No ano em que celebra o 400\u00ba anivers\u00e1rio da morte de Shakespeare, Ian McEwan decidiu homenagear o bardo escrevendo uma pequena varia\u00e7\u00e3o a Hamlet.<\/p>\n

<\/a>Trudy est\u00e1 gr\u00e1vida, fim de tempo, e planeia envenenar o marido e pai da crian\u00e7a, de conluio com Claude, irm\u00e3o do marido.<\/p>\n

A originalidade do Nutshell<\/em> (Gradiva, tradu\u00e7\u00e3o de Ana Falc\u00e3o Bastos), \u00e9 que toda a hist\u00f3ria \u00e9 narrada pelo feto que, \u00ed\u00a0 medida que vai contando as perip\u00e9cias da trama, vai fazendo coment\u00e1rios ao inc\u00f3modo que lhe provoca as rela\u00e7\u00f5es sexuais, sobretudo quando a sua m\u00e3e \u00e9 penetrada por Claude, que \u00e9 um bocado bruto e algo est\u00fapido, contrastando com seu pai, editor, livreiro e poeta; o feto descreve-nos tamb\u00e9m as sensa\u00e7\u00f5es que tem quando a sua m\u00e3e bebe uns copos a mais, ou quando ela est\u00e1 ansiosa, ou sonolenta ou excitada.<\/p>\n

Prestes a nascer, o feto divaga, por exemplo, sobre o facto de nascer no Reino Unido:<\/p>\n

“Vou herdar uma situa\u00e7\u00e3o de modernidade (higiene, f\u00e9rias, anest\u00e9sicos, candeeiros de leitura, laranjas no Inverno) e habitar um canto privilegiado do planeta – a Europa Ocidental bem alimentada e livre de pestes. A velha Europa, escler\u00f3tica, relativamente generosa, atormentada pelos seus fantasmas, vulner\u00e1vel aos opressores, insegura, destino de elei\u00e7\u00e3o de milh\u00f5es de infelizes. A minha vizinhan\u00e7a imediata n\u00e3o vai ser a pr\u00f3spera Noruega – a minha primeira op\u00e7\u00e3o devido ao seu gigantesco fundo soberano e \u00ed\u00a0s suas generosas presta\u00e7\u00f5es sociais; nem a segunda, a It\u00e1lia, devido \u00ed\u00a0 cozinha regional e ao decl\u00ednio aben\u00e7oado pelo sol; nem sequer a terceira, a Fran\u00e7a, pelo seu pinot noir e auto-estima confiante. Em vez disso, vou herdar um reino n\u00e3o t\u00e3o unido quanto isso, governado por uma estimada rainha idosa, onde um pr\u00edncipe-empres\u00e1rio, famoso pelas suas boas obras, pelos elixires que usa (ess\u00eancia de couve-flor para purificar o sangue) e pela sua inger\u00eancia inconstitucional, aguarda com impaci\u00eancia a coroa. Ser\u00e1 essa a minha p\u00e1tria, e ter\u00e1 de servir. Podia ter visto a luz do dia na Coreia do Norte, onde a sucess\u00e3o \u00e9 igualmente incontestada, mas onde h\u00e1 escassez de liberdade e de alimentos”.<\/em><\/p>\n

S\u00e3o tiradas destas, da autoria de um feto em fim de tempo, que tornam o livro diferente, j\u00e1 que a hist\u00f3ria em si, n\u00e3o tem nada de especial.<\/p>\n

Curioso.<\/p>\n

Outras obras deste autor: A Balada de Adam Henry<\/a><\/em>,\u00c2\u00a0Mel<\/a>, Na Praia de Chesil<\/a>, C\u00e3es Pretos<\/a>, Entre Len\u00e7\u00f3is<\/a>, Jardim de Cimento<\/a>, Solar<\/a>.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

No ano em que celebra o 400\u00ba anivers\u00e1rio da morte de Shakespeare, Ian McEwan decidiu homenagear o bardo escrevendo uma pequena varia\u00e7\u00e3o a Hamlet. Trudy est\u00e1 gr\u00e1vida, fim de tempo, e planeia envenenar o marido e pai da crian\u00e7a, de conluio com Claude, irm\u00e3o do marido. A originalidade do Nutshell (Gradiva, tradu\u00e7\u00e3o de Ana Falc\u00e3o […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":true,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[6],"tags":[670,61,557],"class_list":["post-7167","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-lido","tag-ian-mcewan","tag-livros","tag-romances"],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p2Cpjx-1RB","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7167","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=7167"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7167\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=7167"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=7167"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=7167"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}