Para quem nunca soube ou para quem j\u00e1 n\u00e3o se lembra, Deuladeu Martins<\/a> \u00e9 uma personagem hist\u00f3rica, respons\u00e1vel por uma lenda t\u00edpica do engenho e arte dos portugueses em enfrentar as adversidades.<\/p>\n

Deuladeu Martins era a esposa do alcaide de Mon\u00e7\u00e3o, nos tempos em que D. Fernando, o Formoso, lutava contra os castelhanos, que pretendiam anexar-nos. Hist\u00f3ria habitual.<\/p>\n

O alcaide estava fora da cidade quando os castelhanos decidiram atacar. Deuladeu Martins tomou o comando das poucas tropas e resistiu. Ao fim de alguns dias de cerco, os mantimentos escasseavam em ambos os lados. Ent\u00e3o, a nossa hero\u00edna decidiu juntar a pouca farinha que havia na vila e fez meia d\u00fazia de p\u00e3es. Depois, no cimo de uma das torres da fortifica\u00e7\u00e3o que defendia Mon\u00e7\u00e3o, atirou com os p\u00e3es aos castelhanos, gritando: \u00c2\u00abDeus lo deu, Deus lo ha dado!\u00c2\u00bb<\/em><\/p>\n

Os palermas dos castelhanos, vendo tanto desprendimento, pensaram que os portugueses estavam cheios de comida e que, por isso, iriam aguentar mais duas ou tr\u00eas semanas de cerco, enquanto que eles, os atacantes, estavam na pen\u00faria.<\/p>\n

Por isso, levantaram o cerco e regressaram a terras de Castela.<\/p>\n

E o que esta hist\u00f3ria tem a ver com o ex-primeiro-ministro S\u00f3crates.<\/p>\n

Tudo.<\/p>\n

Depois de meses de sil\u00eancio, eis que surge um v\u00eddeo gravado \u00ed\u00a0 surrelfa, em que S\u00f3crates, numa confer\u00eancia universit\u00e1ria, em Paris, diz que as d\u00edvidas dos pa\u00edses n\u00e3o s\u00e3o para pagar, mas sim para se irem gerindo – isto \u00e9, disse, em voz alta, aquilo que toda a gente pensa. Algumas virgens escandalizadas, ficaram muito espantadas com estas declara\u00e7\u00f5es. Caso de Freitas do Amaral que, por sofrer problemas da coluna, deixou de ser ministro dos Neg\u00f3cios Estrangeiros do primeiro governo de S\u00f3crates, mas vai conseguir ser administrador da GALP. Parece que as cadeiras da GALP s\u00e3o mais confort\u00e1veis que as do Pal\u00e1cio das Necessidades. Foi tamb\u00e9m o caso do Paulo Portas, que disse que teve que ler duas vezes as declara\u00e7\u00f5es de S\u00f3crates para as conseguir entender. Claro que Portas\u00c2\u00a0 pretende pagar a nossa d\u00edvida toda, incluindo a dos submarinos que ele comprou…<\/p>\n

Mas n\u00e3o \u00e9 por isto que S\u00f3crates se parece com Deuladeu Martins.<\/p>\n

Hoje mesmo, o Expresso e o I, pelo menos, noticiam que S\u00f3crates gastou 75 mil euros em duas cerim\u00f3nias de apresenta\u00e7\u00e3o do novo museu dos Coches, que nem sequer existe ainda.<\/p>\n

\u00c9 aqui que S\u00f3crates se aproxima da mulher de Mon\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Assediado pelos mercados, com a d\u00edvida soberana a crescer e os juros a subir, S\u00f3crates continuava a esbanjar dinheiro, como se tivesse os cofres cheios.<\/p>\n

Se o tivessem deixado continuar, os mercados acabariam por desistir, tal como os castelhanos o fizeram h\u00e1 s\u00e9culos – e perdoavam-nos a d\u00edvida.<\/p>\n

Porque, meus amigos, as d\u00edvidas dos pa\u00edses n\u00e3o s\u00e3o para pagar.<\/p>\n

S\u00f3crates dixit.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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