Naquele dia, ele ia í consulta, mostrar-me as análises que lhe tinha pedido. E ela ia com ele. Como sempre.
Também como sempre, ela fala, ele não abre a boca.
“Como estão as nossas análises?” – pergunta ela, apropriando-se das análises do marido.
Há mulheres que se apropriam dos seus homens.
“O meu marido rompe-me as meias todas!” – dizem, referindo-se í s meias do homem, não í s delas.
Percebe-se: eles rompem as meias e elas é que têm que as coser.
Esta mulher era dessas.
E como haviam de estar as análises: a função hepática, uma desgraça. A Gama GT, acima dos 500.
Uma lástima.
“Pois é!” – exclama ela – “E depois, este homem não me come!”
Já ouvi muita coisa, mas uma mulher queixando-se, abertamente, com esta linguagem, da disfunção eréctil do marido, era novidade.
“Não a come?…” – perguntei, hesitante.
“Sim, doutor. Nem vale a pena fazer comida, que ele não me come!”
Fiquei mais descansado.
E, com 500 de Gama GT, devido í s duas grades de minis diárias, era natural que ele não comesse nada.
Em todos os sentidos…
E depois também há coisas que não abrem o apetite a ninguém. Em todos os sentidos…
:)