

Sexta, 22 de Julho
Cansado e Cunha
Após 130 dias como ministro das Finanças, Campos e Cunha apresentou a sua demissão, alegando cansaço.

Também não admira: o homem já está reformado!

Isto é o que dá a gerontocracia.

Em vez de apostar em gente nova, cheia de sangue na guelra, o Sr. Engenheiro logo foi escolher um pobre reformado que já se estava a habituar às pantufas e a passear nos transportes públicos com o passe da terceira idade.

Como se sabe, Campos e Cunha (que, apesar do nome, mostrou não valer por dois) trabalhou seis penosos anos no Banco de Portugal e preparava-se para gozar a sua mísera reforma de 8 mil euros mensais, quando o Sr. Engenheiro o desafiou para ocupar a pasta das Finanças.

O homem aceitou - vá-se lá saber porquê.

Tramou-se!

Logo a abrir, o Sr. Engenheiro sacou-lhe dois terços da reforma. Depois, obrigou-o a elaborar um Orçamento rectificativo e um Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Destreinado, Campos e Cunha (que, apesar do nome, não é nenhuma firma comercial), enganou-se nas contas.

Tímido, irritou-se com os jornalistas.

Distraído, pensou que a Ota e o TGV ainda estavam em estudo.

Anteontem, quando acordou, estava cansado. Muito cansado.

Ora, toda a gente sabe que o Sr. Engenheiro não quer ministros com olheiras, bocejando nas reuniões, cabeceando perante os gráficos.

Campos e Cunha demitiu-se e toda a gente o viu, sorridente, acenando para as câmaras, a caminho da sua tranquila reforma.

Um grande exemplo para todos nós!

Terça, 19 de Julho

Jesus Cristo - Comandante do Comandante-Chefe
A Família Calado fez-me chegar, por mail, esta pequena preciosidade: no site da Casa Branca, Jesus Cristo responde às perguntas dos visitantes!

No texto introdutório, Cristo é apresentado como "Comandante do Comandante-Chefe", isto é, do Bush, himself!

Lendo o referido texto, ficamos a saber coisas inacreditáveis sobre Cristo: que nasceu 4 anos antes dele próprio ou 6 anos depois de ter nascido, consoante formos fãs de Mateus ou de Lucas, que é o autor da famosa auto-biografia "A Bíblia Sagrada", que é ele que guia o presidente Bush nas suas decisões e que as únicas pessoas por quem Cristo tem verdadeiro afecto são os cristãos americanos que amam a guerra!!!

Se este texto surgisse em qualquer site de qualquer fanático pró-Bush, não seria de espantar - mas no site oficial da Casa Branca, é demais!

Vale a pena visitar o referido site, não só para confirmar a estupidez que reina na Administração Bush, mas tambem para ler as perguntas que os tolos dos cidadãos americanos fazem e as respectivas respostas do verdadeiro filho de Deus (que, agora sabemos, é americano...)

A morada do site é: http://www.whitehouse.org/ask/jesus.asp

Mas há mais: no texto que reproduzo em baixo, está um link (highway underpasses). Aí chegados, deparamos com um texto da autoria de Lynne Cheney que, mesmo depois de lido várias vezes, continua a parecer inacreditável. A senhora (que suponho ser a esposa do sinistro Dick Cheney), explica aos cristãos americanos por que razão o hímen da Virgem Maria é impenetrável. E tem imagens para o confirmar!

E eu que pensava que era um blasfemo do caraças! Nunca me passaria pela cabeça escrever um texto tão insultoso para com a mãe de Cristo!

JESUS CHRIST: COMMANDER OF THE COMMANDER IN CHIEF
Jesus Christ was born into the family of a poor Jewish carpenter in a small town called Bethlehem in either 4 B.C. or around 6 A.D. (depending on whether you are a Matthew or Luke fan). He spent several years as a travelling preacher before appointing himself the Messiah, and is the author of the best-selling autobiography, The Holy Bible . Today, Jesus discreetly makes his services available only in invisible form, eschewing the showy personal appearances His mother makes on highway underpasses and taco shells for the benefit of easily impressed Catholics. It is He who guides the President's hand in every decision that affects the lives of the only people He genuinely cares about – affluent, conservative Christian Americans who love war. Jesus is pleased to take your questions today, right here on "ASK THE WHITE HOUSE."

Agora que já visitaram o site, o que têm a dizer?

Brincadeira, claro... não que o Bush não acredite piamente em tudo isto, claro...

Sábado, 16 de Julho

As paredes falam verdade
"The words of the prophets are written on the subway walls and tenement halls"
(in "The Sound of Silence", de Paul Simon)


Professora de Desenvolvimento Pessoal
Se tivesse paciência, todas as semanas escrevia qualquer coisa sobre os textos que vêm publicados na revista Xis, distribuída, gratuitamente, pelo Público, aos sábados.

Mas não tenho paciência.

No entanto, no passado sábado, um texto deixou-me tão perplexo, que sou obrigado a comentá-lo.

O texto intitula-se "Desenvolver a auto-estima" e ocupa uma página inteira. A página ao lado é toda ocupada por uma foto de duas senhoras louras e sorridentes: Maria das Mercês Roquette e Maria Ribeiro Ferreira, duas Marias responsáveis pelas chamadas Tertúlias de Auto-Estima.

Nem vou perder tempo a explicar em que consistem estas Tertúlias.

Detenho-me, apenas, nos curriculos das duas Marias.

A que é Ribeiro Ferreira, é "professora de desenvolvimento pessoal, na linha da filosofia de Louise Hay, orientadora da filosofia Conversations with God Foundation e formada em hipnoterapia pelo centro de Formação Potthoff."

A que é das Mercês Roquette "dedica-se há vários anos ao estudo e prática da astrologia, tendo formação na área das terapias das dependências; além disso, tem larga experiência de terapia individual e em grupo e ainda a formação em terapia Corpo-Espelho."

Mas o que é isto?

Cuidado, professor Karamba: as tias começam a invadir o teu espaço, pá!

Sábado, 9 de Julho
"Isto está cada vez pior..."
Para todos aqueles que gostam muito de dizer que "isto" está cada vez pior (sendo que "isto" significa "Portugal"), recordo que, em 1973, a taxa de mortalidade infantil era de 44,8 por mil e que, 30 anos depois, era de 4,1 por mil.

Para aqueles que não percebem bem estas coisas estatísticas, esclareço que o que isto quer dizer é o seguinte: em 1973, em cada mil crianças que nasciam, 44 não chegavam aos 12 meses de vida, enquanto que, em 2003, esse número desceu para "apenas" 4.

A taxa de mortalidade infantil de Portugal é, neste momento, melhor que a da Inglaterra (5,3 por mil).

Repito: na Grã Bretanha morrem mais crianças no primeiro ano de vida do que em Portugal.

A nossa taxa de mortalidade infantil está ao nível da França e dos países do norte da Europa.

Há regiões portuguesas com pior taxa de mortalidade infantil. A Madeira, por exemplo, tem uma taxa de 7,9 por mil. Pelo contrário, nos Açores, as taxa é apenas de 2,9, só ultrapassada, a nível mundial, pela Suécia, com 2,8 por mil.

Portanto, quem acha que "isto" está cada vez pior, deverá falar com os pais das 7 726 crianças que morreram em 1973, antes de completarem um ano de vida.

Alberto Fanfarrão Jardim
O Presidente da Madeira, Alberto João, disse isto:

"Portugal já está sujeito à concorrência de países de fora da Europa, os chineses estão a entrar por aí dentro, os indianos a entrar por aí dentro e os países de Leste a fazer concorrência a Portugal.

Está-me a fazer um sinal porquê? Estão aí uns chineses? É mesmo bom para eles ouvirem porque eu não os quero aqui!"

Quanto a isto, tenho a dizer o seguinte: gostaria de convidar o Sr. Jardim a visitar o Centro de Saúde onde trabalho. Leváva-o ali ao Bairro do Pica Pau Amarelo e deixáva-o no meio da Rua do Moinho. Aí, o Sr. Jardim diria que não queria cá chineses, indianos, ciganos, cabo-verdianos, guineenses, angolanos, moçambicanos, brasileiros, kosovares e ucranianos.

Tenho a certeza de que a próxima paragem do Sr. Jardim seria o Serviço de Urgências do Hospital Garcia de Orta.

Estudos patetas
Todos os dias os jornais e revistas fazem ecos de estudos estatísticos que demonstram as mais variadas e contraditórias coisas.

Por exemplo, na Única, do Expresso, fico a saber que dois hospitais britânicos estão a fazer um estudo para saber se os homens que têm lições de canto ressonam menos que os que não as têm; fico a saber ainda que um grupo de investigadores de Oregon (EUA) chegaram à conclusão que caminhar sobre seixos faz baixar a tensão arterial e aumenta a mobilidade.

Estou a elaborar uma lista destas notícias e daqui a uns tempos estarei habilitado a afirmar que um tipo que não fume, beba apenas leite magro, saiba cantar áreas de ópera, caminhe sobre seixos, veja televisão a preto e branco, coma esparguete duas vezes por semana e mande uma queca de dois em dois dias, terá mais hipóteses de viver até aos 80 anos sem ter nenhuma experiência homossexual.

Mas hoje deparei-me com um estudo igualmente pateta, mas realizado em Portugal.

Titulava o DN: "Portugal: um em cada cinco não lava as mãos"

A notícia dizia apenas isto: "uma em cada cinco pessoas não lava as mãos depois de utilizar a casa de banho, aumentando o risco de transmissão de doenças infecto-contagiosas. Este estudo teve como amostra 150 pessoas de ambos os sexos que utilizam WC nos centros comerciais de Lisboa."

Eis um exemplo da completa idiotice no mundo do jornalismo.

É possível, a partir de um estudo com uma amostra de 150 pessoas, extrapolar para todo o país?

As pessoas (mesmo que sejam de ambos os sexos) que frequentam os centros comerciais de Lisboa, representam a população portuguesa?

Como é possível afirmar que o facto de apenas uma em cada cinco pessoas que usa as casas de banho dos centros comerciais de Lisboa não lavar as mãos, aumenta o risco de doenças infecto-contagiosas? Que doenças? Como chegaram a essa brilhante conclusão? Seguiram essas pessoas e verificaram quais as que contraíram sifilis, toxoplasmose, gripe, herpes zooster?

Há alguns dias, o ministro da Saúde, Correia de Campos, confrontado com o facto de a taxa de infecções hospitalares ter aumentado nos últimos tempos e se ter verificado uma taxa muito elevada no Hospital de S. João, no Porto, não tentou explicar esse facto com as más instalações hospitalares, por exemplo, mas sim com o facto de os médicos não lavarem as mãos entre um doente e outro.

Deve ter-se baseado neste brilhante estudo das casas de banho dos centros comerciais de Lisboa...

Quinta, 7 de Julho
Bombas em Londres
A Al Qaeda atacou em Londres. Quatro bombas, num autocarro e em três carruagens de metro e mais de 50 mortos, com muitos cadáveres por contabilizar.

A reacção é idêntica à que tivemos quando as Twin Towers foram destruídas, ou quando as bombas rebentaram em Madrid. Bali fica longe, o Iraque ainda mais.

Como é costume nestas ocasiões, os comentadores dividiram-se: de um lado, os defensores dos valores da sociedade ocidental, livre e democrática, que simplesmente condena os ataques terroristas, não aceitando que os fins justificam os meios e classificando-os de guerra santa sem sentido; do outro lado, os que pensam que tudo isto seria evitável se os americanos abandonassem a sua política imperialista de invasão dos países árabes.

Claro que tudo isto começou antes da invasão do Afeganistão e do Iraque. Mas não terá começado depois da fundação de Israel?

De qualquer modo, nada justifica fazer rebentar bombas para matar pessoas inocentes, aleatoriamente.

Leio que, em Londres, um em cada dez habitantes é muçulmano. Se as terras dos cruzados são assim tão más, se os seus governos são assim tão pérfidos, o que continua a levar milhares de muçulmanos a escolherem os países ocidentais para criarem os seus filhos?

O fenómeno é complexo demais para se adoptar uma única perspectiva.

No entanto, talvez não fosse má ideia os americanos saírem do Iraque e Israel aceitar a independência da Palestina. Toda a gente sabe que, mais tarde ou mais cedo, isso vai acontecer. Mais vale cedo, que tarde. Depois, logo veríamos qual seria a desculpa para que os extremistas continuassem a colocar bombas nas terras dos cruzados.

Sábado, 2 de Julho
Live 8 e G 8
Em 1985, levantei-me de madrugada para gravar, em betamax, Paul McCartney a actuar no Live Aid. Aliás, gravei o concerto todo. Foi um acontecimento.

Hoje, até me esqueci que estava a decorrer o Live 8.

Ao fim da tarde, liguei a tv e a RTP estava a transmitir o evento. No estúdio, Margarida Pinto Correia e outro menino, recebiam convidados que davam palpites sobre o acontecimento. Quando estavam cansados de falar deles próprios, faziam o favor de nos deixar ver um pouco do espectáculo: um bocadinho de Bryan Adams, Bob Geldof cantando o inevitável "I don't like mondays", Madonna a contorcer-se com o seu novo material vagamente hip-hop...

No estúdio, os apresentadores vibravam sempre que aparecia uma nova estrela: "Oh! Vou-me calar! Vem aí a Angelina Jolie!"

Rendidos às estrelas.

Outro convidado no estúdio: o Gil dos Trovante a dizer que isto é uma coisa muito importante, uma coisa nova, porque é global, é o mundo inteiro... e o apresentador: pois, são 5 biliões de pessoas!...

E eu a imaginar os chefes do G 8 que, para a semana se reunem em Edimburgo: o Blair vira-se para o Bush, dá-lhe uma pequena cotovelada e diz - "É pá, viste aquilo do Live 8? Eram 5 biliões de pessoas! Temos que fazer alguma coisa contra a fome em África!" E o Bush: "Pois temos, e depressa! Caso conrário, o Geldof é capaz de realizar um concerto destes todos os anos e eu já não tenho pachorra!"

Aos portugueses que vão a Espanha fazer compras por causa do IVA:

FIQUEM LÁ!

Sexta, 1 de Julho
Mautemática
Está provado: os portugueses não têm mesmo jeito para a matemática! Todos os estudos demonstram que os nosso alunos são dos piores em contas, em todo o mundo.

Por que razão os nossos governantes haviam de ser diferentes?

O Professor Campos e Cunha enganou-se no orçamento rectificativo. Teve que o rectificar.

Agora foi o Dr. Constâncio que se enganou na previsão do défice. Em vez de 6,83, o défice previsto é, afinal, de 6,72.

Uma pequena diferença que vale, apenas, 151 milhões de euros.

Foi o Público que descobriu o engano e faz dessa descoberta a sua primeira página de hoje. Pena que só tenha dado pela gafe hoje, exactamente no dia em que o IVA subiu mais 2%. Se tivesse descoberto o engano mais cedo, talvez o Sr. Engenheiro não precisasse de aumentar tanto o IVA.

Ora, se o ministro das Finanças se engana nas contas, se o próprio governador do Banco de Portugal não sabe somar umas míseras parcelas (nem com a ajuda do Excel), como podemos nós acusar os pobres alunos do secundário de não pescarem nada de matemática?

Agora a sério: qual é a diferença, afinal? Mais 150 milhões, menos 150 milhões, estamos à rasca na mesma!...

Por que razão eu acho que me devia reformar mais cedo
Em Dezembro de 1977, eu era jornalista da RTP há cerca de três anos e meio.

Ganhava, de ordenado, 15.380 escudos. Foi quando acabei o curso de Medicina.

Abandonei o jornalismo e entrei nos hospitais públicos.

Em Janeiro de 1978, recebi o meu primeiro ordenado como médico: 10.731 escudos.

Foram precisos mais dois anos para, como médico, ganhar tanto como ganhava como jornalista.

Entretanto, andei pelos Hospitais Civis cerca de ano e meio, estive 8 meses a fazer Saúde Pública em Armamar, com a casa e a família às costas, mais ano e meio a cumprir o Serviço Militar Obrigatório, como médico, no Hospital de Évora, mais um ano de Serviço Médico à Periferia, em Mourão, no Alentejo, submeti-me a um exame nacional e, entre milhares de candidatos, tive uma nota que me permitiu entrar no internato da especialidade, onde estive mais três anos, ingressei depois na carreira de Medicina Geral e Familiar, cursei uma Formação Específica em Exercício, fiz mais um exame público e tornei-me assistente de Clínica Geral e, mais tarde, após prova curricular, assistente graduado. Trabalho, há mais de 20 anos, num Centro de Saúde situado num prédio de habitação, três pisos, sem elevador, rodeado de bairros sociais e realizo, em média, cerca de 900 consultas por mês, trabalhando entre 40 a 50 horas por semana; faço consultas de adultos, crianças, grávidas, planeamento familiar, visitas domiciliárias, uma urgência semanal e mais uma urgência de fim de semana ou feriado, quase todos os meses.

Neste momento, com 52 anos e com 31 anos de carreira contributiva (28 dos quais como médico), acho que ganho bem: 4.500 euros ilíquidos.

Quanto ganharão os meus antigos colegas jornalistas.

Os que ainda não estão reformados, claro...

 

 

 




 

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Este é o Coiso do Artur Couto e Santos.
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