Julho
2004:
| Indústria farmacêutica
ataca nos media | Os incêndios
| O calor que dá na televisão
| Santana! Faz-nos rir! | O
novo governo | Santana e o Coiso
|Talvez você não saiba que...
| Atestado para concerto | E
Portugal perdeu a final... | Algumas
verdades sobre Durão Barroso | Portugal,
2 - Holanda, 1 |
Sábado, 31
Indústria
farmacêutica ataca nos media
Há cerca de duas semanas, a revista Tempo titulava
na capa, algo como isto: “Fim da diabetes para os
doentes hipertensos”. Lá dentro, dava-se notícia
de um estudo realizado pela Novartis com o seu anti-hipertensor
Valsartan (Diovan). Segundo o estudo Value, uma percentagem
significativa de doentes hipertensos medicados com Diovan
ficam mais anos livres da diabetes. Como é óbvio,
a diabetes não desaparece. Infelizmente... Sabemos
que os doentes hipertensos têm mais possibilidades
de vir a desenvolver diabetes tipo II, em comparação
com os normotensos – e, se existe um medicamento anti-hipertensor
que conseguiu provar que atrasa o aparecimento dessa doença,
não há dúvida que é uma boa
notícia. O que está em causa, neste caso,
é perceber a razão que levou a revista Tempo
a noticiar este estudo com o Diovan, e não muitos
outros, que estão sempre a ser publicados nas revistas
médicas. Há pouco tempo, por exemplo, foi
publicado o estudo Life, realizado com o Losartan (o Cozaar,
da Merck Sharp & Dome), estudo esse que provou existir
uma significativa baixa de mortalidade por acidentes vasculares
nos doentes hipertensos medicados com a referida droga.
Diz-me a experiência que cada Laboratório
investe num determinado estudo, no sentido de tentar provar
que o seu medicamento tem esta ou aquela vantagem. É
impossível (e muito dispendioso), efectuar um estudo
suficientemente credível que prove que um dado medicamento
tem, digamos, 12 vantagens importantes. Assim, a Merck ensaia
o Cozaar para uma determinada vantagem, a Novartis ensaia
o Diovan para outra vantagem, a Sanofi faz o mesmo com o
Aprovel, a Astra-Zeneca idem para o Atacand. Ora todos estes
medicamentos pertencem à mesma classe: antagonistas
da renine-angiotensina II; é, portanto, aceitável
pensar que o que é verdade para um, é verdade
para todos (embora os delegados de informação
médica digam o contrário, claro, para defenderem
o seu produto...).
Portanto, havendo tantos estudos sobre os mais diversos
anti-hipertensores, estudos que provam coisas tão
importantes para a saúde dos doentes hipertensos,
por que razão a revista Tempo escolheu o estudo da
Novartis. Aliás, não foi só essa revista;
na mesma semana, o Diário de Notícias publicou
uma notícia de meia página sobre o mesmo assunto
e, hás dois ou três dias, a TVI fez o mesmo.
Não há dúvida que a Novartis tem
feito um bom trabalho junto dos jornalistas. E conhecendo
eu, de ginjeira, o que os Laboratórios fazem junto
dos médicos, posso imaginar o que farão junto
dos jornalistas...
As notícias sobre o tal estudo Value foram apresentadas
pelos órgãos de comunicação
social como uma importante descoberta da medicina e os jornalistas
podem sempre justificar-se dizendo que é sua obrigação
noticiar esses eventos. A minha questão é
saber por que razão não noticiam outros estudos
de importância semelhante.
Agora, o que não tem desculpa é o que a
inacreditável revista XIS, distribuída gratuitamente
com o Público, aos sábados, publica no número
de 24 de Julho. Diz assim, na página 32: “Os
doentes que sofrem de depressão podem poupar cerca
de 140 euros por ano com o novo genérico Sertralina
Merck. Trata-se de uma poupança de quase 50% do custo
médio de tratamento, já que com o originador
(Zoloft) gastariam 337,06 euros e com o genérico
apenas 197,22.”
Então, agora já se pode fazer propaganda
a medicamentos éticos na comunicação
social? E por que razão a revista XIS escolheu a
Sertralina da Merck e não outra Sertralina qualquer?
É que há mais genéricos do Zoloft.
Isto cheira-me a esturro...
Sexta, 30
Os incêndios
Depois da época balnear, da época de exames,
da época da caça, passámos a ter, também,
a época dos incêndios.
Neste momento, já arderam mais hectares do que no
ano passado, que foi considerado o pior de sempre. As primeiras
páginas dos jornais publicam fotos dantescas, com
chamas alaranjadas lambendo árvores e casas. Os telejornais
enchem-se de reportagens sobre os fogos, os canadairs e
os helicópteros lançando jorros de água
sobre as chamas, bombeiros correndo de um lado para o outro,
impotentes, rostos de camponeses cobertos de lágrimas.
Audiências garantidas.
Todos os anos é a mesma treta!
Chegou a altura de alguém responder a estas perguntas:
1. É ou não é verdade que alguns incêndios
são provocados pelas empresas privadas que operam
os meios aéreos que combatem esses mesmos incêndios?
2. É ou não verdade que alguns incêndios
são provocados por quem quer atacar as coutadas e
está contra a caça só para elites?
3. É ou não verdade que há incêndios
provocados por madeireiros?
4. Onde estão os incendiários que foram apanhados?
Foram condenados? Eram todos débeis mentais pirómanos
ou actuaram a mando de alguém? Quem os mandou?
5. È verdade que os proprietários continuam
a não limpar as matas e as redondezas das casas,
como é de lei? Já algum foi condenado?
6. È verdade que temos poucos meios aéreos
para o combate aos incêndios? Por que razão
o governo não resolve isso de uma vez por todas?
7. Será que comprar uns quantos helicópteros
e canadairs não é mais barato do que ter,
todos os anos, milhares de hectares de floresta destruída?
8. Por que razão a comunicação social
não denuncia todos estes casos, com o mesmo vigor
com que denunciou os dois casos de mortes no Hospital de
Lagos, após anestesia com um genérico, ou
o caso das criancinhas com pneumonia atípica no Hospital
Amadora-Sintra? Será que a comunicação
social receia perder o espectáculo anual dos incêndios?
Li que o mesmo advogado que embargou a construção
do túnel do Santana, tenciona interpor uma acção
judicial contra o Estado, responsabilizando-o pelos incêndios.
Tem todo o meu apoio!
Domingo, 25
O calor que
dá na televisão
E os órgãos de informação inventaram
o calor!
Em 51 anos de vida nunca tinha estado perante uma onda de
calor oficial. No ano passado, houve uma onda de calor,
mas foi oficiosa, quer dizer, parece que morreram cerca
de 2 mil pessoas por causa do calor, mas foi tudo “off
the record”. Este ano, não! Os jornalistas
conseguiram que a Direcção Geral da Saúde
inventasse uns alertas com cores, como os americanos fazem
com a ameaça terrorista. É bonito, é
moderno e é colorido..
Então, a DGS criou a seguinte escala:
1. Alerta azul – vigilância; beber água
e procurar os locais com sombra
2. Alerta amarela – possibilidade de ocorrências
devidas ao calor; beber água e procurar os locais
com sombra
3. Alerta laranja – forte possibilidade de ocorrências
devidas ao calor; beber água e procurar os locais
com sombra
4. Alerta vermelho – quase certeza de ocorrências
devidas ao calor; beber água e procurar os locais
com sombra
Neste momento, quatro distritos (Beja, Évora, Castelo
Branco e Faro) estão em alerta laranja e quase todos
os restantes, em alerta amarelo.
Qual a diferença?
A diferença está na cor, claro. De resto,
nada mais se passa. É tudo uma encenação
para os órgãos de comunicação
social, que podem abrir os telejornais e fazer as primeiras
páginas com os alertas coloridos. Porque, no terreno,
nos centros de saúde e nos hospitais, está
tudo na mesma, como sempre esteve. Aliás, se não
há pessoal para manter as actividades assistenciais
que tínhamos há uns tempos, como iríamos
agora arranjar pessoal para andar de casa em casa, junto
dos idosos que vivem isolados, para os convencer a beber
água?
Isto é simplesmente ridículo!
A DGS que, no ano passado, ignorou a onda de calor, que
não ligou pevide ao alerta lançado por um
metereologista, que chamava a atenção para
os malefícios do calor (e do frio extremo, aliás...),
este ano decidiu encenar esta coisa dos alertas coloridos,
que fica sempre bem. E quem ouvir os responsáveis
pela DGS fica convencido de que existe uma rede bem organizada
de pessoal ligado à saúde que, no terreno,
está atenta aos perigos do calor extremo, tomando
medidas preventivas. E a verdade é que tudo se passa
como habitualmente.
Sempre houve vagas de calor, caramba! As televisões
enviam repórteres idiotas à Amareleja, para
vermos como vivem esses estranhos portugueses que aguentam
temperaturas de 47 graus. E vemos a velhinha, à torreira
do sol, toda vestida de negro, sorrindo-se desdentada e
dizendo, com o sotaque arrastado dos alentejanos: “já
estou habituada!... aqui faz sempre muito calore!...”
Claro que faz! Vivemos em Mourão durante um ano,
no Serviço Médico à Periferia, cheguei
a fazer medicina privada (muito pouca...) na Amareleja,
em 1980, e bem me lembro da caloraça que suportámos:
o bafo quente que nos atingia quando saíamos de casa,
depois do almoço, para irmos fazer consulta no Centro
de Saúde. Uma brasa! Um calor de ananases!
E agora é que inventaram as ondas de calor?!
Acho muito bem que se tomem medidas para alertar as pessoas
para o perigo das temperaturas extremas – mas não
venham com invenções! Os Centros de Saúde
estão sem pessoal, nomeadamente de enfermagem. No
nosso Centro de Saúde, há mais de um ano que
as enfermeiras deixaram de fazer a sua consulta de apoio
a doentes com diabetes, por falta de pessoal, há
anos que não fazem a medição das tensões
arteriais, por falta de pessoal, com dificuldade se arranjam
para as actividades básicas do centro, a Saúde
Infantil, a Saúde Materna, o Planeamento Familiar,
as injecções e os pensos diários, os
domicílios, o Atendimento Complementar até
às 22 horas! Como poderiam agora organizar-se para
colorir os alertas?
A DGS também criou uma linha telefónica
de ajuda, para este caso particular da onda de calor. Ridículo,
acho eu! Estou mesmo a ver a velhinha que nunca tocou no
telefone e que mora na Amareleja, deitadinha na cama, com
sequelas de AVC, a pegar no aparelho e a ligar para o número
da DGS a perguntar, com a voz empastada: “está
um calor do caraças, o que devo fazer?” Do
outro lado, uma voz competente e profissional, sentenciará:
“procure os locais sombrios e frescos e beba muita
água, minha senhora!” E a velhinha, a contestar:
“eu não posso sair daqui, que estou acamada...
e não tenho quem me chegue uma pinga de água
à boca!...” Então, a DGS envia, imediatamente,
uma equipa de emergência, que está sempre pronta
para qualquer eventualidade: uma ambulância, um auto-tanque
e um enfermeiro-aguadeiro que, em cerca de 10 minutos, dá
de beber à velhinha...
Não brinquem comigo!...
Quinta, 22
Santana! Faz-nos
rir!
Eu bem dizia que ia ser um fartar de rir com o Sr. Lopes
como primeiro-ministro!
Começou logo por dar uma entrevista à SIC,
na qualidade de chefe do governo, na véspera de ser
formalmente nomeado pelo Presidente, o que é deselegante.
E se Sampaio tivesse tido um enfarto, durante a noite, como
aconteceu com a Maria de Lurdes Pintassilgo, que preferiu
morrer a viver num país governado pelo Sr. Lopes?...
Nessa entrevista, começou logo a inventar: que ia
deslocalizar alguns ministérios: o do Turismo no
Algarve, o da Agricultura em Santarém e coisa e tal.
Esqueceu-se que outros já o tinham feito antes, como
foi o caso do Mário Soares, com muito pouco êxito,
aliás. Falou ainda em e- government! Que o seu seria
um governo do século XXI. Palavras ocas! O que quer
dizer “governo do século XXI”? e o do
Barroso, era do século XX? O que a malta quer é
um governo competente – até podia ser com gajos
do século XIX, se ainda estivessem por cá...
Depois, foi a escolha dos ministros: entregar as Finanças
ao PP, escolher o Nobre Guedes para o Ambiente, o Telmo
Correia para o Turismo, o Fernando Negrão para a
Segurança Social, etc.
A seguir foi a tomada de posse. Um discurso arrastado,
chato e cheio de hesitações. E o anúncio
do ministro de Estado, da Defesa e dos Assuntos do Mar,
Dr. Paulo Portas. E o Portas, espantado, virando-se para
o Morais Sarmento e perguntar: “é verdade?”
Como quem diz: também vou ficar com os marinheiros?...
E agora, os secretários de Estado. Em primeiro
lugar, anunciou que o seu governo ia ter mais ministros,
mas menos secretários de Estado que o do Barroso.
Afinal, entusiasmou-se e o governo do Sr. Lopes tem mais
ministros e tem mais secretários de Estado que o
do Sr. Barroso.
E ainda o caso da D. Teresa Caeiro. O Dr. Paulo Portas
disse estar muito satisfeito por ficar com a D. Teresa Caeiro
como secretária de estado da Defesa, porque é
uma pessoa muito competente e coisa e tal. Horas depois,
a D. Teresa Caeiro era anunciada como secretária
de Estado das Artes e Espectáculos – o que,
no fundo, é quase a mesma coisa. Eu sempre disse
que o melhor da tropa eram as lições de dança!
E a provar que este governo vai continuar a ser um fartar
de rir, aí está a primeira página da
edição de hoje do pasquim “24 horas”
– “Tramaram a namorado do Piet-qualquer coisa”,
que é dono da Endemol. Ficámos todos a saber
que a D. Teresa Caeiro é namorada do dono da produtora
de televisão responsável por enormidades como
o Big Brother... e percebemos por que razão foi para
secretária de Estado das Artes e espectáculos...
– afinal, sempre conhece o meio por dentro...
Sábado, 17
O novo governo
O Sr. Lopes apresentou ontem o seu governo e uma coisa salta
logo à vista: apenas três mulheres, rodeadas
por dezassete homens! O Santana está-me a descair!
A excelsa escritora lusa, de nome Maria João Lopo
de Carvalho (tão extenso nome para tão curta
obra...), publica hoje uma coluna no DN, integrada naquelas
secções próprias da “silly season”,
coluna que esclarece tudo o que se passa hoje no nosso país,
graças à nomeação de Pedro Santana
Lopes para primeiro-ministro.
Diz ela, entre muitas outras tolices: “Do cobiçado
Don Juan (ela refere-se ao sr. Lopes, claro...) muita
inveja, Deus me perdoe! Inúmeras concorrentes a primeira
dama a correrem para os 'serviços florestais' para
que ‘suas’ pernas fiquem ainda mais lustrosas
e bronzeadas e ‘suas’ unhas mais fluorescentes.”
Isto quer dizer, segundo creio, que há por aí
muitas gajas que gostariam de dormir na cama do Sr. Lopes,
mas têm que ir à depiladora, sacar os pelos
das pernas.
Escrita de alto nível...
Mais à frente, diz a esbelta escritora: “os
outros esgatanham-se por avionetas com ‘Amo-te Pedro’
por cima de São Bento, pois é sabido que há
uma vaga.”
Uma vaga para quê: para dormir com o Sr. Lopes,
claro!
É assim que está a política em Portugal.
Com discussões sobre quem vai para a cama com o primeiro-ministro.
E o Lopes – que da fama de mulherengo não se
livra – só convida três mulheres para
o seu governo?!
Há qualquer coisa que está a correr mal ao
Lopes...
Apenas três mulheres, pá!?
O resto do governo é uma espécie de salada
russa, com uma clara viragem à direita.
Mas o divertimento está garantido: continuamos com
Portas na Defesa (e vamos continuar a vê-lo, com aquele
ar garboso, a passar revista aos soldadinhos de quem ele
tanto gosta... e também aos marinheiros, porque ele,
agora, também é ministro do Mar!...), vamos
ter Nobre Guedes no Ambiente (ele, que de ambiente, apenas
sabe que é melhor com ar condicionado...) e, claro,
o Sr. Lopes como primeiro-ministro.
Entretanto, a Visão desta semana publica um artigo
em que se traça o caminho percorrido pelo Sr. Lopes,
desde que entrou na política até aos dias
de hoje.
Para além de três casamentos falhados,
que é algo que pode acontecer a qualquer um, eis
os cargos por onde o Sr. Lopes já passou: nascido
em 1956, entra para o PSD aos 22 anos e, depois de apoiar
o regresso de Sá Carneiro ao PSD, é nomeado
adjunto do ministro adjunto do primeiro-ministro, no governo
de Mota Pinto. Fica lá 6 meses.
Parte então para Alemanha, com uma bolsa de estudos,
para se especializar em Ciências Políticas.
Regressa menos de um ano depois, sem acabar o curso.
Torna-se assessor jurídico de Sá Carneiro
até à morte deste. É eleito deputado
e escreve artigos nos jornais, sob pseudónimo, a
condenar o governo de Balsemão e apoia Cavaco. Quando
o Sr. Aníbal chega à presidência do
PSD, nomeia o Sr. Lopes secretário de Estado da Presidência.
Está com 31 anos. Candidata-se a deputado ao Parlamento
Europeu, é eleito, farta-se de faltar às sessões
e regressa dois anos depois, sem ter acabado o mandato.
Cria o PEI (Projectos, Estudos e Informação)
e lança a revista Sábado, com Joaquim Letria
como director. Compra o Record e o Diário Popular,
lança a Radiogest e O Liberal, com Maria João
Avilez como directora; esta é afastada pouco depois,
sendo substituída por Freire Antunes (que fica lá
menos de dois meses), Fernando Seara e Francisco Sousa Tavares.
Da Sábado, afasta Letria e convida Miguel Sousa Tavares.
Pouco depois, desiste da PEI.
Em 1990, Cavaco nomeia-o secretário de Estado da
Cultura, com as consequências que todos sabemos. Em
1994, demite-se, quando percebeu que o cavaquismo estava
a dar as últimas. Concorre à presidência
do PSD, contra Fernando Nogueira e Durão Barroso,
em 1995, e perde.
Torna-se, então, presidente do Sporting, durante
nove meses!
Concorre novamente à presidência do partido,
contra Marcello Rebelo de Sousa, e perde.
Em 1997 ganha a Câmara da Figueira da Foz. Em 2000,
suspende o mandato e candidata-se à presidência
do PSD, contra Durão Barroso e perde!
No ano seguinte, ganha a Câmara de Lisboa, que abandona,
a meio do mandato, para ocupar o cargo de primeiro-ministro.
Vai ou não vai ser mesmo um fartar de rir!...
Domingo, 11
Santana e
o Coiso
O Coiso está na net desde 1999. Há 5 anos
que, quase todas as semanas, coloco um novo Cromo do Coiso
no site, brincando com todos os políticos, desde
o Cavaco ao Guterres, do Ferro ao Mário Soares, do
Durão ao Portas, do Louçã ao Carvalhas.
Ninguém escapa.
Pois só agora, que há três semanas
ando a brincar com o Sr. Lopes, é que tenho recebido
comentários indignados de eventuais apoiantes do
gajo que inventou os concertos para violino de Chopin.
Isto quererá dizer alguma coisa?
Ontem, um tal Aníbal enviou-me um mail muito zangado
com a forma como eu trato o Sr. Lopes no site! Chama-me
canhoto, como se isso fosse uma injúria!
É, no mínimo, curioso...
Então não é verdade que o Sr. Lopes
é um bronco? Não é verdade que o fulano,
agora com 48 anos, tem sempre vivido à custa da política,
sem ter feito a ponta de um corno que mereça um pequeno
destaque que seja na Hsitória de Portugal?
Mas afinal, quem é o Sr. Lopes?
Corre por aí a história do cágado
que foi encontrado em cima de uma árvore. Claro que
alguém o colocou lá – um cágado
não consegue subir a um árvore, sem ajuda.
É o que se passa com o Sr. Lopes: assim, de repente,
“out of the blue”, ei-lo 1º ministro de
Portugal, sem que nada tenha feito para isso – ele
que até, no Congresso do PSD, concorreu à
presidência do partido contra Durão Barroso,
ele que jurou mudar a face de Lisboa, e abandona o mandato
a meio, ele que afirmou publicamente que ia abandonar a
política, depois de ter sido gozado num simples skecth
televisivo, ele que se punha a jeito, há meses, para
concorrer à Presidência.
Mas enfim... uma coisa é certa: vamo-nos divertir
muito nos próximos tempos, com a parelha Santana-Portas
e as suas constantes gafes, quezílias, guerrinhas
internas, populismos bacocos e completa falta de qualidade
e nível intelectual para desempenharem os cargos
que ocupam.
Sexta, 9
Talvez você
não saiba que...
O Benfica de Trapatoni vai jogar ao ataque.
Jardel vai ser o melhor marcador do campeonato.
O Penafiel vai ser campeão nacional de futebol.
Ruth Marlene vai gravar canções de Zeca Afonso.
Paulo Portas tenciona casar-se para a semana.
Ferro Rodrigues vai cortar o cabelo à escovinha.
Marcello Rebelo de Sousa decidiu nunca mais falar em público.
Jorge Sampaio vai iniciar psicoterapia com o irmão,
Daniel.
Pinto da Costa já se inscreveu como sócio
do Sporting.
O preço do barril do petróleo foi fixado em
10 dólares.
Abramovich decidiu passar a ser honesto.
Bill Gates vai dedicar-se à pesca.
Carlos Carvalhas vai deixar de sibilar os “ésses”.
As autarquias decidiram proibir a construção
de mais rotundas.
George Bush vai aderir ao Partido Comunista da América.
Ariel Sharon aderiu à Al-Qaeda.
O Papa João Paulo II vai converter-se ao xintoísmo.
Santana Lopes vai ser primeiro-ministro de Portugal!
Estou feliz com a decisão do presidente!
Quanto pior, melhor!
Quanto pior for o governo, melhor para Portugal.
Afinal, não precisamos de governo para nada!
E convenhamos que um grupo de ministros liderado pelo Santana
Lopes vai ser um fartar de rir!
Portanto, meus amigos, preparem-se para se divertirem à
grande nos próximos meses!
Atestado
para concerto
Os doentes não cessam de nos surpreender. Vinte anos
de Clínica Geral no mesmo Centro de Saúde
e, de vez em quando, ainda acontece algo que nos deixa de
boca aberta.
Este episódio aconteceu hoje, com a minha colega
Júlia que, conhecedora da minha curiosidade por estes
fenómenos, não hesitou quando isto lhe veio
parar às mãos.
E isto era um pedido de um doente dela, nos seguintes
termos:
“Fulano de Tal vem desta forma pedir que a Dra.
Julia Pedro se digne passar um atestado médico por
se encontrar doente e não se poder deslocar ao Coliseu
dos Recreios para assistir ao espectáculo a realizar
no dia 9 de Julho de 2004 pelas 21.30 com o guitarrista
John McLaughlin, o que desde já agradece.”
Um atestado médico para não ir assistir ao
concerto do McLaughlin é algo que nunca me passaria
pela cabeça!
Já passei atestados para fazer ginástica,
hidroginástica, karaté, futebol e demais modalidades
desportivas, declarações para não ir
à Escola, para poder ir à Escola, para regressar
à Creche, para frequentar o Infantário, a
Colónia de Férias ou o acampamento de escuteiros,
declarações de doença crónica,
atestados com a lista de doenças e medicamentos,
cartas de condução, de caçador e de
marinheiro – até já passei uma declaração
para entregar à assistente social, solicitando um
novo esquentador! Mas nunca tive o prazer de passar um atestado
médico para faltar a um concerto de jazz por doença.
A minha colega Júlia é privilegiada!...
Domingo, 4
E Portugal perdeu
a final...
Isto vai por tentativas... Em 1966, a melhor selecção
de sempre, com o Eusébio, o Simões, o Torres,
o José Augusto (enfim, o Benfica e mais uns trocos...),
chegou ás meias-finais e foi derrotada pela Inglaterra,
organizadora do campeonato, e com uma grande ajuda do árbitro.
Em 1984, também não passámos das meias-finais,
graças à França e ao Platini. Há
quatro anos, foi mais uma vez a França que nos lixou
– a França, a mão do pretinho de cabelo
descolorado e a moda do golo de ouro. Este ano, que até
organizámos – dizem – o melhor Euro de
sempre, despachámos a Rússia, a Espanha, a
Inglaterra e a Holanda e fomos soçobrar perante uma
equipa medíocre, tipo Boavista de Jaime Pacheco!
Não há desculpas!
Qual apoiar a selecção até ao fim,
qual carapuça! Aqueles tipos tinham obrigação
de fazer melhor! São profissionais e não podem
falhar nos momentos decisivos! É como se eu, como
médico, cinco minutos antes de fechar a porta do
Centro de Saúde, errasse um diagnóstico por
falta de concentração ou me enganasse no antibiótico
por cansaço!
Não há desculpas!
O Pauleta jogou mal em todos os jogos! Por que razão
foi titular?
O Deco não estava nos seus dias e só sabia
escorregar e marcar livres à raguebi! Por que não
foi substituído pelo Rui Costa mais cedo?
O Cristiano Ronaldo não conseguia driblar os gregos!
Por que não o Simão?
E mais: o Ricardo saiu mal no canto, o Costinha não
saltou á altura do grego e o gajo cabeceou á
vontade. Pronto! acontece! Mas faltava tanto tempo para
acabar o jogo? Quantos mais remates à baliza grega
fez Portugal?
O que aconteceu contra a Inglaterra? A 10 minutos do fim
estávamos a perder. O que fez Scolari? Meteu o Simão
e o Postiga, tirou o Miguel, pôs o Deco a defesa lateral
e conseguiu o empate e, depois, com o Rui Costa, passámos
para a frente. Quer dizer: arriscou!
E contra a Grécia – o que fez? Respirou fundo,
olhou desiludido para o relvado, encolheu os ombros e conformou-se.
Tal e qual como escrevi, na altura do jogo de abertura,
em que os gregos venceram por 2-1, repito agora: Deus é
ortodoxo. Isto é dos livros! Portanto, era escusado
rezar o Pai Nosso antes de entrar em campo – e pedir
ajuda a uma santa com nome de pintor italiano só
lembrava ao brasileiro com nome de italiano...
Algumas verdades
sobre Durão Barroso
No decorrer desta semana vamos saber se o presidente Sampaio
decide, inteligentemente, convocar eleições
ou aceitar a ignomínia de continuar a ser Presidente
de um país governado pelo Santana Lopes.
Independentemente da decisão do Presidente, há
que escrever algumas verdades sobre o Durão Barroso,
primeiro-ministro durante pouco mais de dois anos.
1º - Quando o nome de Barroso começou a ser
ventilado para presidente da União Europeia, ele
não disse logo que não, como o fez o 1º
ministro do Luxemburgo, porque começou a vislumbrar
uma hipótese de se livrar da merda que estava a fazer
no Governo;
2º - Na conferência de imprensa, já
como novo líder da UE, perante inúmeros jornalistas
estrangeiros, Barroso estava feliz, eufórico, nas
suas sete quintas; já se estava completamente cagando
para Portugal!
3ª - Barroso agarrou com unhas e dentes a possibilidade
de fugir desta merda!
4ª - Barroso mentiu a toda a gente (PSD incluído)
quando, no rescaldo da derrota nas Europeias, afirmou que
o resultado eleitoral era um estímulo para que o
Governo continuasse o seu trabalho;
5ª Barroso é um português medíocre,
como tantos outros, que sempre fez a sua vida na carreira
política e é um alívio que se vá
embora para a UE;
6ª O cargo que ele vai ocupar não vale um
caracol, vai ser um pau mandado da Inglaterra, França
e Alemanha;
7ª Alguém sabe quem foi Romano Prodi e que
coisas importantes fez ele na UE?
8ª Não serve de nada ter um português
na presidência da UE ;
9ª Barroso fugiu das suas responsabilidades e está
a tentar convencer o pessoal de que é uma honra ter
sido convidado para presidente da UE, quando ele é
a enésima escolha;
10ª Sampaio será mil vezes burro se não
convocar eleições.
Além de tudo isto, Santana Lopes não existe.
Se for nomeado 1º ministro, Portugal será o
primeiro país do mundo governado por um animador
de discotecas!
Quinta, 1
Portugal,
2 – Holanda, 1
A nossa selecção está a jogar tão
bem que até marca os golos do adversário.
Ontem, Portugal derrotou a Holanda por 2-1 e marcou os três
golos! Na primeira parte, Ronaldo marcou o primeiro, de
cabeça, após canto de Deco; na segunda parte,
Maniche encheu o pé e marcou um dos melhores golos
do Euro; pouco depois, só para apimentar a coisa,
Jorge Andrade meteu a bola na própria baliza, fazendo
um chapéu perfeito a Ricardo, quando tentava cortar
um cruzamento dos holandeses.
E Portugal está na final do Campeonato Europeu
de Futebol, pela primeira vez na história!
Pelo meio, Figo fez um grande jogo e chutou uma bola ao
poste, Pauleta – que parece só conseguir marcar
golos no campeonato francês – falhou dois golos,
sozinho em frente ao guarda-redes holandês e, já
quase a acabar o jogo, Deco, também sozinho em frente
ao guarda-redes, não teve pernas para rematar para
a baliza. Mas foi um grande jogo e, apesar do sufoco dos
minutos finais, com a Holanda a despejar bolas para a grande
área portuguesa, a vitória de Portugal nunca
esteve em dúvida.
Dou a mão à palmatória: a selecção
está a jogar bem, os jogadores estão esforçados
e a dar o litro e o Scolari sabe da poda!
Agora, a histeria em redor da selecção é
qualquer coisa de extraordinário... para além
das bandeiras nas janelas e nos carros, é frequente
vermos pessoas exibindo orgulhosamente com peças
de vestuário alusivas à selecção.
Ainda hoje, veio uma miúda de 20 anos à minha
consulta com boné, camisola, saia e meias com as
cores da bandeira nacional! Ontem, no trajecto que o autocarro
da selecção fez, desde Alcochete ao Estádio
de Alvalade, a estrada estava bordejada por milhares de
carros e de pessoas, cavaleiros, motards e, no rio, ao longo
da Ponte Vasco da Gama, dezenas de barcos. Afinal, o que
é isto?! De repente, ficámos todos com um
amor à selecção que nunca se tinha
visto! Anda tudo radiante, toda a gente diz “até
amanhã e viva Portugal!”, a população
está assim numa espécie de transe que faz
lembrar os dias que se seguiram ao 25 de Abril!
Depois de dois anos de rigor orçamental, de discurso
da miséria e da contenção, do medo
que o déficit nos engolisse a todos, o Euro trouxe-nos
a descompressão.
E depois do Euro, como será?...
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