Os cr\u00edticos liter\u00e1rios tamb\u00e9m s\u00e3o culpados por grandes barretes por omiss\u00e3o.<\/p>\n
A Clara Ferreira Alves, por exemplo, escreveu um longo texto sarc\u00e1stico a zurzir no novo best-seller<\/em> de Dan Brown, Inferno<\/em>, mas ainda n\u00e3o li nenhuma cr\u00edtica sobre este calhama\u00e7o de Joel Dicker que, segundo diz a contra-capa, foi n\u00ba 1 de vendas em Fran\u00e7a, com mais de 750 mil exemplares.<\/p>\n Pelo contr\u00e1rio, li v\u00e1rios textos mais ou menos publicit\u00e1rios, incitando \u00ed\u00a0 leitura do livro, dizendo que era uma esp\u00e9cie de mistura de Philip Roth, Jonathan Frazer <\/a>e Woody Allen, e que fazia lembrar o mist\u00e9rio de Laura Palmer.<\/p>\n Joel Dicker<\/a> \u00e9 um jovem escritor su\u00ed\u00e7o, nascido em 1985 e, com este livro, arrebatou o Grande Pr\u00e9mio de Romance da Academia Francesa, o Pr\u00e9mio Goncourt des Lyc\u00e9ens e o Pr\u00e9mio da Revista Lire.<\/p>\n Chego \u00ed\u00a0 conclus\u00e3o que a literatura em Fran\u00e7a anda muito por baixo.<\/p>\n No fundo, a coisa n\u00e3o passa de um policial de baixa qualidade, que nos conta a hist\u00f3ria do assass\u00edno da jovem Nola Kellergan. A ac\u00e7\u00e3o passa-se em Aurora, na Nova Inglaterra e qualquer compara\u00e7\u00e3o com Twin Peaks<\/em> <\/a>\u00e9 pura demagogia. Nem a hist\u00f3ria tem a densidade dram\u00e1tica que tinha o mist\u00e9rio da s\u00e9rie de David Lynch<\/a>, nem as personagens s\u00e3o t\u00e3o cred\u00edveis, nem o humor \u00e9 t\u00e3o refinado. Ali\u00e1s, n\u00e3o h\u00e1 humor nenhum. O livro \u00e9 obviamente escrito por um jovem inexperiente com muita sorte ou muito bem apoiado.<\/p>\n Dizer que a escrita faz lembrar Roth, Allen e Frazer \u00e9 o pior insulto que se pode fazer \u00ed\u00a0queles tr\u00eas autores.<\/p>\n Tomem l\u00e1 um exemplo da prosa:<\/p>\n \u00c2\u00abNola pegou-lhe na m\u00e3o e instalou-o no terra\u00e7o. Levou-lhe papel, blocos de notas, canetas. Fez caf\u00e9, p\u00ed\u00b4s \u00f3pera no gira-discos e abriu as janelas da sala para que ele ouvisse bem. Sabia que a m\u00fasica o ajudava a concentrar-se. D\u00f3cil, Harry ganhou coragem e decidiu recome\u00e7ar tudo; p\u00ed\u00b4s-se a escrever um romance de amor, como se fosse poss\u00edvel, ele e Nola. Escreveu durante duas boas horas. As palavras surgiam sem esfor\u00e7o, as frases desenhavam-se na perfei\u00e7\u00e3o, de forma natural, brotando da caneta que dan\u00e7a sobre o papel\u00c2\u00bb.<\/em><\/p>\n Haver\u00e1 coisa mais banal que isto? S\u00f3 lugares comuns, frases feitas.<\/p>\n A infantilidade do texto chega a ser insultuosa, como neste naco:<\/p>\n \u00c2\u00abBloqueio mental, Marcus, \u00e9 o que \u00e9! As p\u00e1ginas em branco s\u00e3o t\u00e3o est\u00fapidas como os falhan\u00e7os no desempenho sexual; \u00e9 o p\u00e2nico do g\u00e9nio, precisamente o que deixa o seu p\u00e9nis completamente mole quande se prepara para brincar aos m\u00e9dicos com uma das suas admiradoras e s\u00f3 pensa em proporcionar-lhe um orgasmo de tal ordem que possa ser medido pela escala de Richter.\u00c2\u00bb<\/em><\/p>\n Brincar aos m\u00e9dicos?!<\/p>\n Mas que raio de escritor de pacotilha \u00e9 este Dicker?…<\/p>\n Enfim, Dicker \u00e9 su\u00ed\u00e7o mas escreveu um romance que se passa nos EUA.<\/p>\n L\u00e1, nos EUA, Dicker podia ser usado como trocadilho, a partir da palavra dick, <\/em>que pode significar pila ou palerma – dick head<\/em>!<\/p>\n \u00c9 o que este rapazinho su\u00ed\u00e7o \u00e9, no fundo… um dick head<\/em>…<\/p>\n E assim nasce um best-seller<\/em>, com a coniv\u00eancia dos cr\u00edticos da nossa pra\u00e7a que, omissos, nada disseram, ainda, sobre este logro.<\/p>\n Ah, a prop\u00f3sito: quem matou a Nola Kellergan foi o Travis, o pol\u00edcia.<\/p>\n Estava-se mesmo a ver…<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Os cr\u00edticos liter\u00e1rios tamb\u00e9m s\u00e3o culpados por grandes barretes por omiss\u00e3o. A Clara Ferreira Alves, por exemplo, escreveu um longo texto sarc\u00e1stico a zurzir no novo best-seller de Dan Brown, Inferno, mas ainda n\u00e3o li nenhuma cr\u00edtica sobre este calhama\u00e7o de Joel Dicker que, segundo diz a contra-capa, foi n\u00ba 1 de vendas em Fran\u00e7a, […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[6],"tags":[924,977,61,533,557],"class_list":["post-5699","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-lido","tag-criticos","tag-joel-dicker","tag-livros","tag-policiais","tag-romances"],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p2Cpjx-1tV","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5699","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=5699"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5699\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=5699"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=5699"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=5699"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/a>Porque\u00c2\u00a0A Verdade Sobre o Caso\u00c2\u00a0Harry Q<\/em>uebert (editora Objectiva, 2013, trad. de Isabel St. Aubyn) \u00e9 um mau livro.<\/p>\n