<\/a><\/figure><\/div>\n\n\nEste livro – editado agora pela Elsinore e traduzido por Paulo Tavares e Sara Fel\u00edcio – livro que foi finalista do National Book Award, fala-nos da arte e do pensamento durante a Guerra Fria, com especial incid\u00eancia na M\u00fasica, Literatura, Pintura, Cr\u00edtica, Cinema, Filosofia, entre outros temas. Claro que os Estados Unidos e os seus intelectuais s\u00e3o os mais citados, mas o autor tamb\u00e9m nos fala da Europa.<\/p>\n\n\n\n
Todos os grandes nomes da arte e do pensamento do mundo ocidental figuram no livro.<\/p>\n\n\n\n
Aprendi muito com ele e poderia citar muitos exemplos. Escolhi apenas estes (e j\u00e1 s\u00e3o bastantes):<\/p>\n\n\n\n
Sobre George Kennan, p\u00e1gina 26:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Kennan (historiador norte-americano, cujos escritos inspiraram a Doutrina Truman) acreditava que a forma de governo pouco tinha que ver com a qualidade de vida de uma na\u00e7\u00e3o, admirando as autocracias conservadoras, como a \u00ed\u0081ustria antes da guerra e Portugal sob o regime de Salazar. \u00c2\u00abA democracia, como os americanos a entendem, n\u00e3o \u00e9 necessariamente o futuro de toda a humanidade\u00c2\u00bb, escreveu ele em 1985″\u009d.<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre George Orwell, p\u00e1gina 64:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Orwell\u2026 Era um socialista cujas cr\u00edticas aos socialistas – \u00c2\u00abtoda aquela triste tribo de mulheres de sentimentos elevados, pessoas que usavam sand\u00e1lias e bebedores de sumo de fruta com barba que vinham a correr aos magotes em direc\u00e7\u00e3o ao cheiro do “\u02dcprogresso”\u2122 como moscas varejeiras atra\u00eddas por um gato morto\u00c2\u00bb, como descreveu alguns deles “\u201c podiam ser t\u00e3o mordazes como as de qualquer membro do Partido Conservador”\u009d.<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre a diferen\u00e7a entre os Estados Unidos e a Europa, no que respeita \u00ed\u00a0 educa\u00e7\u00e3o, p\u00e1gina 395:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Em 1955, enquanto 84% dos americanos em idade de frequ\u00eancia do ensino secund\u00e1rio estavam na escola, o n\u00famero para a Europa Ocidental situava-se nos 16%. Em It\u00e1lia, em 1951, apenas 10% de toda a popula\u00e7\u00e3o possu\u00eda mais do que a instru\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria; em 1961, o n\u00famero era de 15%. No Reino Unido, uma na\u00e7\u00e3o com um perfil econ\u00f3mico genericamente compar\u00e1vel com os Estados Unidos, cerca de 17% dos jovens entre os 15 e os 18 anos eram estudantes a tempo inteiro em 1955. Em 1957, apenas 9% dos brit\u00e2nicos com 17 anos ainda andavam na escola.”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre os Beatles, p\u00e1gina 417:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Quando os Beatles apareceram para a primeira sess\u00e3o (Georges) Martin, com o intuito de os envolver no processo, levou-os \u00ed\u00a0 sala de controlo para que ouvissem uma grava\u00e7\u00e3o. \u00c2\u00abSe houver algo de que n\u00e3o gostem, digam-me\u00c2\u00bb, transmitiu-lhes ele. \u00c2\u00abBom, para come\u00e7ar\u00c2\u00bb, disse George, \u00c2\u00abn\u00e3o gosto da tua gravata\u00c2\u00bb.”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nP\u00e1gina 424:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026A longevidade da banda poder\u00e1 ser atribu\u00edda ao puro talento na escrita de can\u00e7\u00f5es, que parece ter evolu\u00eddo \u00ed\u00a0 medida que a base dos seus f\u00e3s foi envelhecendo. Na pr\u00e1tica, os Beatles compuseram num leque de estilos invulgarmente amplo. O \u00ed\u0081lbum Branco (oficialmente, The Beatles), lan\u00e7ado em novembro de 1968 e o trabalho que a banda considerou o seu \u00faltimo esfor\u00e7o de grupo completo, \u00e9 uma mistura de quase doze g\u00e9neros musicais, desde o folk rock at\u00e9 ao blues, passando pela surf music, pelo heavy metal e pelo ska. No entanto, a banda conseguia fazer todas as can\u00e7\u00f5es que tocava soarem como uma can\u00e7\u00e3o dos Beatles.”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nP\u00e1gina 440:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Pela primeira vez, todas as faixas (de A Hard Day”\u2122s Night) eram composi\u00e7\u00f5es dos Beatles, e o surpreendente acorde de abertura da m\u00fasica que d\u00e1 t\u00edtulo ao \u00e1lbum anunciava uma nova aten\u00e7\u00e3o \u00ed\u00a0 musicalidade. Esse acorde, tocado nas tr\u00eas guitarras (a de Harrison era uma guitarra de doze cordas), mais a bateria, com Martin ao piano, e normalmente identificado como um sol de s\u00e9tima com uma nona acrescentada e uma quarta suspensa, mas n\u00e3o h\u00e1 consenso sobre que notas s\u00e3o exctamente tocadas e em que instrumento”\u009d.<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre Henry Miller, p\u00e1gina 505:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Tal significava que o livro estava sujeito a um n\u00famero incerto de acusa\u00e7\u00f5es locais e, no final, houve quase 60 casos em torno de Tr\u00f3pico de C\u00e2ncer por todo o pa\u00eds. Como passara a ser do conhecimento geral, tudo o que a pol\u00edcia tinha de fazer era entrar numa livraria, pegar num exemplar do livro e abri-lo na p\u00e1gina cinco, onde apareciam as palavras \u00c2\u00abmandrilarei todos os refegos da tua cona\u00c2\u00bb, e podia apreender todos os exemplares”\u009d.<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre a segrega\u00e7\u00e3o racial nos Estados Unidos, p\u00e1gina 512:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Em julho, o embaixador das Na\u00e7\u00f5es Unidas da antiga col\u00f3nia francesa do Chade, Adam Malick Sow, encontrava-se em viagem entre Nova Iorque e Washington quando parou para beber caf\u00e9 num restaurante em Maryland, o Bonnie Brae, e recusaram servi-lo. O mesmo acontecera a tr\u00eas outros diplomatas africanos na mesma estrada, a Route 40, mas o embaixador Sow queixou-se pessoalmente a Kennedy e o governador de Maryland, J. Millard Tawes, teve de apresentar um pedido de desculpas p\u00fablico. Kennedy quisera fazer desaparecer o problema – \u00c2\u00abN\u00e3o podes simplesmente dizer aos africanos para n\u00e3o andarem na Route 40?\u00c2\u00bb, perguntou ele a Wofford. \u00c2\u00abDiz aos embaixadores que n\u00e3o aconselho que v\u00e3o de carro de Nova Iorque at\u00e9 Washington\u00c2\u00bb. Kennedy, evidentemente, ia de avi\u00e3o.”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre o poema O Uivo, de Alan Ginsberg, julgado por obscenidade, p\u00e1gina 645:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Os elementos da acusa\u00e7\u00e3o tentaram relembrar ao juiz os casos de palavras obscenas no poema, pedindo a Schorer (o editor) que os justificasse. Questionaram-no, por exemplo, acerca deste verso: \u00c2\u00abO mundo \u00e9 santo! A alma \u00e9 sagrada! A pele \u00e9 sagarda! O nariz \u00e9 sagrado! A l\u00edngua e o caralho e a m\u00e3o e o olho do cu sagrados!\u00c2\u00bb Qual era o valor liter\u00e1rio de tais palavras?”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre a discrimina\u00e7\u00e3o das mulheres nos Estados Unidos, p\u00e1gina 726:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026N\u00e3o obstante, de acordo com v\u00e1rios indicadores, as mulheres americanas estavam numa situa\u00e7\u00e3o pior em 1963 do que em 1945 ou at\u00e9 em 1920. Em 1920, 20% dos diplomas de doutoramento tinham sido atribu\u00eddos a mulheres; em 1963, apenas 38%. A idade m\u00e9dia do primeiro casamento foi baixando: quase metade de todas as mulheres que casaram em 1963 eram adolescentes. Entre 1940 e 1960, a taxa de natalidade de um quarto filho triplicou”\u009d.<\/em><\/p>\n\n\n\nUma curiosidade do cinema franc\u00eas, durante a guerra, na p\u00e1gina 871:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026A estrela de Os Rapazes da Geral (Les Enfants du paradis), Arletty, foi condenada a uma pena de pris\u00e3o por \u00c2\u00abcolaboracionismo horizontal\u00c2\u00bb com um oficial da Luftwaffe. (Arletty teve uma forma de expressar a sua falta de arrependimento: \u00c2\u00abo meu cora\u00e7\u00e3o pertence a Fran\u00e7a, mas o meu rabo pertence ao mundo inteiro\u00c2\u00bb)”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nSobre a guerra do Vietname, na p\u00e1gina 913:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026Quando o envolvimento activo americano terminou, j\u00e1 os Estados Unidos tinham lan\u00e7ado o triplo de toneladas de bombas sobre o Vietname do Norte, um pa\u00eds do tamanho do Illinois, do que as lan\u00e7adas pelos Aliados em toda a Segunda Guerra Mundial.”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nE na p\u00e1gina 915:<\/p>\n\n\n\n
“\u2026A<\/em> miss\u00e3o militar americana foi catastr\u00f3fica a v\u00e1rios n\u00edveis. A idade m\u00e9dia dos militares americanos no Vietname era de 19 anos. (Na Segunda Guerra Mundial, situara-se nos 26 anos). em 1970, cerca de 60 mil drogavam-se, com \u00f3pio ou hero\u00edna, e foram registados mais de 800 incidentes de fragging “\u201c oficiais feridos ou mortos pelos pr\u00f3prios soldados. Meio milh\u00e3o de veteranos sofriam de perturba\u00e7\u00e3o de stress post-traum\u00e1tico, uma propor\u00e7\u00e3o superior \u00ed\u00a0 de qualquer uma das duas guerras mundiais.”\u009d<\/em><\/p>\n\n\n\nLemos este livro todo de enfiada, mas ele tamb\u00e9m pode ser \u00fatil como consulta. Uma empreitada que nos ajudou a esclarecer muitas d\u00favidas e nos deu a conhecer muitos pormenores relacionados com a Hist\u00f3ria contempor\u00e2nea.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Que grande empreitada foi a leitura deste calhama\u00e7o! S\u00e3o 1106 p\u00e1ginas, das quais, 967 s\u00e3o de texto propriamente dito e as restantes, de notas. Menand, nascido em Nova Iorque em 1952, \u00e9 um cr\u00edtico, ensa\u00edsta e pensador, colaborador da New Yorker, professor de Harvard e vencedor de um Pullitzer, em 2002. Este livro – editado […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[6],"tags":[1158,61,1351],"class_list":["post-9310","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-lido","tag-historia","tag-livros","tag-louis-menand"],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p2Cpjx-2qa","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9310","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=9310"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9310\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=9310"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=9310"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coiso.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=9310"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}