Sábado, 15 de Abril
O fumo do tabaco, outra vez
Já estava à espera de alguma reacção, por parte dos leitores do Coiso, no que respeita ao meu texto sobre as normas restritivas que se preparam sobre o fumo do tabaco.
Vamos recentrar a discussão:
1. Concordo que deve ser incómodo, para os não fumadores, terem que aturar o fumo dos fumadores
2. Eu próprio, sendo fumador, não fumo quando estou com não fumadores; não preciso que o Estado me imponha regras - é tudo uma questão de bom senso e de saber viver em sociedade
3. O Estado é hipócrita ao instituir estas regras, porque, noutras áreas, está-se borrifando para a Saúde Pública (por que não proibir que se cuspa no chão, ou que se urine nas esquinas dos prédios, ou que se deite lixo para os baldios, etc, etc?)
4. Quanto ao fumo passivo, a medicina baseada na evidência (mais uma invenção dos americanos, tipo "armas de destruição maciça"), nada está provado e, mais abaixo, transcrevo um mail de António Costa Cabral, que mostra isso mesmo
5. As medidas restritivas antifumo de tabaco não passa de uma moda, essa sim, politicamente correcta. Uma moda também inventada pelos americanos. Existe já uma pequena cidade californiana, onde é proibido fumar em qualquer local, mesmo ao ar livre, desde que, a menos de 100 metros esteja algum não fumador. O mayor apregoa que a sua é a cidade com o ar mais puro do planeta. Escamoteia o facto de continuarem a circular carros na sua querida cidade. O chamado Bible Belt domina a América do Norte e a sua fúria antitabágica está a inundar a fraca Europa, que se curva perante o amigo americano. Esperemos que não chegue até nós a obrigatoriedade de, nas escolas, se ensinar a teoria Criacionista, a par da Evolucionista, como já se faz em algumas escolas norte-americanas...
6. A sociedade civil devia ter a capacidade de, sem a ajuda do Estado, impor as suas regras
7. Se o Estado está verdadeiramente preocupado com a Saúde dos que fumam, activa e passivamente, por que não imita a França e aumenta o tabaco em 50%? Portugal, juntamente com a Espanha, a Grécia e a República Checa, é dos países europeus com o maço de tabaco mais barato. Em França, Inglaterra e Irlanda, por exemplo, cada maço de tabaco custa o dobro, ou mais, do que custa entre nós.
E vamos aos mails que me chegaram, até agora:
"No que me toca, não se trata de saber se tenho 30 ou 70% de probabilidades de apanhar cancro do pulmão por ser fumador passivo.
Naquilo que me diz respeito, trata-se exclusivamente de ter o direito de escolher se quero respirar ar puro ou fumos de tabaco.
E há momentos em que quero uma coisa e momentos em que quero outra. Mas tenho que ter o direito de escolher. Eu e toda a gente.
Ou seja, se eu quiser fumar, devo fazê-lo sem roubar aos outros a possibilidade de usufruírem de respirar ar simples, puro o quanto for possível.
E eu fumo charuto, a versão camionística do tabaco, o equivalente a subir esta avenida com o escape de um autocarro na boca. Mas faço-o ao ar livre, na varanda, na rua, tentando não incomodar os outros.
Acho que as pessoas têm direito a isso. E é sobre isso que esta lei fala. Esta lei não o vai proibir de fumar, nem a mim, nem a si.
Não nos vai penalizar por estarmos, eventualmente, a atentar contra a nossa própria vida.
Vamos continuar a poder decidir por nós, mas sem incomodar os outros.
E é aí que entra o Estado como agente regulador.
É que os fumadores viciados não têm controlo sobre o que fazem, tal como os viciados noutra substância ou actividade qualquer: o vício acalma a mente.
Desse ponto de vista, os viciados são como crianças e, como tal, precisam de um papá que lhes diga o que está certo e o que está errado.
É isso, também, que fazem os tribunais das várias instâncias.
Ou as pessoas agem como adultos, ou alguém tem que intervir.
Se ninguém intervier... é o caos... andamos todos à chapada... como no blog do seu filho."
- Alexandre Pereira, 12 de Abril 2006
Resposta:
Opiniões...
A questão é esta: o Estado é hipócrita; o Estado não está minimamente preocupado com a Saúde Pública (sei do que falo).
Como disse o António Vitorino na RTP, se o Estado quisesse diminuir verdadeiramente o nº e fumadores, bastaria aumentar o preço do tabaco em 50% ou mais. Só que, desse modo, iria perder milhões nos impostos. O único país onde, de facto, houve um decréscimo do nº de fumadores foi a França, onde o tabaco aumentou cerca de 50%, o que levou a uma queda drástica nas vendas.
Neste momento, nos Estados Unidos, começam a surgir tabacarias onde, além de se poder fumar, se podem também comer refeições ligeiras. A chamada sociedade civil tem maneiras de se auto-organizar, sem precisar de nenhum agente regulador.
Só mais uma coisa: o meu pai não era fumador; nunca fumou (apesar disso, morreu aos 56 anos, com um enfarto...); e nunca deixou que eu fumasse à sua frente. Isso não me impediu, no entanto, de começar a fumar para aí aos 14-15 anos. O agente regulador pode ser um fracasso...
O meu colega Fernando Torrinha, enviou este mail:
"Há muito tempo que não fazia comentários ao teu excelente sítio, de que sou visitante certo. Mas desta vez não resisto a meter-me no barulho, sobre o tabagismo.
A tua frase : “Quanto aos chamados fumadores passivos, nada está provado. Não existe nenhum estudo que possa afirmar que fumadores passivos tenham mais hipóteses de contrair doenças do que pessoas que nunca tenham estado em contacto com fumo de tabaco. Pela simples razão de que isso é tecnicamente impossível”, é falsa , cientificamente errada, o que é mais grave afirmado assim gratuitamente por um médico. Anexo-te uma “carta ao Director” que saiu ontem no Publico (ver anexo “Proteger os fumadores passivos”), assinada pelo nosso colega António Vaz Carneiro, clara e baseada na evidência, sobre esse assunto. O António é dedicado à Medicina baseada na evidência, e apoia-se na literatura científica válida. A menos que tb não acredites nesta, mas aí só acreditas nas tuas próprias convicções...
“Aceita-se que cerca de 30% dos casos de cancro podem estar relacionados com o hábito de fumar. E os outros 70%?” Esta frase é desprovida de qq valor científico e é demagógica, básica, talvez mesmo hipócrita. É preciso explicar porquê?
“Em resumo: não existem provas sólidas que justifiquem esta simples decisão - num restaurante, podes beber vinho, mas não podes fumar; podes comer gorduras, mas não podes fumar”. Mas não podes atirar com o prato das gorduras para cima dos outros nem obrigá-los a comê-las, não podes obrigar os outros a beber o teu vinho!! Se esta frase não é demagógica, ou hipócrita, encerra uma grande confusão de conceitos, nomeadamente a confusão entre o conceito de “proteger o fumador passivo” e o conceito da “liberdade do fumador”, que são duas coisas muito distintas e não a mesma.
Esta confusão é propositadamente utilizada pelos defensores do “fumo público” e é idêntica na tua argumentação como na do Vasco Pulido Valente (Público da passada 6ªfeira), na do Miguel Sousa Tavares (várias vezes), na do jornalista Nuno Júdice (ontem na TV). Todos vêm falar da ditadura do politicamente correcto, das proibições em escala, da desresponsabilização do cidadão pelo Estado, do fascismo, do Big Brother, etc, como se alguém estivesse a proibir o fumo pura e simplesmente! Nada disso, a ideia é: fumem à vontade, mas não para cima de mim ! Não há qq proibicionismo, nem qq fundamentalismo, é só a defesa contra a “ditadura do fumador” que quer fumar onde lhe apetece, não importa quem incomoda ou prejudica.
Sobre esse assunto tb anexo uma carta ao Director, esta escrita por mim, e que, por grande coincidência, ou talvez não, foi publicada no mesmo número do Público de ontem (ver anexo “o Fumo Público e outras Liberdades”).
Acredita que não sou fundamentalista, nem me incomodam muito os cigarros. O que eu defendo é poder ir ao meu restaurante preferido e poder saborear a comida sem fumo (agora com a moda dos charutos, nos restaurantes bons é uma praga de ostentação de charutos!), poder ir a um bar e não vir a cheirar a tabaco até às cuecas, e ainda mais importante, desprestigiar o hábito tabágico, para que os nossos filhos (netos...) não sejam tão facilmente atraídos e agarrados como nós fomos.
Por isso, como cidadão, como médico e como pai, preocupo-me e gostava que esta lei fosse aprovada. Os fumadores poderiam continuar a fumar à vontade, menos nos sítios públicos fechados, mas o tabaco ficava consideravelmente mais longe daqueles que o não escolheram.
O contrário, que é fingir que o tabaco não faz mal nem incomoda ninguém, isso é que talvez seja hipocrisia.
Bom, para estar de acordo contigo em alguma coisa, acho tb. de muito mau gosto e provavelmente inútil colocar fotos de anatomia patológica nos maços de tabaco; isso é que não lembra ao diabo!
Espero que com esta polémica o próximo cigarro te saiba a azedo...ah ah "
F Torrinha , 14 de Abril 2006
A resposta a este mail, é dada pelo mail seguinte, sobretudo no que respeita ao chamado fumo passivo e à tal medicina baseada na evidência que, por exemplo, aconselhou terapêutica hormonal de substituição para todas as mulheres e, depois, a desaconselhou.
Quanto à eventual demagogia das minhas afirmações, o meu colega Torrinha tem que compreender que, quando se defende uma posição, temos que utilizar certas figuras de estilo. Já Camões dizia que "amor é fogo que arde sem se ver", e todos sabemos que o amor não é fogo nenhum, não arde e nem sequer se vê. Capice?
No que respeita ao famoso agente regulador, repito: o meu pai nunca fumou e eu fumo desde os 14-15 anos; sempre fumei à frente dos meus filhos (e a Mila também) e nenhum dos nossos filhos fuma!
Segue-se um mail que põe em causa o tal fumo passivo:
"Discute-se, actualmente, se se deve proibir o tabaco nos locais públicos.
Existem muitos estudos que pretendem provar que o fumo dos fumadores faz mal aos não fumadores. Será verdade?
No Google, escrevendo “passive smoking studies” na caixa de pesquisa aparecem-nos + de 400 sites sobre o assunto. A maioria, contrariamente ao esperado, é de sites que levantam a hipótese desses estudos serem falsos ou mesmo com os dados viciados. Em baixo segue uma selecção do conteúdo de alguns.
A maior fraude foi a da Organização Mundial de Saúde que fez um estudo durante 7 anos (1991/1998) cuja conclusão foi: “NÃO É POSSÍVEL ESTABELECER UMA CAUSA/EFEITO ENTRE OS FUMADORES PASSIVOS E QUALQUER DOENÇA.”!!! Estranho é que só um órgão de informação português tenha falado sobre esse estudo!
Para quem fala inglês não será difícil analisar os sites apresentados.
Mudarei de opinião se for efectuado um estudo que analise a influência do fumo do cigarro comparado com o conjunto de todos os outros elementos poluidores existentes na atmosfera exterior e interior começando pelo fumo da queima de madeiras. "
- António Costa Cabral, 14 de Abril 2006
Jonsson Comprehensive Cancer Center , University of California , Los Angeles , California , USA . 2006
Several major meta-analyses have concluded that exposure to environmental tobacco smoke ( ETS ) increases the risk of coronary heart disease ( CHD ) by about 25% among never smokers. However, these reviews have excluded a large portion of the epidemiologic evidence on questionable grounds and have been inconsistent in the selection of the results that are included. We conducted an updated meta-analysis and critique of the evidence on ETS exposure and its relationship to death from CHD among never smokers. Our focus is on the U.S. cohort studies, which provide the vast majority of the available evidence. ETS exposure is assessed in terms of spousal smoking, self-reported estimates, and personal monitoring. The epidemiologic results are summarized by means of overall relative risks and dose-response relationships. The methodological issues of publication bias, exposure misclassification, and confounding are discussed. Several large studies indicate that spousal smoking history is a valid measure of relative exposure to ETS , particularly for females. Personal monitoring of nonsmokers indicates that their average ETS exposure from a smoking spouse is equivalent in terms of nicotine exposure to smoking less than 0.1 cigarettes per day. When all relevant studies are included in the meta-analysis and results are appropriately combined, current or ever exposure to ETS , as approximated by spousal smoking, is associated with roughly a 5% increased risk of death from CHD in never smokers. Furthermore, there is no dose-response relationship and no elevated risk associated with the highest level of ETS exposure in males or females. An objective assessment of the available epidemiologic evidence indicates that the association of ETS with CHD death in U.S. never smokers is very weak. Previous assessments appear to have overestimated the strength of the association.
http://www.ama-assn.org/public/peer/7_15_98/jpv71013.htm
Publication Bias and Research on Passive Smoking
Comparison of Published and Unpublished Studies
http://www.forces.org/evidence/prologue.htm
Furthermore those researchers and the scientific journals that do produce and publish the "wrong" results are burned at the stake of public opinion, as was the case of Enstrom and Kabat and of the British Medical Journal for their study Environmental tobacco smoke and tobacco related mortality in a prospective study of Californians, 1960-98 . That enormous study, which lasted 40 years and examined 118,000 subjects, demonstrated conclusively that the "dangers" of passive cannot be measured . Nearly the entire cost of the study, several million dollars, was funded by the California Dept. of Health and Human Services and the American Cancer Society.
http://www.forces.org/evidence/long-list.htm
THE LONG LIST OF METHODOLOGICAL ERRORS IN THE JUNK SCIENCE OF PASSIVE SMOKE
http://www.fumento.com/disease/passive-smoking.html
http://henrysturman.com/english/articles/passivesmoking.html
Conclusions
There is no reason to assume passive smoking is deadly or even bad for one's health. These are the main reasons for that conclusion:
1. The dose of smoke a regular passive smoker is exposed to is extremely small: about one thousandth of the dose a typical smoker receives.
2. Most passive smoke studies do not find any correlation between passive smoking and disease.
3. Those which do are methodologically invalid - mostly because they are based on a comparison of biased reports of previous passive smoke exposure by people with and without a disease.
4. Even if the methodology were valid, the relative risks found are much smaller (generally 1.2-1.3) than two. Because of confounding factors epidemiologists normally do not consider relative risks lower than two to be evidence of a causal link.
5. Because most individual studies show no link between passive smoking and disease one often uses meta-analyses to arrive at a statistically significant result. But meta-analyses are unreliable, because (among other reasons) the results depend largely on the affiliation of the researchers.
http://www.worldsmokersday.org/ets/
The toxic concentrations in question are infinitesimally small, and epidemiology, already in trouble when it has to prove any disease "caused" by primary smoke, has to resort to really creative interpretations to assess the risks from "passive" smoke. In fact, how can one calculate the damage that toluene , a toxic in ETS , does to you when it takes the smoke of one million cigarettes to reach the legal safety limits of exposure in a sealed room half the size of your bedroom? And, in the same room, how can one smoke 58 and ½ packs a day of Marlboro (without running out of oxygen first ) to reach the safety levels for methylchloryde , which is the toxic with the heaviest presence in "passive" smoke? How can one say that ETS "causes" heart disease, while that cannot even be determined for primary smoke , as over 300 known co-factors exist for that disease? And finally, how can one sustain the statement that ETS "causes" asthma, a bronchial condition that has, literally, tens of thousands of co-factors, when independent studies [1] , [2] keep showing that, as ETS exposure goes down, asthma rates skyrocket?
Parece, portanto que, no que respeita ao fumo passivo, estamos conversados.
Quanto ao resto, que fique claro que aceito calmamente que passe a ser proibido fumar em locais públicos fechados e cumprirei as regras que foram aprovadas, por mais restritivas que sejam.
No entanto, isto não quer dizer que concorde com esta súbita preocupação que o Estado demonstra pela nossa saúde...
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